“mi corazón es un eterno taller de escritura” – José Carlo, Boedo.
segunda-feira, novembro 29, 2010
Meu querido
terça-feira, novembro 16, 2010
A prostituta babilônica
terça-feira, novembro 09, 2010
Escutemos ao que Angola tem a nos dizer.
Escutava a canção Angola cantada pela Mart'nália enquanto caminhava pela Gavião Peixoto em Niterói. De repente fui acometido por um profundo sentimento de pertença à algo maior que superava qualquer definição de brasileiro, angolano, moçambicano, português. Não quero incorrer naquele papo de que somos todos irmãos numa linda harmonia pois a história nos mostra que as coisas não funcionam assim. Mas sim quero enfatizar essa ideia de pertença. É o mar, o mar que nos une. E que sim, tenho uma ligação com Angola e seu povo, com Luanda, com a sua história. E um compromisso (que poderia dizer político mas é mais que isso) em divulgar em muitos espaços a maravilha das letras de um Luandino, de um Pepetela, Ondjaki, e todos esses escritores desse país. Angola tem muito a nos ensinar. Aos nossos escritores brasileiros. Não há nada mais repugnante como o que conhecemos aqui como Academia Brasileira de Letras. Aquela pompa, aquelas fantasias exageradas e deselegantes, aquele papo de imortal, tudo isso é morto, é contra a criação, exemplifica claramente o elitismo de nossos intelectuais. E vislumbrar um escritor como Pepetela nos faz perceber o quanto os retratos dos imortais na Academia Brasileira de Letras escondem muitos e muitos outros verdadeiros imortais que não precisam de todos esses rituais barrocos e cafonas em nosso país para existirem. Todos os velhos da Academia Brasileira de Letras estão derretendo, suas letras definhando. Enquanto ao ler coisas da união dos escritores angolanos vejo as palavras grávidas, vejo a força de uma vivência que tem muito mas muito a nos ensinar. VIVA A LITERATURA ANGOLANA! VIVA ANGOLA!
quarta-feira, outubro 20, 2010
6 de Agosto en Río
Os versos foram abolidos todos e todinhos e vivemos agora o refluxo daquela vaga conservadora daqueles tempos.
Se tudo é uma farsa farei do Rio o meu cenário inicial, recomeçando o meu holocausto imolando todas as minhas agruras que insisto em conjugar na primeira pessoa atrevida que chegou aqui e deu pra falar eu
Aqui, onde o vento faz a curva, aqui nesse largo tão estrangeiro e tão familiar imolarei o meu cordeiro calmamente sem vontade alguma de me prender a escrita automática ou a deixar fluir a hipocrisia e a passividade do meu motor
Tu que viste todas aquelas letras
Tu mermão que te atreveu a ler o teclado e a desorganizar todas as letrinhas
Tu que brincaste levianamente com Ginsberg agora se dá conta agora se dá conta de que todos os pretos velhos mentiam quando diziam a liberdade que serás também que serás tão bela que serás tão linda
Tu que zombaste da frase es corto pero feliz tu que zombaste da frase final que pronunciaste em teu francês miojônico Aime moi moins, mais aime moi plus longtemps, enrolando a língua beijinho, beijinho tchau, tchau
E agora que fará você sem as suas lindas mais lindas calles canções que te encantam que te cantam que te fazem que te levam assim sem cessar o teu pasaje a tua passagem São Sebastião eternamente flechado na Avellaneda em tarde de fim de maio triste e desolado se eu soubesse não teria sido dessa forma seguir, cruzar a Rio de Janeiro todinha, pois amor, pois amor em Boedo enterrei meu coração e o ofertei a princesa final que da janela chorava as suas lágrimas para mim
E eu as recolhia pouco a pouco sonhando em voltar a gostar de ler com o mesmo tesão de sempre a Clarice Lispector que sentava inquisitoriamente no divã e te observava e te fitava de longe
Deus, se há chance, se há oportunidade, você vai deixar eu tirar o demônio do meu corpo já que estou assim tão distante da Corrientes 4000, Corrientes 4000,
Ouça sentenças breves, Icaraí is changing, the times they are changing but Icaraí ta indo rápido demais, deixa eu correr e tomar o bonde da história que ta difícil e eu não quero mais soprar o meu amor a conta gotas nem a minha vista falida e mal educada cantando-te as mais lindas canções daquela que se chama Mariana
Sonhar toda a vida ou viver todo o sonho sonhar toda a vida ou viver todo o sono pois encostei aqui na 2 de dezembro staring a multidão que passa aflita nessa hora mais delicada do dia, nessa hora que todo mundo tem amor próprio e que os casais mais se amam, nessa hora que não é nem tarde nem noite nessa hora em que a gente tem uma casa nessa hora em que a culpa de existir é uma mera palavrinha nessa hora em que a gente sente mais seja a dor seja a alegria seja a vontade de estar em casa repousando eternamente nos sons de minha samambaia.
