quarta-feira, novembro 07, 2007

Índia Índie - Poética descolonizada

Esclarecimentos acerca do que se segue : Depois de lido o Me Segura pousou em mim inspiração fatalista. E a escrita correu natural como barca que corre na baía de Guanabara. A sinceridade se impôs como grande figura do ano. Dedico então ao Waly uma forma de plágio imagético e estético. Deturpação das palavras nada mais valem. Mas é preciso escrever o quanto antes. É preciso cantar.


O desejo.

Ouve-se a canção que diz: "Ele já não gosta mais de mim, que pena..."

A voz que altiva se levanta se sobrepõe ao som da Gal cantando. A voz comanda um jogo de palavras feito de cacoetes e outras coisas segunda-mão:

"Quando dois corações se amam de verdade
Não pode haver no mundo maior felicidade..."

Interrupção da declamação da poesia quando o poeta, de chinelo e camisa rasgada, vai tomar água e ir ao banheiro.

Na rua o desejo. Na casa o desejo. Na vida o desejo. Tudo desejo. No desejo o desejo. Plagiando o texto do Ionesco onde o fogo pega fogo.

O desejo e o impulso de Eros.

Poeta confessa: “uma vez tive orgasmos só de ouvir teus versos. Eu os imaginava concretos e apalpáveis e através deles experimentei o que posso chamar de orgasmo literário.”

"Versos que fedem a mais retinta erudição de trezentas punhetas diárias"

- Cena do Capital todo esporrado pelo intelectual doentio que divide a mão entre o lápis e o pau.

A sonhada revolução comunista tanto esperada nos livros.

Plano duma Rio de Janeiro do futuro comunista. A história e o seu desenvolvimento. Marx estava certo. A religião era realmente o ópio do povo e a revolução triunfou depois de muita luta. Lá pelo século XXII ou XXIII, lá pelos cantos de São Conrado observamos um estranho estabelecimento.
Em neón o letreiro avisa “CENTRO DE SOCIALIZAÇÃO - NOS TEMPOS DO CAPITALISMO” - a estatização do sexo e da nostalgia.

Patrões e Patroas a sua disposição. O fetiche da mercadoria. Venha se tornar uma mercadoria. Encarne num proletariado oprimido e desconte a sua raiva e a sua tensão sexual no patrão burguês. Modelos variados. Do capitalismo selvagem do século XIX ao patrão consciente e dedicado dos anos de guerra do século XX e o patrão new wave do fim do século XXI.
Venha se sentir coisificado por algo a mais. Tudo isso para relembrar-vos de um tempo em que o sexo era mercadoria.

Mulatas fabricadas sambam samba plastificado e tomam cerveja num autêntico botequim do subúrbio carioca. A do meio diz filie-se ao partido comunista do Brasil e mostra a carteirinha sorridente.

- Centro de referência para treinamentos de meninas com dons de Bruna Surfistinha. Uma espécie de patrona.

E como fica a prostituição numa sociedade comunista? – A pergunta que não quer CA - LAR

Grandes termas públicas - O sexo é de todos - A comunhão sagrada - A família derrotada - Orgias revolucionárias em nome da humanidade.

Distopia.
Utopia.
Admirável xoxota nova.

Desejo.

Poeta volta no tempo para o ano de 2007.
E enumera os acontecimentos daquela primavera.
Outubro vermelho.
E a grande revolução de Piracicaba.
E de lá o grande lider.

Ouve-se a canção ao longe “Pra não dizer que não falei da propriedade privada”

(A revolução brasileira!)

112º aniversário de Fidel. - todos comparecem a cerimônia do velhinho que do alto acena para todos.

Deus não levará Fidel até que a revolução se consuma na américa latina.
Tango por una cabeza – Tournant a gauche na América Latina
Erupção de golpes e revoluções comunistas

Fim da canção “Pra não dizer que não falei da propriedade privada”

(Entra canção interpretada por Ney Matogrosso : "Deus salve a américa do sul...")
O bilingüismo como alternativa. Todos hablamos español.

Religiosas cubanas se benzem e fazem o sinal da cruz admirando o velhinho na TV.

Poeta preocupado com a sua paixão leviana. Pela extinção do amor e da obsessão.

Gal cantando: "Ele já não gosta mais de mim, mas eu gosto dele mesmo assim"

Transformar desilusões amorosas em poesias de cuca fresca. Beber a bebida amarga e vomitar na privada do bar toda manchada. Acabado em casa ouvindo a Ângela Rô Rô no rádio todo fudido. Cantando a canção da pena da pequena que no amor foi se iludir.

A poética da pena da pequena. Jogo de palavras por demais batido.

Subversão da letra: “Ele já não é o meu pequeno. Que peno.”

