domingo, setembro 27, 2009

falei.

bicho
posso escrever a porta aberta?
posso mesmo?
posso?

aí vai:

=========== Porta Aberta. ============

Porque do lado de cá o vento também é frio
e a saudade é a mesma

E eu sou o mais feliz dos homens
Ao beijar a tristeza de olho aberto

Cantando teimoso que ainda te amo.

sexta-feira, setembro 25, 2009

eu queria tanto descansar

até porque minha bela fonte nenhuma equivale a nossa destreza a nossa forma pior de transformar aquele tédio em nosso alimento cotidiano, escalando assim na miséria alheia nossos sentimentos mais mesquinhos, dando-nos enfim o direito e o dever de prostar-nos diante do horroroso mar e render glórias e ele. e a nossa viagem poderia ser ruim, voce poderia nao estar feliz e eu poderia desencadear toda uma torrente de pensamentos tristes e velhos que mostravam arrependimentos novinhos boiando ainda na consciencia alheia boiando ainda no sinal daquele mesmo pedàgio com você já arrependendo de ter tomado a estrada a Márica, até a tua Ponta Negra onde vestias o mesmo uniforme de um biquini, um maço de cigarro na mao, livrinho vagabundo na outra, besuntada de óleio indo assim gastar o tempo no lado de fora da casajá na beira do mar o dia inteiro indo com o seu mesmo radinho ligado cantando os teus sambas de bêbados, apaixonados, macumbas e paixoes torrentes.... Indecente! Indecente você que sabia chegar de Maricà como quem chega de um monastério com armas assim para enfrentar aquela perigosa estrada chamada rotina, chamada consciência mais pura e bela dela.

Eu nao quero me arrepender de você.

(Por onde andarà essa a quem escrevemos?)

Fragmento de dia e de ano, numa vez numa tarde numa bela cidade cheia de sol de um lugar daí alguém largou a cantar versos lindos e perversos e amorosos e chorosos e esse largar verso deu origem a um sorriso purinho desses perdidos aí numa dessas janelas desse meu ser tao agradàvel e solene, e esse alguém que aí se perdeu e esse alguém que é táo belo eu sei que está aqui dentro, eu sei que está aqui dizendo me procurando me encontrando, pois entao, esse alguém tao belo disse que hoje eu tinha que me enfeitar direitinho, água de cheiro, perfume, sabonete pois ele viria me buscar para uma festinha, surpresinha íntima, festinha de criança em que eu ia chegar assim ostentando a minha verdade tao protegida e os convidados da altivez de seus copinhos de plastico iam se questionar a existencia alheia de tantas criaturas continuadoras daquela loucura.

Aí voce tirou as sandalhas, fico descalça assim no paralelepipedo da velha cidade e largou a sambar no compasso de um surdo atrevido que já se anunciava no final da rua... é você, tao indecente, reivindicando o tempo das suas escapadas e sacanagens, OH SER! OR VIDA! NAO É O AMOR QUE MOVE TUDO ISSO? DEIXAI-ME ESCREVER A VERDADE... aí vinha a bichinha toda preparadinha, toda arrumadinha entoando cânticos afro-brasileiros-baianos já batendo palma e indo pegar o peixe e a felicidade que diziam que a baia tinha. (Eu particularmente lá chorei de amor e fiquei feliz por chorar de amor na Baía que tanto admiro, a minha oferenda pra tanta verdade tentada).
E ela aqui ainda ressoa dentro de mim pois os meus sonhos que estavam congeladinhos dentro de mim lá derreteram e se fizeram homem forte, verdade, carinho e luz. luz dura. POIS É CHEGADO O TEMPO DA ANUNCIAÇAO. Nao me fale daquela transiçao de uma da tarde para quatro da tarde quando o sol já era outro amante, talvez décadas mais velhos, mais experiente, sereno e intenso a te beijar a pele de outra maneira e de outra cor.