Meu amor vou deixar a casa aberta, já escuto os teus passos procurando a chave e nem penses em entrar assim, em abrir a porta do meu coração antes do Miles Davis engasgar no som da minha decência, você torce para que tudo meu dê certo, amor até que ponto a gente se acostuma até que ponto a gente tem vontade de nós mesmos, até que ponto amor, até que ponto meus olhos não são falsos, até que ponto há tanto amor amor, até que ponto o Jardim Botânico está lejos com suas frutas podres, até que ponto o tempo está mudando amor
Poderia inclusive experimentar religião nesse horário e ir assim rastejando até a Igreja de São Sebastião e dividir espaço com elezinho lá todo flechadinho, tadinho, exibindo o seu corpinho assim na praia, com tanto amor com tanta vida
Com tanto amor, com tanta vida loco, Che boludo que me escribís com esse sorriso assim tão lindo assim tão ternamente tão falsamente infantil faz de novo faz, faz de novo para eu te fotografar na cozinha pela última e derradeira vez I am memorizing this room, assim as suas pernas assim as suas mãos tão destras cozinhando assim a tua superioridade eu me prostro diante de ti, eu me prostro diante de ti e vou rastejando até bem depois da ponte voltando assim com a decência entalada na garganta voltando assim até Salvador, até bem depois daquela serra, daquela avenida.
Os dias de tal prosa folgada estão contados, caro amigo, eu vou trabalhar com a questão – jargão de historiador da uff, eu vou trabalhar com a questão dos conceitos, com a idéia de blablablalidade com a idéia de que eu to com uma vontade louca de resetar tudinho e começar assim de novo nos teus olhos o trabalho que o Criador deixou de lado.
Mas de pronto testarei a sua paciência
Leed aquele livro daquela que tem C. no nome.
Sem repetir. Que você acha?
sexta-feira, outubro 08, 2010
Fading
Gostava mesmo era das tardes em que você se fantasiava de rainha sem reino, chorando as mágoas pelo apartamento, cinismo inconsolável distribuía gargalhadas depois que me assustavam. E eu ao teu lado, na pequenez do meu chá que sorvia cabisbaixo sentia que uma distância estranha, sem nome ainda, crescia entre nós. Era pressentimento desses de pesar na barriga, pesar assim fundo chegando a me fazer sentir de alguma maneira mais apaixonado como qualquer enamorado se enamora por um ser que se esvai. O fading imbatível ressaltava as suas cores, os seus traços e os seus gestos mais secretos que da distância melhor se percebia.
Eu acho que eu tomava chá demais na minha indiferença, nos sábados insípidos em que oferecia ao meu amor o meu ser tão apático e incompreendido. Recuperava assim espécies de chamas antigas, temores de apaixonamentos esquecidos no fundo do baú de músicas esquecidas que afloravam de maneira violenta já logo de manhã. Como se ao tornarmos estranhos um para o outro nos permitiamos o leve e doce apaixonamento.
Ingenuidade minha pensar que tudo aquilo era um mero paradoxo, uma contradição ou algo parecido. Comemorava então os avanços de nossas separações, os primeiros beijos no rosto, os cômodos separados, amigos, planos e gostos. Nos admirávamos assim de longe e melhor nos entendíamos. O dia então que de casa saí foi considerado grande avanço, fase séria de uma relação, suposta estabilidade sonhada. Por quase duas décadas nossa relação esteve assim indo de vento e popa no desconhecido, até que a crise começou num fim de semana no mar, o vento nos seus cabelos encontro casual em baixo de uma amendoeira, sorriso envergonhado num copo de cerveja cumplicidade resgatadas em canções comuns de um antigamente muito antigo como quem olha pela primeira vez o sol a se pôr e diz assim baixinho um segundo eu te amo mais jovem e mais bobo eu me resignei e dei por finda nossa relação, oh a dor que me consumia o peito, oh a dor, não sei como me recuperarei disso, desde então os meus dias tem sido assim de suspiros chorados e cada dia mais envergonhados, de sonhar com o segundo amor, de pegar na sua mão como adolescente de primeira hora, pobre menino preso em tuas armadilhas.
sábado, setembro 04, 2010
Platonismo descomplicado
sábado, agosto 28, 2010
Carta para Charlotte que virou poema.