Que penar. Ouvir a Rô Rô quando apaixonado e escrever um verso que começa com a palavra Eu.

O desejo.

O corpo. De longe avisto os pés e a silhueta de um corpo.
Luz e sombra - O fotógrafo faz um nu artístico onde só aparece o que você quer.

Por Baco eu vejo o seio da atriz que linda se entrega a Dionísio.

Dionísio de longe ri e continua na sua cena.
Na sua cena!
Não faço cena, viu Açucena.
Açucena atriz comportada. Mamaluca.

Poeta escreve verso no verão de 2005 - o último verão antes de tudo começar a desandar com o aquecimento global.

No caderno escreve a história de José Carlo, arquétipa. Poeta imagina a vida do ângulo temido. Não tem jeito. Não tem como escapar. Da sua sina. Açucena interpreta freira assassina.

Novamente Ney cantando novamente e nunca vi rastro de cobra nem Vontade sublimada nem desejo inventado.

"Eu não faço cena e nunca fui atriz. "
Verso tatuado nas costas da atroz.

Poeta interpreta atriz bandidona acusada de roubar comida do patrão. Na praça o público assiste ao seu julgamento. É 1988 e todos têm a geladeira vazia enquanto, ela, a bandida tem a geladeira cheia e ainda vai fazer uma feijoada. Uma feijoada de verdade!

Roda de samba em Maria Paula - "Na minha casa todo mundo é bamba" - Samba sincero do final do século. E a infância feita de realidades inventadas.

Gal na vitrola
Glam : "Ele já não gosta mais de mim"
Poeta completa : "Mas eu gosto dele mesmo assim"

Deus interpreta Diabo e o Diabo interpreta Deus na nova montagem de Deus e o Diabo na terra do ACM.
(Homenagem póstuma àqueles que tanto fizeram pela Bahia)

Gal derretendo canta : "Ele já não come mais pudim"
Gal e seu disco mais sincero.
Gal bossal / boçal
Gal abissal canta Macalé

"Não choro meu segredo é que sou rapaz estressado"

Indiassincracia.
Na UnB o curso de cinema que mal teve tempo de começar. Dezembro de 1968 limpou o Brasil dos intelectuais combativos. – Nas entrelinhas lê-se ORGÂNICOS – Nas entrelinhas lê-se engajados.
Sobraram as tiazonas dos militares com seus livros velhos do Estado Novo e seus conhecimento de um Francês rendez-vous.
Francês rendez-vous: “Je m’appelle Maria et je suis mariée”

O Globo de 16 de Abril de 2015 noticia:

"Morte do poeta enquanto jovem. Com seus 28 anos poeta ingere toda a água da Baía de Guanabara e não explode. Espinha de peixe mata-o e perfura o seu pulmão" - Plano do poeta dez anos antes chorando em baixo da amendoeira. Seu amigo o abandonara e ele estava só. E para completar começara a esfriar como nunca antes esfriara.

poeta plagiador não convalesce e sim tenta recuperar poesia perdida. (faz questão faz sofrimento de passos na mesma rua)

THE FLAN IN THE FACE THE FLAN IN THE FACE THE FLAN IN THE FACE

Gal canta na vitrola canção que diz:

"Palavras, Calas nada fiz"

A canção mais triste já escrita por Caetano Veloso.
“Eu sou um homem tão...”

Poeta coleciona canções com lágrimas. E orgulha-se por um dia ter chorado ouvindo Samba suor e cerveja.
Samba de fevereiro na Lapa. Suor com cheiro de cigarro e cerveja que percorre o corpo trêbado. “Salgado”

Cú de bêbado não tem dono
- já dizia a sabedoria popular.

Na lapa diversos cús sem dono desfilam procurando alguém legal pra ficar.

Estilo colonial. Ano: 1750 - Hoje serve como mijador e para a passagem do bonde anacrônico que nos leva a Santa Teresa - Eu sempre quis morar em Santa Teresa. É talvez o que tenho de original mais anti-europeu em mim.
Complexo de identidade – forjada, inventada, fetichizada. (Somos todos europeus)

Renegar a cultura européia e adotar o guarani como língua oficial. Gramáticos cultos que entoam cânticos guaranis nas vielas do Rio: "Ñanderú, Yyw Wyye"

O Paraguai inchando tanto que engloba o Brasil e chega até a África. O Paraguai é o país do futuro. O país menos latino e mais americano que existe.
Termo latino-americano – paradoxo encoberto pelo sistema cultural do mal.

O Paraguai é de Deus. E Deus não é Europeu nem Brasileiro. Macaquitos. O totem rejeitado. Somos todos macacos? Somos todos marcianos? Complexo de colonizado. Reescrever manifestos que assolaram o modernismo latino-americano. Vento de mudanças.
I met you in 1930 e você estava outra!