Talvez eu desista! Talvez eu desista de ser brasileiro assim tao de repente. Talvez eu desista um dia e cante a letra de pra dizer adeus rindo de verdade. Eu senti que fantasiar-me na cidade essa tao grande, em tarde de carnaval e pensar ainda em voce com cachaça nao me deu a vontade suficiente de desesperar-me. talvez seja lindo assim quando os pensamentos e as paixoes intensas entrem nesse estágio de vida artificial de estrela distante ana e cheia de grandiosidade. e essa saudade era tao terna mas tao domesticada já que pensar em voce me provocava nada menos que uma pura e sincera felicidade. era talvez aquele o sentido final do tanto amor, do amor demais, o do senhor estou desesperado, o senhor tudo é pesado. E subia a ladeira da cidade pensando assim e já sorrindo registrando a minha felicidade na latinha que tinha brilhando o sol das dua tarde na minha mao, um amigo do lado e um sorriso jovial na minha frente a me dizer bastantes coisas que eu quero escutar. ah, meus tempos, meus tempos em que nao se desistia e todos os livros vinham escritinhos certinho com ponto e vírgula e um tempo também outro em que as verdades indecentes me eram escondidas e eu acreditava piamente na imagem serena da cidade a noite.

Um terreno qualquer de Maria Paula lá praquela década, lá praquele mesmo lugar se batia tampor e se comia pipoca e refrigerante apostando felicidade....


Quando Oxum proclamou a sua independência de condiçao baiana ela foi viver um tempo na fronteira do Brasil com Uruguai pra poder acertar algumas coisas que ficaram pendentes.
E todo domingo de manha sua prima maior acordava cedo e ia conferir se a felicidade sim tinha se anunciado na janela e tinha se feito gente pra ela poder tocar.
A prima maior que acordava cedo somos eu e você e todos os seres deste lindo velho mundo.


Ela vinha na praia. Ela ficava na praia. Deixando assim o copo da cerveja meio enterrado na areia, abrindo o isopor, pegando gelo e refrescando o corpo sambando para os olhares gringos e alheios e mostrando e medindo o desejo nos rapazes ao seu redor. Ela tinha a lua ao seu lado e também controlava o vento de sua saia e de seus clichês escondidos no caderninho da sua bolsinha roxa deixada também perto do isopor de gelo.
Ela ficava até mais tarde e sambava mesmo, ria e no final mesmo com o sono repetia a frase, ajudava na bronca da mae, limpava peixe cantando a sua condiçao tao triste e tao ideal e sorrindo no fim mesmo sorrindo.
ela vinha me proclamar exorcismo de tantos pensamentos, acordava cedo, estendia assim na beira cada pensamento, cada fantasia mais íntima cada momento masi seu
e assim em séria ia proclamando o suicídio, coagindo sucicídio nos pensamentos inseguros na beira do pensado e do feito.
eu também me atrevo, eu também e porque nao ainda me dói a ma, ainda dói a minha verdade vacilante que foge para a sua aldeia deixando nada atrás nao, nem mulher bonita pra me receber nos braços, abrindo-me os caminhos no seu ritual todo dia tao egoista e vem vem devagarinho pois Deus já tinha dado bençao demais e ficava me cantando Pontos de Caboclo, coisa light, sem medo algum, canta-me pois eu quero a minha Jurema nua também e nem um pouco arrependido de ter mordido a maça dos cristaos tao insossa tao verdadeira louvada seja as minhas letras, pois eu sentia medo daquela voz dela cantando e advogando tanta coisa pois linha branca linha branquissima ela ia saltando de coisa em coisa.

Lágrima serve pra quê entao, mulher se a nossa luta ainda nao tinha sido feita e voce se atrevia em dançar buscando refugio nesse monstro da sua voz da sua postura tao forte e o que a gente faz com isso a gente escreve ou deixa secando lá fora, a gente já tem a mao um pouco cansada e a gente vai ficar agora olhando deixando o sonho levar a gente sem saber de nada sem saber de tudo

lá na minha casa do meu interior eu to fazendo coisa ruim e to ficando calado podendo falar, vamos cantar a fome? VAMOS CANTAR A FOME?

E se a gente falasse de FOME hoje?

Vamos bordar a palavra fome em cada palavra em cada letra em cada pensamento ainda temos a frente a fase em que a gente se converte pra essa forma de gente tao bela e tao sincera...

Mais um flash de pensamento em que você nao queria sair de casa, queria ficar em casa dançando sozinha nao sei porque dizendo que as suas primeiras leituras lhe eram poder demais intensas e ela tinha que ter mais tempo pra ela mesmo.

Meu amor foi no vapor. Foi com a luz apagada de Sao Jorge. E eu dei as costas antes. Porque fazia um pouco de frio.

Eramos NAIF

Minha querida

Posso te contar uma verdade que agora me incomoda o peito?
Temo esta verdade não ter nome, nem palavras nem endereço. É talvez lembrança. Lembrança fajuta, repetitiva, linda e por demais bela.