Vagabunda, tu bem sabias que não era pra ser assim, tu bem sabias que o meu sonho era outro e que tudo, tudo o que eu tinha feito tinha a única finalidade de te fazer feliz. Ah, minha dor, como é grande a minha dor, atemporal, feia e absurda. Que ficção o quê, ficção é o caralho, caralho esse que você não tem para se fuder assim bem fundo, sua vadia de merda. Verme infecundo, já limpei a casa toda, joguei fora a sua toalha, seus bibelôs, seu feng-shui de quinta que atolava a minha pobre sala. Troquei fechadura, queimei incenso e rasguei foto. Não direi que sou livre pois agora essas paredes me oprimem, pois agora a angústia das cinco horas da tarde, da tarde que cai, inexorável me deixa assim completamente nua, completamente eu, presa ao meu mais puro de mim, bobinha, tola, abrindo a geladeira, acreditando em essências, chorando com livrinhos de figuras de animaizinhos dormindo, ah por favor, deixe as rimas para mais tardes que carta de amor eu já não consigo mais escrever e não vem com isso não, não vem com isso não, não vem me enfiando a sua piedade goela abaixo meses depois batendo no meu apartamento, tatuagem nova, óculos escuros, novo corte de cabelo e um novo amor na boca, não vem não que eu sou passional, assassina, tenho raiva, ódio e ojeriza, minha querida, indiferença é para os fracos, há paixão aqui nesse sangue, quebro barraco, boto fogo e bato mesmo, bato assim lá no fundo. Não me apareça nunca mais com a sua cara lavada de ser angelical, tenho eu olho mágico pra esquadrinhar a tua espera no batente da porta, no teu suor tímido e ansioso de janeiros sem brisa. Rábica, não faço a linha da megera domada.
Abro a porta fingindo tempo passado, convido pra entrar, disquinho maneiro na vitrola, bebidinha e conversas no sofá
ofídica, rondo o ninho, espero o seu sono
felina mio quieta
canina marco território
humana, copiosamente humana,
te escrevo sonetos, rimas perfeitas, chineses vasos em higiênicos papéis
que limparão de uma vez por toda a sua consciência.
Boba.
sexta-feira, agosto 27, 2010
Carta de um outro tempo
sexta-feira, agosto 20, 2010
ternura envergonhada
Sexta a noite meu bem.
Quero você assim, como quem se prepara para um sacrifício.
Quero banhos demorados onde a sua sabedoria ministra os mais misteriosos óleos
que ungem o seu mais íntimo ser.
Maquiagens que escondem antigos rostos de antigas canções
declamada em batons rubros de fatais eu te amos.
essências secretas de lembranças desorientadoras que ficam no ar
de nucas desnudas em pressas dissimuladas sorrisos enigmáticos que sobem no carro
até você me oferecer assim de bandeja nas últimas taças do jantar um olhar desconcertado
coçando o pescoço decidindo por ficar comigo
para a eternidade toda de uma manhã de sábado
sexta-feira, agosto 13, 2010
Ela partiu
Você.
Retrospective Analysis
The speaker looks back at his past. Ancorado no presente, espiava assim o passado, explicando atônito e perplexo o presente perfeito.
Uma senhora, elegante, madura, exalando aquela autoridade rainha de diva imersa na decadência, atriz anos 30 na solidão de uns 60 obtusos e superficiais. Decadência, ingrediente obrigatório para a sua chegada. Mesa de bar, anéis quadrados, jóias exuberantes, tacinha de vinho encara o interlocutor e o prepara com os olhos - olhos que parecem anunciar risos e prantos - para o que vai dizer:
I have met lots of people.
E eu todo apoiado no discurso, na narração, observo qual anão montado na costa de um gigante as mais longes montanhas, os mais antigos camelos passando pelos mais ínfimos buracos de tantas e tantas agulhas, negros vales e verdes campos de sua vida.
Você não sabe o quanto eu caminhei para chegar até aqui onde eu cheguei dizia ela num tom de voz doce, macio e amargo e eu ouvia agora absorto, presa insignificante presa na teia daquela aranha tipo Ariadne, louca, soltando assim os seus fios por aí, os seus perfumes mais baratos, e os seus sorrisos safados.