Gal canta na vitrola "Vaca Profana"

Plano escuro do dorso de um homem obscuro. Trecho do poema que diz sobre as costas e sobre o mapa da perdição.

O tráfico de escravo em costas negras.

Negro esbelto, mestiço, mameluco retratado por Grande Pintor da década de 30 - Costas Negras - Mapa da Mina. No Benim intelectuais reprimem exclamações de agradecimento ao governo português.

A Professora de História do Brasil Colonial com sua voz inconfudível sobe na cadeira e exclama :

"O Brasil não se formou no Brasil E sim num Riiiiiiio chamado Atlââântico."

Atlântico de Janeiro. Bicando galho. Cagando Alho -
Poeta com envelope azul revela : And her name is Fear N' And ....

Paixão heterossexual reprimida - Heterodoxia teórica - Se se pode optar entre a maçã e a banana porque não escolher os dois? Por isso o marxista lê Gilberto Freyre - Eclético.

Paixão heterossexual - Se acaso você chegasse no meu quarto e encontrasse aquela revista proibida que nunca comprou. Será que teria coragem de me perguntar para sair?

Gal na vitrola canta canção ainda não escrita de Caetano Veloso, com incursões na poesia de Catula da Paixão Cearense. "Meu coração tem mania de liquidificador"

Fetichiza, meu amor, fetichiza
(Cantor brega canta em espaço de socialização SÃO CONRADO XXIII SUA NOVA CANÇÃO)
Fetichiza enquanto há tempo.
Enquanto há tesão
Há esperança.

O desejo proibido.
Libido.
Beijos sôfregos que machucam a gêngiva.
O amor não sente dor.

Interrupção na hora do gozo. - Gemido em Chinês - Sexo tântrico bastante démodé em tempos pós-modernos.

Cientistas Taiwaneses descobrem a máquina de gravar orgasmos - grava-se um orgasmo e pode-se aplicá-lo em qualquer lugar em qualquer hora - quebra de tabu oriental - reuniões orgásmicas.

Taxa de suicídio das criancinhas japonesas - Taxa de suicídio em Niterói.

Cidade sorriso - Niterói lugar de gente feliz. - Niterói cidade sorriso - Niterrói terra brasílica de puetas -

Gal canta na vitrola samba do avião do Tom Jobim - Galeão, Galeão, Galeão me dê um pouco do teu ão.

Poeta de mão dadas com seu companheiro entra num supermercado em Realengo - Apedrejamento dos homossexuais no Irã - "Tem que matar tudo mermo, tá tudo errado" - "O Pau foi feito pra encaixar na Buceta" - Poeta como mártire – Na capa da revista semanal “Viaje”.

Espíritas de todo o mundo se reúnem para a continuação do livro dos espíritos - Jesus está na América neste momento e as coisas não estão boas. Eles venceram e o sinal está fechado pra nós que somos marcianos.

Gal cantando na vitrola a música da madrugada.
Gal faltando ao trabalho.
Gal acordando tarde.
Gal com Glaucoma.

MA - TA - GAL - MA - TA - GAL - MA - TA - GAL - MA - TA - GAL - MA - TA - GAL - MA - TA - GAL - MA - TA - GAL - MA - TA - GAL

Exclamação de jovens nascidos na década de 80 quando vêem a capa do LP Índia Indie : "Mas como ela era gostosa"

Gal canta na vitrola :

"Eu vi o tempo".

Big Cunt records. - relança o LP Índia Indie (sem biquini)

Mata a Gal por favor.
Poeta exclamando última vontade de vinda.
Meus vinte exatos anos me convencem que a vida é por demais absurdo.

Waly responde: TA - LE - GAL - EU ACEITO ARGUMENTO - MAS NÃO ME ALTERE A POESIA TANTO ASSIM -

Foto de Buenos Aires no centenário da revolução - A capital branca, a Paris americana - Gal cantando em castelhano canções do Roberto tomando sorvete na melhor cidade da américa do sul e ouvindo tango na Plaza Del Mayo diz:

"La concepcion aristotelica de una coesion y harmonia natural entre lo individuo y la sociedad desaparece de las teorias modernas y su lugar es ocupado por la descricion dessa relacion en termos de conflictos y contradiciones. Expressiones como "la turba solitaria" y "privatizacion forçada" tornaramse lugarescomunes en la reciente literatura sociologica. Es cierto que la "soledad" en los ultimos cincoenta años, tiene sido el tema central de las pieças de arte, y tambiem como de muchas discussiones teoricas."

“-o bom é ser feliz e mais nada, naaaaaaaaaaada"