Lembra daquele verão em especial em que você se arriscou demais?

Tudo tinha começado mais ou menos assim:

Você meio de longe tinha me prometido a vida na sua mais pura essência. Tinha muito peixe e muito coentro no nosso amor.
Coentro demais.


Um pedaço de lembrança se oferece a caneta

Coentro, coentro, coentro,
tinha muito coentro no nosso amor
no nosso tempo
na nossa vida

você vinha da praia tão desligada do absurdo da vida
tão sincera
tão sem saber nada

que eu me apaixonava por cada sorriso teu
e eu era homem tolo e achava que o tempo ficava atrás na coxia

eu mal pensava que um dia teria a minha mesa vazia
uma caneta indecente
e um papel obsceno

e o seu rosto doendo nos meus olhos
e as suas metàforas ardendo em meu làpis
e a tua poesia sincera batendo a minha porta

(eu então tinha decidido comprar aquele disco com as músicas do Agepê que você mais gostava. atè aquela em especial que você cantava fechando os olhos jogando os cabelos pra trás repousando assim seu corpo no meu dizendo que te faltava ar.)

ter vergonha ao teu lado era o que mais me fazia bem
eu poderia de novo me oferecer pra te levar a rua do Mercado e te comprar aquela saia que tanto querias
ou então rir pela vigèsima vez da sua mesma linda piada

ah, por que você?
me diz por que você?

Me ajuda a pagar a conta de tanto repetir a mesma canção no rádio, a tua, a tua mesma
cada palavra daquela música tantas vezes cantada por ti
me são raras e íntimas filhas pródigas que alimento no inverno de hoje

fonte
ser
pureza
cabelos
orvalho
sutileza


ah, deixa eu te escrever um pouquinho mais antes que o próprio mundo resolva ir embora também sem dar as caras sem telegrama e sem email
deixa eu te escrever minha querida enquanto minhas palavras ainda ressoam no teu mesmo ser no teu mesmo perfume

posso dizer o teu nome todinho assim da silva? posso de uma vez por todas dar nome ao teu fogo?
posso de uma vez por todas escrever como você é, trazer para os meus versos teu olhar tão normal tão sincero?

e assim talvez ter a coragem de escrever a sua calcinha esquecida na perfeição da minha àrea dos serviços mais ignóbeis?

e terminar assim o ùltimo espasmo solitàrio deste verso sem tua presença

não. não quero e nem posso.

quinta-feira, setembro 24, 2009

A primavera chegou

A primavera chegou


A primavera chegou
Mas as flores que trazia
Houve alguém que m'as levou
À minha campa vazia

A primavera chegou
E com ela seus perfumes
E porque te acompanhou
Vieram os meus ciúmes

A primavera chegou
E entrou nas minhas veias
Com sua seiva criou
Amor nas minhas ideias

A primavera chegou
Raios partam a primavera
Que fez de mim o que sou
Que deixei de ser quem era

(Amália Rodrigues)

esboço

"Todo junho tem um veranico esperando por você."
Roteiro e Direção : Henrique Campos Monnerat


Personagens:

Sara - A menina-mulher. ("Era verdade que Sara era doente")
O Poeta - Ser etéreo etílico estilístico (as vezes assume identidades dos outros personagens)
José Carlo - Arquétipo típico do bom sujeito
Maysa - Cantante do tempo
Narrador - Aquele quem vos escreve
Henrique - Personagem alter-ego
Condessa de Marília Paula - Personalidade ilustre do século XIX - presente em flahes backs e carne e osso.

Trilha Sonora :

"Fica comigo esta noite" - Samba canção de Adelino Moreira e Nelson Gonçalves - (Versão que tem um quê de tango)
"Pela Rua" - De Dolores Duran e José Ribamar - Cantada pela Maysa
"Por Enquanto" - Renato Russo - Cantada por ele mesmo
"Vamos Fazer um Filme" - Idem
"Depois É Só Chorar" - Geraldo Vandré - (Música pseudo-incidental ouvida ainda na cama antes da partida do poeta no amanhecer)
"Canção do Mar" - Cantada pela Dulce Pontes - No início do filme, antes da chegada do veranico.
"Chão de Estrelas" - De Silvio Caldas e Orestes Barbosa - Cantada pela Maysa e interrompida pelo narrador pseudo-diretor.
"Tristeza de Amar" - de Geraldo Vandré e Luiz Roberto - Cantada pelo primeiro.
"Rosa Flor" - Geraldo Vandré. - Cantada por ele mesmo.
"Senhor" - Opereta em Português cantada pela Condessa nos anos 1870 e pelo poeta nos anos 2000 - De composição indisponível.