Olhe, olhe o que amor fez de nossas vidas.
terça-feira, agosto 10, 2010
love to ease my mind
sexta-feira, junho 18, 2010
São Domingos Blues
Amante homem para sempre diz assim com lábios de saudade amassando o último cigarro e perdendo o seu olhar no horizonte da baía de Guanabara. Com muita classe tira o sapato alto e pisa na areia assim como íntima pescadora distante do ofício por razões mesquinhas.
Apontava então desesperada todas as luzes da baía, paisagens distantes, cantos escuros e declamava então pedaços de poemas e sem sentidos e sambas que pensava antigos.
Um lindo retratinho de felicidade, de derrapada assim em curva dos trinta quando a minha felicidade se marcava pelo compasso dos sábados pela manhã quando a casa já se enchia de flor e você dizia querer cozinhar para mim, para mim mulher tão boa, cara de amante, dançava para ti no que a gente chamava de minha casa e a noite era um prato cheio que a gente deixava para mais tarde e agora por quê? Por quê? Sou a louca das areias dessa praia distante dividindo mágoas de uma baía chorada por lágrimas mesquinhas e verdadeiras, a verdade é tão mesquinha, pensando bem o adjetivo mesquinho tem muitas coisas a nos ensinar, a nós, todos humanos, todos cientes da beleza e da rareza do encontro, do olhar, do sorriso e da vida.
Ah, eu tomo voz mesmo, desbanco narrador, quebro barraco, mato cobra, mostro pau, sou falocêntrica, falocêntrica até o meu último fio de cabelo pois a orgia não tem sentido sem o seu nome ao meu lado sem a sua mão a distância sem as promessas de madrugada
me botaram para ser escriba e fiquei puta, revoltada, saí copiando direitinho a verdade mal humorada por verdade me custar muito caro. Essa noite, eu sou só solidão, que baía que nada, vou de ônibus pra Copa e dou uma de perdida, desolada, desorientada e peço mesa pra uma, canto musica de amor, escrevo poeminha e vou dormir assim como quem cochila na missa.
segunda-feira, junho 14, 2010
Dos Macumbões Sinceros dessa Vida - Parte I
Pois foi mais ou menos assim: eu tinha chegado em casa suadérrima pois você sabe né, final de novembro é aquele desespero horrível, chego toda quente, elevador, espera, repetições vou jogando a roupa pra lá e inventando telefonemas ventilador ligado. Aliás, o ventilador nessa época do ano me dá uma nostalgia doida, uma coisa estranha, uma vontade de usar a palavra circulador ao invés de ventilador e acompanhar aquela melancolia da capinha que fica mexendo mais devagar hipnotizando o meu sono. Pior que isso é papel pardo na janela com tarde abafada... Aí é foda, não dá nem pra tentar bancar a poeta obscura, a poeta sem grana, aquela que vive de seu trabalho intelectual, fico toda suada que termino indo pro chuveiro ou saindo pra rua mesmo, vontade mesmo de estar com alguém tempo nem me sobra pra auto-satisfação ou lamentação ao telefone com as amigas.
Sou realmente uma viada mesmo, pois vou deixando assim promessa na mesa de todo mundo, noite de chopp, tudo isso, mas quando vejo já passou bem depois do tempo e sou só eu comigo mesma e aí meu irmão, é um desespero que eu saio que nem uma zumbi rondando o bairro fingindo casualidades encontrando colegas de longe, acenando e distribuindo coincidências. E se numa dessas minhas saídas encontro quem me dê carinho ou que minta por mais de 20 minutinhos de verdade no ouvido já vou falando da beleza da vida, de disquinho maneiro, de você precisa escutar isso e já vou pegando na mão e olhando pro olho e jurando eterno amor, que fazer, que fazer
Pra depois no dia seguinte chamar o espelho de filho da puta, de cúmplice da minha sorte, da minha sina, pois o nome daquele que roubou meu coração ta guardado nas mais lindas bocas dos sapos e eu fico assim, sendo cada vez mais pudica bancando a indecente, sonhando com as caretices mais lindas, ajeitando o papel pardo corrigindo provas e inventando trabalhos para se fazer ou planos, dietas, simpatias e encontros, guardando em gavetinhas secretas fotinhos e cartas de amor e cheiro de guardado e a tristeza do amarelado e eu cada vez mais trancada no papel pardo cada vez mais escuro cada vez mais abafado quando abro a janela é pra respirar o ar da Mariz e Barros em dia de semana e sonhar com finais de semana com vida além da Conde de Bonfim, praias e praias, ponte, Ponta Negra, Cabo Frio, prainha sincera, cervejinha na praia o mesmo peixinho, celulite sincera e fofocas a mil de fulana que tá com fulano que pegou cicrano e por aí vai e vai e vai.
