quarta-feira, outubro 20, 2010

6 de Agosto en Río

"6 de Agosto en Río"
Ao som de Ternura Antiga
Cyber Machado alberga a minha verdadeira epifania final, talvez aquela escrita ansiada há tempos e há séculos prevendo a sua liberação na noite mais quente de inverno.
Os versos foram abolidos todos e todinhos e vivemos agora o refluxo daquela vaga conservadora daqueles tempos.
Se tudo é uma farsa farei do Rio o meu cenário inicial, recomeçando o meu holocausto imolando todas as minhas agruras que insisto em conjugar na primeira pessoa atrevida que chegou aqui e deu pra falar eu
Aqui, onde o vento faz a curva, aqui nesse largo tão estrangeiro e tão familiar imolarei o meu cordeiro calmamente sem vontade alguma de me prender a escrita automática ou a deixar fluir a hipocrisia e a passividade do meu motor
Tu que viste todas aquelas letras
Tu mermão que te atreveu a ler o teclado e a desorganizar todas as letrinhas
Tu que brincaste levianamente com Ginsberg agora se dá conta agora se dá conta de que todos os pretos velhos mentiam quando diziam a liberdade que serás também que serás tão bela que serás tão linda
Tu que zombaste da frase es corto pero feliz tu que zombaste da frase final que pronunciaste em teu francês miojônico Aime moi moins, mais aime moi plus longtemps, enrolando a língua beijinho, beijinho tchau, tchau
E agora que fará você sem as suas lindas mais lindas calles canções que te encantam que te cantam que te fazem que te levam assim sem cessar o teu pasaje a tua passagem São Sebastião eternamente flechado na Avellaneda em tarde de fim de maio triste e desolado se eu soubesse não teria sido dessa forma seguir, cruzar a Rio de Janeiro todinha, pois amor, pois amor em Boedo enterrei meu coração e o ofertei a princesa final que da janela chorava as suas lágrimas para mim
E eu as recolhia pouco a pouco sonhando em voltar a gostar de ler com o mesmo tesão de sempre a Clarice Lispector que sentava inquisitoriamente no divã e te observava e te fitava de longe
Deus, se há chance, se há oportunidade, você vai deixar eu tirar o demônio do meu corpo já que estou assim tão distante da Corrientes 4000, Corrientes 4000,
Ouça sentenças breves, Icaraí is changing, the times they are changing but Icaraí ta indo rápido demais, deixa eu correr e tomar o bonde da história que ta difícil e eu não quero mais soprar o meu amor a conta gotas nem a minha vista falida e mal educada cantando-te as mais lindas canções daquela que se chama Mariana
Sonhar toda a vida ou viver todo o sonho sonhar toda a vida ou viver todo o sono pois encostei aqui na 2 de dezembro staring a multidão que passa aflita nessa hora mais delicada do dia, nessa hora que todo mundo tem amor próprio e que os casais mais se amam, nessa hora que não é nem tarde nem noite nessa hora em que a gente tem uma casa nessa hora em que a culpa de existir é uma mera palavrinha nessa hora em que a gente sente mais seja a dor seja a alegria seja a vontade de estar em casa repousando eternamente nos sons de minha samambaia.
Meu amor vou deixar a casa aberta, já escuto os teus passos procurando a chave e nem penses em entrar assim, em abrir a porta do meu coração antes do Miles Davis engasgar no som da minha decência, você torce para que tudo meu dê certo, amor até que ponto a gente se acostuma até que ponto a gente tem vontade de nós mesmos, até que ponto amor, até que ponto meus olhos não são falsos, até que ponto há tanto amor amor, até que ponto o Jardim Botânico está lejos com suas frutas podres, até que ponto o tempo está mudando amor
Poderia inclusive experimentar religião nesse horário e ir assim rastejando até a Igreja de São Sebastião e dividir espaço com elezinho lá todo flechadinho, tadinho, exibindo o seu corpinho assim na praia, com tanto amor com tanta vida
Com tanto amor, com tanta vida loco, Che boludo que me escribís com esse sorriso assim tão lindo assim tão ternamente tão falsamente infantil faz de novo faz, faz de novo para eu te fotografar na cozinha pela última e derradeira vez I am memorizing this room, assim as suas pernas assim as suas mãos tão destras cozinhando assim a tua superioridade eu me prostro diante de ti, eu me prostro diante de ti e vou rastejando até bem depois da ponte voltando assim com a decência entalada na garganta voltando assim até Salvador, até bem depois daquela serra, daquela avenida.
Os dias de tal prosa folgada estão contados, caro amigo, eu vou trabalhar com a questão – jargão de historiador da uff, eu vou trabalhar com a questão dos conceitos, com a idéia de blablablalidade com a idéia de que eu to com uma vontade louca de resetar tudinho e começar assim de novo nos teus olhos o trabalho que o Criador deixou de lado.
Mas de pronto testarei a sua paciência
Leed aquele livro daquela que tem C. no nome.
Sem repetir. Que você acha?

sexta-feira, outubro 08, 2010

Fading

Gostava mesmo era das tardes em que você se fantasiava de rainha sem reino, chorando as mágoas pelo apartamento, cinismo inconsolável distribuía gargalhadas depois que me assustavam. E eu ao teu lado, na pequenez do meu chá que sorvia cabisbaixo sentia que uma distância estranha, sem nome ainda, crescia entre nós. Era pressentimento desses de pesar na barriga, pesar assim fundo chegando a me fazer sentir de alguma maneira mais apaixonado como qualquer enamorado se enamora por um ser que se esvai. O fading imbatível ressaltava as suas cores, os seus traços e os seus gestos mais secretos que da distância melhor se percebia.


Eu acho que eu tomava chá demais na minha indiferença, nos sábados insípidos em que oferecia ao meu amor o meu ser tão apático e incompreendido. Recuperava assim espécies de chamas antigas, temores de apaixonamentos esquecidos no fundo do baú de músicas esquecidas que afloravam de maneira violenta já logo de manhã. Como se ao tornarmos estranhos um para o outro nos permitiamos o leve e doce apaixonamento.


Ingenuidade minha pensar que tudo aquilo era um mero paradoxo, uma contradição ou algo parecido. Comemorava então os avanços de nossas separações, os primeiros beijos no rosto, os cômodos separados, amigos, planos e gostos. Nos admirávamos assim de longe e melhor nos entendíamos. O dia então que de casa saí foi considerado grande avanço, fase séria de uma relação, suposta estabilidade sonhada. Por quase duas décadas nossa relação esteve assim indo de vento e popa no desconhecido, até que a crise começou num fim de semana no mar, o vento nos seus cabelos encontro casual em baixo de uma amendoeira, sorriso envergonhado num copo de cerveja cumplicidade resgatadas em canções comuns de um antigamente muito antigo como quem olha pela primeira vez o sol a se pôr e diz assim baixinho um segundo eu te amo mais jovem e mais bobo eu me resignei e dei por finda nossa relação, oh a dor que me consumia o peito, oh a dor, não sei como me recuperarei disso, desde então os meus dias tem sido assim de suspiros chorados e cada dia mais envergonhados, de sonhar com o segundo amor, de pegar na sua mão como adolescente de primeira hora, pobre menino preso em tuas armadilhas.