Espaço e Tempo

Objetivamente: primeira década do século XXI com incursões em outros tempos. Locações: Estado do Rio, na capital e no grande Rio. Niterói - Tomadas extensas. Saída do Poeta de manhã cedo decorando canções como "Depois é só chorar". Para cenas da Condessa, lugares como Maricá (Estrada Velha), Araruama e o restante da região dos lagos. Cenas na capital paulista. (para tomadas da cantante do tempo) Passagens em Strasbourg, França. (tomadas sonoras feitas de saudade e tempo). Tempo específico: Junho (junho arquétipo pré e pós anos 2000, antes ou depois do aquecimento global)



"Todo junho tem um veranico esperando por você"



"Sempre torci o nariz pro sub surrealismo"

"No ar parado passou um lamento, riscou a noite e desapareceu"

Entre brumas e trevas tudo é silêncio que podemos tocar. Espreitamos a meia noite de longe. Esperando aquele que vai chegar silencioso. Num som de uma música, num eterno crescendo.
Tum, Tum, Tum...
E já nasce da manhã um tempo que é o veranico. Aquele que só nasce nessa época do ano.


Era verdade que José Carlo era doente.
Naquele tempo todos trazíamos no peito algo maior que o mundo. Uma vontade de vida que não tinha nada a ver com o que fazíamos ou escrevíamos.
Ou falarei eu, ou José Carlo.
Chega um momento em que somente um deve falar. Um confessar a falta do outro. Ou enumerar as aventuras de vida, escondidas em pequenos meses - quase um balanço da poética:

José Carlo troça troçando a frase de Henrique "Talvez eu tenha encontrado a abstração maior. Foi bom ter te encontrado. Vim contigo na cabeça o tempo todo, o tempo todo.”.
O pior de tudo confessam os dois, foi ter encontrado na rua um homem que trabalhava e que disse ser poeta. Era um segurança de um restaurante chique na avenida atlântica. E era um poeta que nunca tinha mostrado a ninguém o que escrevera. E guardava todas as poesias na gaveta e dizia com uma autoridade quase divina: "Eu sou poeta".
Pensei quantas gavetas ele poderia ter e o que poderia escrever.
O tempo em que fomos artistas. Trazíamos todos algo no peito. Algo que não sentíamos e não suspeitávamos. Ou falarei eu.
Ou Zé Carlo.
Confundir é a única regra que existe.
Segundo o entendimento que tiverdes.
Até esse livro, tão misterioso que atraso a leitura.
Para outra explosão poética que ainda não experimento. Mas fico com suas frases e seus plágios. "Frente a ti meu carinho é pouco. Meu amor é ralo frente ao teu olhar e a tua proteção que me faziam ter vergonha de existir"
Rio de Janeiro. Tempo de pedrada. Avenida Atlântica. Embalo não 71. E sim 07.
Século XX is dead e você vai ficar aí parado?
Vais jogar xadrez na penumbra vendendo sua arte vendida e seus sabonetes que mais serviriam para perfurmar tua podridão.
Não há banho todo dia.

- Pausa para o aquecimento global.

Aquecimento global impera. E meu novo século já começa com vontade de terminar. O mundo está entrando em greve, ninguém sente isso? O mundo vai entrar em greve. Não é essa ignorância desses religiosos imbecis que falam de fim de mundo toda hora e nesse papo escroto de juízo final com palhaçada de estrela cair e toda essa macaquice enfeitada da bíblia. Falo sim em mundo acabar por razões humanas, por estupidez e ganância.


Enquanto isso José Carlo ama.
E me repreende por atacar o messianismo dos religiosos.
Tudo bem cara, desculpe. Desculpem-me.
Ela voltará. Aquela que roubou teus versos na praça escura. A Sara. (Era verdade que Sara era doente)
A minha praça.
A minha mesma praça idealizada no fim do verão de 2005 quando o mundo entrava em assembléia final.
E os pepinos brotavam tão férteis quanto o falo primordial. Da minha terra que fiz questão de conhecer seu cio antes de começar a desandar.
Fiz questão de conhecer o inverno também.
De ver o que é tempo e terra.
Porque tá acabando tudo.