E eu me desesperando, contendo arrependimento, medo de tomar o caminho de volta, cruzar a ponte e voltar para minha casa, para meu reino, para meu castelo quando chego domingo de noite já sou uma exilada voltando a minha pátria, com ansiedades a mil, telefonemas de domingo de noite, visitas esporádicas, livros intermináveis e choros abafados na madrugada indecente que já tira sua máscara e me mostra a segunda feira nua e crua se insinuando para mim, pobre tijucana, eterna tijucana para sempre com dívidas eternas para sempre passeando meus boleros e meus temas prediletos naquela rua que vai dar no Aterro, naquela rua lá bem longe, lá pertinho da Igreja, da Nossa Senhora da minha Glória prometida desde o início de tudo
Desde o início de tudo
sexta-feira, junho 11, 2010
Lembra?
Seu desejo na minha mão se ardendo e eu quase num transe religioso agradecendo a qualquer deus a existência de gente assim existindo assim comendo de bandeja a noite de verão olhando a nossa cidade tão linda e tão pura.
Você piscava o olho e eu olhava o seu olho tão lindo tão negro tão fundo como eu me orgulhava de tuas olheiras da gente ficar assim acordado até bem mais tarde
E nas sextas feiras você já ficava em casa inventando nudez até a gente decidir um barzinho qualquer para desfilar nossa cara de pau cada dia mais linda
Até os seus olhares para a menina misteriosa me eram belos e não tinha espaço pra dúvida ou ciúme, pois me catapultava no seu olho e ia assim na mesa daquela que de tomara que já caiu há tempos a alça daquela decência ménage a trois bangalou três vezes sem sair de dentro do engenho onde a gente promovia festinhas maneiras
Você se lembra amor?
Se lembra?
quarta-feira, junho 02, 2010
sem antes nem depois
quarta-feira, maio 26, 2010
Remédio Anti-Proustiano
domingo, maio 16, 2010
Para um macaquinho
Ô macaquinho, tão pequenininho.
Que tenho eu para te dizer?
Que tenho eu para te cantar?
Ó pingo de gente,
o lance está em deixar a porta aberta,
o aberto, o indistinto, o comum
Darwin, o nosso pastor, foi só o começo
Ó natureza,
espere um dia em que a linguagem se fará assim
matéria esculpida, em gesto, linhas, e dedos
cansada de fabricar humanidades
espero o dia meu querido
em que os rabos nascerão
e os pelos em abundância
cobrindo nossos braços desproporcionais
testemunharão arrepiados
a abertura das portas do reino dos céus
sábado, maio 01, 2010
Terras distantes e estrangeiras
Eu escrevo sentado aqui dessa terra calma e tranqüila onde o outono já se anuncia pouco a pouco mostrando a sua cara e esfriando qualquer animação minha que tenha a ver com banho nas águas essas de Oxum gringa
Oxum gringa aqui que se veste diferente mas fala talvez pela mesma vogal a mesma língua que São Jorge, São Jorge este que tinha entrado em conluio com São Sebastião e tinha me prometido meses de felicidades eternas e duradouras em cantinho informal da cidade
Mas não estou no Rio de Janeiro e minhas lembranças de lá doem mais quando já faz novembro e o calor é de matar e aqui a solidão dessas duas margens me deixa assim entorpecido me lembrando de tantas outras duas margens
Quando da vez em que apontei horizonte lá no fundo de perder a vista e disse que lá há o outro lado e cantei para mim baixinho que também havia o redentor que lindo
Ao ler então o Rosa e a sua terceira margem fundi a minha cuca e tive vontade de perguntar sobre tudo aquilo que me tirava a calma
Aí fiz análise por um tempo e descobri que sim, isso quer dizer algo mais distante e mais profundo quando um dia
Eu ainda em terras estrangeiras fiquei a gaguejar de frente do meu professor que me ouvia interessado a minha apresentação e minhas idéias sobre os Fragmentos do Barthes
Disse a ele que a melhor forma de falar sobre o livro não é cair em análises ou considerações a respeito e sim juntamente com ele afirmar o discurso do enamorado, suspirando na frente do professor suspirão sincero e bonito e ouvindo dele aprovação da minha idéia que se queria original
