quinta-feira, setembro 03, 2009

Meu Setembro Querido

Meu Setembro Querido


Eu tinha te prometido muitas coisas. Tinha te cantado em muitas músicas. Tinha te relembrado e te vivido em muitos lugares. Já não quero questionar mais limite algum. E nem crise de hábito de exposição. Ser filho de seu tempo demanda paciência e não sei o que mais.

Ser franco para contigo não sei se basta. O que fazer quando a caneta antes mesmo de escrever já busca mentir a minha mão, a minha cabeça fervilhando?

Eu tinha te prometido mudez. Resolução íntima! Não mais escrever. Tinha pensado em forçar silêncio, em retocar a maquiagem da Tieta, em demorar-me muito praqueles cantos. Inventando os mais lindos caminhos, as mais lindas trilhas. Mas oh! - Pobres e felizes daqueles que descobrem tais momentos de desencantamento... – Quanto esforço desprendido em vão. Quanta verdade ainda me resta em escutar Simone no youtube, quanta verdade ainda existe em lavar na pia os discos que o cupim quis levar. Que ternura bela, que coisa de menino, de gente assim.

Querido Setembro, hoje foi o dia mais quente do inverno. E eu chorei antes. Nas duas da tarde. Chorei o tamanho da intenção, o meu gesto que levaria a chorar minha tristeza numa Bulgária fria e solitária. Chorei o meu desmomento. Tudo isso eu chorei.

Mas para quê? Se a minha dor nem consegue bancar silêncio, fazer fita, pra dar o charme do tempo passado? Seria infame de minha parte proclamar-me um herói vencido. Caro Setembro, a intenção é longa mas o texto tem que ser curto. É que tem gente me ensinando a rir alto. Ela, que vem de gente tão bonita, ela que botou a mesa, estendeu a toalha em toda a baía para eu me sentir em casa. Logo eu, filho pródigo, buscando o novo, reconheci o quanto a novidade pode ser também vazia.

Setembro, antes de eu conhece-la, antes mesmo de conhecer também o lindo par de olhos que tanto penso, antes mesmo de conhecer a própria beleza, eu andava nas ruas do Rio com a minha timidez niteroiense. Contava tempo e dinheiro para sonhar com céu estrelado, com tangos sinceros. Assim tão avaro, assim tão severo não vi a beleza por ser ela tão grande a ocupar o mundo inteiro. Quando ela veio, veio tão linda que me marcou com um beijo sincero. Quando ela foi embora pensei saber lidar com a cartilha do desapego, com a tabuada dos sentimentos. Ledo, vivo, e belo engano.

Setembro, pense comigo como são as coisas. No meu embaralhamento, na minha confusão, no meu gaguejar encontrei quem desafinasse comigo o tal coro dos contentes. Não te ponhas amuado e comemora comigo a minha sorte. Prometi que quando você entrasse uma coisa bela aconteceria. E já tinha gente bela já desperta pra botar a mesa da primavera antes mesmo de você chegar. Mulher com sua dor, tão mulher a me consolar a face, a esquentar o café.

Rio alto Setembro. Posso dizer que sim. Rio tolamente amando, a minha caneta aberta, a vontade, parindo o filho do meu tempo. A Boa Nova que a canção diz atende pelo nome daquela que olha pela música todo o tempo, daquela que de tão conhecedora da dor faz do coro dos contentes linda exceção. E eu quero subir no ônibus com ela. Sonhar toda a vida da janela parando em qualquer ponto.

Hoje já é bem noite Setembro. E eu estou tão vivo, tão menino e tão conciliador. Deixo-te então minha resignação final: não calarei caneta, não calarei cabeça, não calarei coração. O preço é alto. Não pense que disso eu não saiba. Parcelo e pago em quantas prestações que for preciso. Juro pra mim é palavra fina. Pouco ligo e me alegro até. Até me alegro Setembro porque nesse ano a primavera veio mais cedo, com echarpe francesa e um sorriso desses de refazer o mundo.

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