Foi o último verão normal.
Aquele de 2005.
Depois tudo começou a ficar estranho.

- Renato Russo cantando "Por enquanto"

-Nas ruas de Strasbourg ecoa a canção "Vamos fazer um filme", depois do almoço de domingo típico da Alsácia.

Adoeço na voz daquela mulher que é feita só de embriaguez de amor, mas de amor, cara, compreende, ela tá ligadona, apaixonada na dele e ele nem liga. Mas a culpa é de quem? De ninguém, por isso! isso é absurdo, mas se liga cara, o que ela faz, ela transforma aquilo que ela sente, numa coisa linda demais, puxa cara, como é que pode, é de arrepiar, que porra é aquela, como que ela consegue, mas assim nem eu, nem eu, eu também vou chorar junto com ela, vou chegar lá, amigo, dizendo e beber com ela, e compreender e falar e rir, pois assim é, escuta, ninguém canta como ela, ela é o próprio sofrimento personificado, pois acho que estamos juntos e não vou desperdiçar essa pira sem dizer isso pra ela, acho sim que nascemos carimbados com qualquer coisa que não sabemos, e cara, olha só isso, olha o que ela tá fazendo, cara, ela tá ainda no final dos anos 50 e o mundo pra ela é toda uma promessa bonita, pode deixar não vou estragar nada, só quero me aproximar e bater um papo com ela.

- Naquele tempo todos trazíamos no peito uma máquina de escrever sofrimento -

Ou tomarei eu a fala.
Ou Maysa
Confundir é a única regra que existe. Segundo o entendimento que tiverdes.

Então vamo lá, no ar parado ficou um lamento. Tá tudo bem. Imagino um frio. No ar parado PASSOU um lamento. E pra onde foi? Sumiu, tá eu entendi, mas o que vem depois? Vem chão de estrelas ou zinco furado. Ou lua cheia que já tá triste, não não dá pra botar a porra da atriz pisando nos astros. Muda essa cena. Na minha vida, tem uma saudade grande que soluça as vezes. Isso!!! já que não temos lua cheia faremos tristeza com escuridão total. E na escuridão total tanto faz o beijo ou o lamento ou o choro, tanto faz o corpo tanto faz. Tanto faz isso Tanto faz aquilo tanto faz dez minutos atrás. Tanto faz teia de aranha.


- Naquele tempo todos trazíamos no peito um livro do Augusto dos Anjos -
Ou tomarei eu a fala.
Ou a Condessa de Marília Paula.

- Altiva, com seus vestidos da década de 1870 chega a Condessa já com seus quarenta anos se aproxima e começa a cantar uma opereta em português.

"Senhor, senhor, meu coração eu te dei
Senhor, senhor, todo meu corpo te dei
Senhor, senhor, contigo me deitei
Para uma noite apenas
Para uma noite apenas
Senhor, senhor, depois não voltaste a mim
Senhor, senhor, e hoje eu choro
Senhor, senhor, quero te acordar o povo
Senhor, senhor para deitar contigo de novo"

Não bastasse o absurdo da letra cantada pela Condessa em época tão remota, lembremos da cena que vem depois do fim do filme quando o poeta sai de manhãzinha de uma casa qualquer após uma noite de esbórnia. Ele vem, caminhando, já com tudo decorado. A mesma canção que cantava a Condessa há mais de cento e cinqüenta anos.

E eu fui andando pela rua escura para poder chorar. Depois de ter sido beijado por alguém que eu não gostava. E chorava por não compreender que nada podia fazer. E eu lavei minha boca na boca do meu poeta. Cheguei e pedi um beijo escuro e triste e continuei andando pela rua escura agora com um coração dentro do trem interior esperando o ônibus e contando e decorando os minutos depois da frase que fiz para o poeta.

Ou tomarei eu a fala.
Ou o poeta.
Confundir é a única regra que existe.
Segundo o entendimento de merda.

Novamente vamos para a segunda cena. O poeta está ouvindo "Fica comigo esta noite" e tem um quê de tango. Escuridão. Lua crescente ou minguante tanto faz. Não, existe, tem diferença, mas não interessa. Depois do beijo forçado ele procura o outro poeta. Antes de esperar o ônibus após o beijo decorando a noite passada.
Um ninho de tristeza veio se aninhar.

Ou tomarei eu a fala.
Ou a fala me tomará em goles profundos.