Mas não o lance era entregar-se de corpo e alma enquanto havia tempo. Pensar que há muito para se escrever, há muito para se publicar, olhai o exemplo daquele que tinha como sobrenome Soares dizia a voz interior
E então me vestia de armadura para enfrentar o cotidiano e a sua rotina apaixonante ser máquina viver como máquina seguir a vida dessa forma permitindo algumas vezes por mês apaixonar-me com canção, peça de teatro e copinhos de cerveja onde então vislumbrava o futuro brilhante a minha frente pretenso Adonis en train de despir-se completamente no leito de minha amargura
Me convenci que o Brasil sim caminhava para uma maior e mais cínica religiosidade inventei passaportes para carimbar pois em terras de senhor sou exilado convicto
Aí vim a ter aqui nessas terras distantes nem Aruanda nem Uruguai e sim areia de praia que não é branca e com muita gente que não sabe de nada
Assim é muito mais fácil país da Cocanha atrevida sonhando com pintangas e com as noites de Salvador onde fui adolescente e poeta chorando de amor após receber a carta que dizia a verdade final antes pudera eu ter queimado como dizia na canção
Não queimei e li até o fim o amor que se dizia findo e com que misto de vontade e ansiedade recebi aquelas lágrimas que batizei com promessa de cachacinha fortuita passando assim pela Graça por Campo Grande descendo a ladeira da Barra para desembocar-me naquele praia do Porto da Barra mesmo onde não tive pudor em sonhar em ser hippie
Lá chorei e enterrei meu coração com promessa futura de visitas intensas
Nem São Jorge é baiano e fala com sotaque de gringo
Nem São Sebastião me mostrou o amor como era pra ser
Leio Ovídio. Como quem espera uma solução. Safo também. Sofro por Abelardo e Heloísa e brinco de Julieta em frente ao espelho.
Momento vai momento vem eu aqui nesse meu exílio penso em escrever carta assim sincera e longa
Então como mulher de Atenas começo a bordar cartinha sincera que depois desbordo em poesias que guardo em muitas caixinhas
Ainda seguirei o exemplo de Ariadne.
Ou então sim, pararei de sofrer, exorcizando e chutando as macumbas de Eros
Nos meus sonhos mais lindos
quinta-feira, abril 22, 2010
DESEJO.
Escrevesse assim o seu tamanho, a sua vontade em linhas longas e sofridas?
Ou em palavras quais raios de sol?
Ou em cheiros?
Ou em letras, elas mesmas cínicas, elas mesmas ingênuas, cordeirinhos esperando o fim do mundo?
Meu desejo é do tamanho do mundo.
E a felicidade, essa sim, coadjuvante
Do admirável
Mundo
Teu.
quinta-feira, abril 01, 2010
limonada suíça
Porém tais devaneios não passam de estratégias burras para driblar o texto. O texto assim que me denunciava, que denunciava todo eu trabalhado no proust sem madalenas, sem perfumes de avós, sem cheiro de longe.
É que até o calor é tolerável. E sendo o calor tolerável, sendo a memória assim tão branda, eu posso até dizer que são dias de universalidade, dias do todo perdido, da saudade junto com a pessoa, dias em que o abraço era assim completo.
Materialista imperfeito, caí no conto da carochinha, no meu mundo o corte é profundo. E nem me chamo qualquer nome nem sou rosa como outra.
É que ela, ela toda trabalhada na classe fingia sorver assim limonada suíça do alto da mesa.
Safada e piranha sorvia aquilo como chupava seus amigos.
Puta.
terça-feira, março 16, 2010
vênus na casa 4
segundo a minha amiga, ser de peixes com ascendente em câncer é bafo. lua em câncer então nem se fala. daí ela veio com sinastria boladona, revirando gavetas, desejos e paixões. Fiquei triste e consternado ao notar lá no fundo da gaveta o único signo sozinho, sem lua, sem sol e sem hora. Pensei em vênus mangalando três vezes meu medo mais cínico matando mais um Deus dentro de mim.
quinta-feira, março 11, 2010
Samambaia
A bela dama que cantava canções de amor. Tão bela. Morreu ela. Coitada.