E eu me deglutirei num êxtase louco.
Serei engolido por mim mesmo. Como aquela figura da cobra que morde o rabo, assim mesmo.

Poeta solene declama texto solene em noite solene em vida solene em situação solene em viadagem solene:

Das tuas costas fiz o mapa da minha perdição
Me guiei por teus olhos para me perder na tua mão
Para me viciar em teu corpo
I would like to kiss
Você todo.
All of you.


Naquele tempo todos trazíamos no peito uma vergonha imensa de ser jovem.
Eu odeio a minha juventude.
Eu tenho horror a minha juventude.
Asco.
Ojeriza.
Nojo.
Pavor
Então a carga de ódio, ódio superior.
José Carlo posando de constante, tentando apasiguar a situação. de amigo boa pinta diz:

"vá procurar algum trabalho. É só pararem de abandonar poesias lá."

Ou tomarei eu a fala. Ou ou narrador.

A Condessa de Marília Paula morreu. Todos sabemos que morreu. Ela morreu em 1924.
Com 97 anos.

"No ar parado passou um lamento. Riscou a noite. E desapareceu.
Depois a lua ficou mais sozinha. Foi ficando triste e também se escondeu"

Nããããooooooooooo! Pára isso.
Stop. Isso aperta o stop, o símbolo quadrado. O símbolo universal do stop.
Como assim. Como ela vai pisar nos astros, nas estrelas salpicadas. Meu filho, meu filho, aquele nível de poesia ninguém consegue, agora você só sente cheiro mas não provarás de cabrocha nenhuma salpicada com pequenas estrelinhas. Já já te digo onde vai estar uma das estrelas. Qual classificados oferecendo putas em nossos dias.

Continua:

"Na minha vida uma saudade meiga soluçou baixinho
No meu olhar um mundo de tristezas veio se aninhar
Minha canção ficou assim sem jeito
Cheio de desejo.
E eu fui andando. Pela rua escura pra poder chorar"

É aí que entra o poeta triste ouvindo o fica comigo esta noite com um quê de tango esperando lavar a boca na boca do outro poeta na noite ou no escuro da noite. Na praça que já não é mais de Zé Carlo em seus últimos dias antes de fechar.

Ou tomarei eu a fala.
Ou Henrique.

Confundir é o único produto que existe.
Segundo a promoção que tiverdes.

E a cena termina no começo. Quando ele começa a decorar o poeta. Para encontrá-lo no dia seguinte. E no outro dia consumar a paixão. Os créditos chegam botando banca incomodando a todos que esperavam ansiosos o que poderia acontecer dali. E atropelando os créditos entra a música da Maysa que por sua vez é atropelada pelo silêncio atordoador que é muito alto, alto demais. Tão alto que todos saem tapando os ouvidos. E são muitos os que entram em coma de choro profundo. De êxtase orgiático, em comunhão com qualquer coisa que nos é estranha. E depois, está consumado o qualquer coisa que se pensou.

Estou cansado

Estou cansado

Estou cansado

Estou cansado

Porém cansado

Contudo cansado

Todavia cansado

Enquanto cansado

Sempre cansado



Cultivo a minha cultura de buteco



Bebendo-te aos goles arrependidos e amargos.



Te tenho em cartao postal que admiro



O amor é um monstro que criamos em nossos coraçoes



Eu nao quero saber de nada.

Já nao preciso de til

Para nasalar minha vida



Eu, eu, eu, eu, mira

Estou enamorado

(25 de Julho de 2008 - septiembre 2009)

segunda-feira, setembro 07, 2009

Araketu en Esmeralda al 900

E como vivia já há mais de trinta anos naquela terra, as suas referências não se prendiam a muitos preconceitos bobos que ainda existem em matéria de música popular. E eu me deliciava nessa idéia, no seu gostar de ensinar, no seu português com a mesma malandragem de sempre. Ela, ela que viveu lá pros cantos da zona sul há mais de 35 anos e quando lá voltou não se reconheceu viu que a sua dor não tinha nome, cidade, país nem endereço.
E dispunha assim na mesa o repertório das canções que todos iam executar. Passava de Lígia de Tom Jobim a Caçamba do molejão num lindo piscar de olhos.
E eu estava lá, forasteiro do forasteiro, fingindo-me mais brasileiro exercendo brasilidade ao contrário, sentado na minha poltrona assistindo a apresentação do grupo mais avançado que já não mais beliscava o pandeiro.
Os primeiros acordes, o ritmo, o primeiro verso me coçaram na cabeça canção que conhecia de longe, talvez outro achado, talvez outra música livre dos preconceitos, sendo executada assim em toda a sua beleza. E a identificação maior na letra, mordendo o lábio para não chorar, vontade de sair e ter os pés nas ruas que tanto me abençoaram. E de novo, a recaída fatal, o apelo insensato aos vinhos de dez pesos e aos ouvidos alheios, je suis trés melancolique, brincando de melancolia saía cantando tal linda canção arrependendo-me de nada, consciente do absurdo da vida e da beleza maior adivinhando caminho, adivinhando penas, adivinhando reencontros, adivinhando futuras felicidades, tomando altas pílulas do já passou, agora eu sou sentimental ao extremo e não me comedirei antes do ridículo, quero o ridículo com tudo dentro, quero assim, zen, na calma adivinhar em apartamento alheio, em conversinha íntima escutar que o adeus é uma mentirinha e que tudo foi uma linda pausa na maravilhosa idéia do existir ao teu lado, no maravilhoso verso da coisa que mete medo pela sua grandeza pelo seu absurdo pela sua grandeza, ah se eu pudesse, mais forte que pretérito imperfeito é esse pretérito que termina com esse, cruel, magnânimo, irônico e extremamente traidor da poesia mais linda, da mirada mais linda do "eu queria ser bem mais..."

quinta-feira, setembro 03, 2009

Meu Setembro Querido

Meu Setembro Querido


Eu tinha te prometido muitas coisas. Tinha te cantado em muitas músicas. Tinha te relembrado e te vivido em muitos lugares. Já não quero questionar mais limite algum. E nem crise de hábito de exposição. Ser filho de seu tempo demanda paciência e não sei o que mais.

Ser franco para contigo não sei se basta. O que fazer quando a caneta antes mesmo de escrever já busca mentir a minha mão, a minha cabeça fervilhando?

Eu tinha te prometido mudez. Resolução íntima! Não mais escrever. Tinha pensado em forçar silêncio, em retocar a maquiagem da Tieta, em demorar-me muito praqueles cantos. Inventando os mais lindos caminhos, as mais lindas trilhas. Mas oh! - Pobres e felizes daqueles que descobrem tais momentos de desencantamento... – Quanto esforço desprendido em vão. Quanta verdade ainda me resta em escutar Simone no youtube, quanta verdade ainda existe em lavar na pia os discos que o cupim quis levar. Que ternura bela, que coisa de menino, de gente assim.

Querido Setembro, hoje foi o dia mais quente do inverno. E eu chorei antes. Nas duas da tarde. Chorei o tamanho da intenção, o meu gesto que levaria a chorar minha tristeza numa Bulgária fria e solitária. Chorei o meu desmomento. Tudo isso eu chorei.

Mas para quê? Se a minha dor nem consegue bancar silêncio, fazer fita, pra dar o charme do tempo passado? Seria infame de minha parte proclamar-me um herói vencido. Caro Setembro, a intenção é longa mas o texto tem que ser curto. É que tem gente me ensinando a rir alto. Ela, que vem de gente tão bonita, ela que botou a mesa, estendeu a toalha em toda a baía para eu me sentir em casa. Logo eu, filho pródigo, buscando o novo, reconheci o quanto a novidade pode ser também vazia.

Setembro, antes de eu conhece-la, antes mesmo de conhecer também o lindo par de olhos que tanto penso, antes mesmo de conhecer a própria beleza, eu andava nas ruas do Rio com a minha timidez niteroiense. Contava tempo e dinheiro para sonhar com céu estrelado, com tangos sinceros. Assim tão avaro, assim tão severo não vi a beleza por ser ela tão grande a ocupar o mundo inteiro. Quando ela veio, veio tão linda que me marcou com um beijo sincero. Quando ela foi embora pensei saber lidar com a cartilha do desapego, com a tabuada dos sentimentos. Ledo, vivo, e belo engano.

Setembro, pense comigo como são as coisas. No meu embaralhamento, na minha confusão, no meu gaguejar encontrei quem desafinasse comigo o tal coro dos contentes. Não te ponhas amuado e comemora comigo a minha sorte. Prometi que quando você entrasse uma coisa bela aconteceria. E já tinha gente bela já desperta pra botar a mesa da primavera antes mesmo de você chegar. Mulher com sua dor, tão mulher a me consolar a face, a esquentar o café.