Deixa eu começar pela samambaia. Deixa eu explicar direitinho o que ela representava. Abundância. Era assim, tão abundante, vistosa e alegre, verdadeira anfitriã da casa denunciando sua presença escandalosa e silenciosa, um exagero de verdes, verde forte, verde claro, verde branco e verde negro. E eu tão tímido... Eu tão tímido esperando as portas se abrirem, segurando firme o presente embrulhado com carinho, ofertando todo o meu ser no beijo do encontro, na sua sala, na sua vida pensei finalmente em catarses e declarações. A samambaia, milenar, sábia, me fitava de longe e ria com esmero de gente velha e sabida que deixa escapar assim aquele fiozinho de juventude bem vivida. Dos primeiros cigarros aos beijos demorados esperei confessar uma vida. Não queria eternidades, estava farto de pequenas eternidades em tardes tão sonhadas. Queria a sua pressa ofertada nua e crua, o seu olhar perdido nas chaves da casa, o som da noite lá fora insinuando para nós a sua música.
terça-feira, março 02, 2010
quinta feira de cinzas
Mas as vezes a felicidade bate assim. Mesquinha. Repentina. Pobre e suja. E eu, desorientado saio assim a escrever as mágoas em momentos de felicidade forte.
Não quis que você fosse embora. Odeio a palavra saudade.
Até o som da batucada é ruim sem você
sem beijo ardente
sem nada.
terça-feira, fevereiro 23, 2010
Ao lirismo
Aí eu penso que os teus brasis ficaram para trás. Assim como as tardes de calor da baía e a travessia do vai e volta, vai e volta. A barca do leva e traz. A barca do inferno. O amor em conta gotas. Lembro-me da despedida de longe assim como se a baía fosse um oceano, um oceano chamado Guanabara.
O sono esse eu finjo bem. Assim como o sonho. Às letras eu reservo mais que desprezo interessado. Garantia da angústia final, nota de mediocridade ao pé da página.
Daí então o deserto não tinha fim. Era linha reta que ligava assim o nada ao lugar mais nenhum de todos. E eu chorei choro verdadeiro no deserto. É que estava assim tão de noite e tão tão frio que pus o livro de lado e chorei em ombro amigo.
É curto, mas é feliz.
Dizia o deserto de longe. E eu que não acreditava em desertos assim saí a escrever oásis para melhor beber a minha sede.
Saudades.
Vê se escreve.
domingo, fevereiro 07, 2010
donde estabas tu
Es en esta lengua misma que voy a narrarte las cosas que me pasan o finjo o imagino me pasar. espero que no te importes con los posbiles portunõles que encontres en este texto. ya está. Tuve ganas tremendas de escribirte y contarte las cosas. Más que eso. Quiero contarte, quiero narrarte con mi escritura, apoyo este que imagino ayudarme a soportar estos días. El calor, ya te dije, es algo muy fuerte, y el arbol de mango afuera me ayuda un poco a inventar algo de poesía a todo eso. todo acá tiene un olor a viejo, a tiempo, a casa que fue, a casa que está, las paredes estas me parecen tan bellas, tan cansadas, todo eso.
Las ganas que me dan son de pintar los días mas bellos, el día bello que un día me fue reservado a tu presencia cuando yo caminaba así tan ajeno por aquellas calles tan distantes ahora. No quiero consideraciones sobre el tiempo, quiero simplemente dejarme llevar por la intermporalidad, por la lengua sin acabamiento algun, por el flujo constante de mis manos, por el ego este que quiero lejos, que quiero reemplazado por la voz de Omara la mujer esta de Cuba que me apresentaste cuando una vez te pedí una canción bella, una canción que fuera que me trajera así de pronto todo lo que siempre pensé querer en estos ultimos años.
Todo me viene así con estos verbos, pensar, imaginar, recordar, todo eso. Vos bien sabés que a mí no me gustan muchos estos momientos. Pero ahora que la distancia se hace amiga del olvido yo simplemente me dejo llevar por la estetica del momento. no, no quiero lluvia, tampoco quiero un fin para este verano, el más fuerte de mi vida, el más serio de todos.
Ayer, mientras volvía de la playa, me dio una cierta tristeza, una tristeza sin recuerdo, un nido así de nada, un espacio así sentimental... y por ahora las calles estan desiertas por las dos horas de una tarde desierta. nadie en las calles, ni perros, solo coches que van, que vienen, sin musica, sin nada.
Bueno, acá estoy solo. Pero increíblemente lleno de ti.
Nos vemos.
sábado, janeiro 30, 2010
Track 1
O tempo eu invento para mim.
Mas ainda tem muita frase no meu caminho.
Muita roupa que finjo vestir para enganar você.
Entre nós,
o mundo.
segunda-feira, janeiro 18, 2010
O Narrador
Levando em conta as últimas observações venho por meio desta dizer que o sol brilha mais bonito com literatura sincera. Vontade de discorrer em mesa de bar, em ouvido alheio sobre a figura da felicidade, a figura amada, o momento mágico.
Viver pela milésima vez sentimento que pede sinceridade. Escrever um livro, escrever poesia, escrever um suspiro.
A nossa personagem. A nossa personagem vive apaixonada. Alterna apaixonamentos com momentos de razão comportada. Afoita. Procura. Vai em busca.
A busca definida. A busca indefinida. Elementos que o narrador chafurda na lama das lamúrias dos pesares de tantas e tantas e tantas palavras.
Eu te amo no meu milênio.
Considerações acerca de sua camiseta preta. A sua camiseta preta é o máximo, é o quente, é o estouro, é tudo, é bafo. A figura que passa. Quando você passa na minha frente e não me vê eu finjo olhos que não existem e vou te seguindo assim passando atestado de besta passando atestado de experimentador, de anjo mais que exterminador, experimentador de vontade de cair no mesmo erro, de morder na mesma afta de morder na mesma dor.
Poeta se ressente pela metáfora mal feita. Num mundo de emissão e recepção quem tem metáfora tem pressa.
Tudo mentira! Tudo mentira a farsa da literatura. Ela escreve a dor diária, do absurdo, do acordar do sem sentido. Pedidos sinceros pela volta do universo o que eu faço com a minha dor que não cabe em mim, em meu saco em minha vontade de vida vontade de falar com o Bernardo Soares e perguntar a ele o que ele faria se eu chegasse assim no seu escritório e por trás te admirasse por longos dois minutos a rotina no seu mais vivo tédio no seu tédio mais nu
o tempo passa.
Pois é, antes de mim, aquele, aquele que nunca emigrou para aquele outro lado.
As pessoas gostam de plagiar seu sorriso (volta o narrador em posição de mesa de bar e cigarros blacks, pretos, dignos, clean) eu, quando pego alguém plagiando seu sorriso, fico assim com o coração aos pulos de alegria triste, alegria vazia o passado é pequeno demais para se viver.
Poeta confessa verdade que mãe Diná escondia:
ou a sua felicidade de volta em três dias ou um fio de cabelo no seu palitó ou a vez em que eu corri demais ou da vez em que o verbo no passado não me deixava triste e o presente era tão grande e tão bonito que parecia assim, casa desconhecida, onde a felicidade fazia parte da decoração.
Decoração do texto. Narrador com vícios fortes. Explorá-los. Função da crítica : chorar dor alheia, tecer considerações, confirmar felicidades, homenagens
Roubar beijos. Beijos roubados, declarações de amor roubadas
cheques sem fundo cheques sem noção do valor de um milhão do valor de te amo do fundo do meu coração
Narrador se censura calando alto com cachaça que coração tem fundo
terça-feira, janeiro 05, 2010
Requiem
Eu não pedi para você ir embora. De maneira nenhuma. Minha dor é coisa que vou guardar aqui comigo quando eu lembrar do teu sorriso. É que eu tava tão apressado, tão egoísta nas minhas coisas que não vi assim o adeus do teu sorriso e a sua maneira delicada de existir quando você ontem veio ter comigo. Assim tão viva.
E esse texto é mero subterfúgio estúpido, tentativa vã de sarar assim aquilo que parece ficar doendo para sempre. Cantar para você eu queria, ou mostrar assim que daquela vez em que te tive perto de mim foi pra mostrar assim o carinho que sempre existiu mas ultimamente pouco falou.
Mas eu chamo a nossa condição de perversa pois não entendo realmente o porquê disso tudo que ocorre, pois não entendo o motivo disso tudo qual criança insensata que penso verdadeiramente ser.
É que eu fui te velar assim timidamente. Assim cinicamente embaixo do sol do verão parei para olhar o que já não existe, parei para enxugar o que ainda existia de ti. Parei para limpar assim pela casa o que ainda havia de mais puro, o que ainda havia de mais belo e parece escapar das nossas mãos.
Enxugando o pano então eu me dei conta de que você se ia, de que você já não mais estava, de que eu não tive tempo de te dizer adeus, de que já não me restava nada e de que nada que eu fizesse iria me trazer você de volta.
Minha humanidade mesquinha
não vale nada
nem seu sorriso
nem seu olhar
nem sua vida
tão frágil.
te amo.