Rio alto Setembro. Posso dizer que sim. Rio tolamente amando, a minha caneta aberta, a vontade, parindo o filho do meu tempo. A Boa Nova que a canção diz atende pelo nome daquela que olha pela música todo o tempo, daquela que de tão conhecedora da dor faz do coro dos contentes linda exceção. E eu quero subir no ônibus com ela. Sonhar toda a vida da janela parando em qualquer ponto.

Hoje já é bem noite Setembro. E eu estou tão vivo, tão menino e tão conciliador. Deixo-te então minha resignação final: não calarei caneta, não calarei cabeça, não calarei coração. O preço é alto. Não pense que disso eu não saiba. Parcelo e pago em quantas prestações que for preciso. Juro pra mim é palavra fina. Pouco ligo e me alegro até. Até me alegro Setembro porque nesse ano a primavera veio mais cedo, com echarpe francesa e um sorriso desses de refazer o mundo.

quarta-feira, setembro 02, 2009

"Porque ninguém vai dormir nosso sonho"

Tá chegando o tempo final. O tempo final para eu parar de escutar no youtube a Simone cantando Muito Estranho. O meu rosto no espelho, a canção pela metade.

Eu só não queria assim. Eu só não queria tanta tristeza estragando coisa bela e bonita.

Eu vou pensar em dias, em dias belos, pode apostar, ficarei pensando assim nos luares mais belos e nos sóis que nos cobriram de luz quando éramos um só.

O tempo não passou e nem eu fiquei olhando na janela
Meu mundo eu quero muito hoje não ontem

Eu te amo porra.

Vou pra não voltar arrependido de tanta beleza
Vou porque por mais cafona que possa soar escolhi o caminho da Horripielândia Patrícia

Vou para quando o dia nublar violentamente
o poema que diz no man is an island me contradizendo
Estando com a certeza da solidão eterna agarrada no colo
mas nem por isso mais triste nem por isso mais desesperado
estarei cantarolando uma canção, a sua, a nossa, a deles
e do outro lado olharei eternamente a outra margem que não é outra senão a minha
no branco mais branco mais branco de todos
no novo mais novo mais novo de tudo
quando a floresta da tijuca se derreter completamente
e o cinza do mar for cínico por demais
acreditarei na nossa coragem de ter sorrido palmeiras e levezas e céus azuis e sentimentos sinceros

com muito amor

a vida.

Estava Escrito

Encontro-me em Agreste trazido pelo clima de sanatório mas não sou daqui, sou de Niterói, como se diz. Não faço minhas as desvairadas paixões a abalar o burgo, a açoitar os habitantes. Não me envolvo, apenas relato.
(Jorge Amado ; Tieta do Agreste pastora de cabras)

terça-feira, setembro 01, 2009

Spomsored by anacê singing sambachanson
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Dalto singing Muito Estranho

Noite tão cheia de estrelas. Caio Fernando uma vez escreveu texto acompanhado de canções da Ângela Ro Ro. E hoje a noite eu quero muito Dalto na minha escrita. Estou tocado pelo fogo, sim, de uma melodia em especial. Tocado porque sincero me ponho. Tocado porque melancólico me ponho. Toda vez que bebo demais eu dou pra repetir a frase “je suis très melancolique”. Vi num filme francês. Coisa fina. Quero que a canção do Dalto ressoe. A minha segunda pessoa está tão vazia e tão sem sentido essa noite.
Já procurei exorcizar a minha escrita auto-ajuda. Absolutely Blind.
Já procurei sim. Sinto falta da tua serenidade em especial. Será a tua serenidade apenas um eco transfigurado que chegou a essa margem tão distante onde me encontro? Será a tua serenidade a tua franqueza, a tua fala vacilante? Será eu nesse margem?
Lindo o encontro e lindo o texto. Lindo as novelas mexicanas que se escrevem. Não nasci pra não achar graça. Sempre odiei Noite na Taverna. E sempre admirei a coleção vagalume.
Eu também não resisto. Aqui na minha ilhazinha, envelheço a dor da recordação mais insensata. Glória aos Insensatos porque deles é o Reino dos Céus.
Deixe-me ir Candeias, deixe-me ir, pois todavia no estoy curado.
Minha poética também está seca, e essa agora é dedicada a brasilienses, deste ar seco do mundo real.
Hoje sou aquele que está me livrando do sonho.