sexta-feira, setembro 25, 2009

Eramos NAIF

Minha querida

Posso te contar uma verdade que agora me incomoda o peito?
Temo esta verdade não ter nome, nem palavras nem endereço. É talvez lembrança. Lembrança fajuta, repetitiva, linda e por demais bela.

Lembra daquele verão em especial em que você se arriscou demais?

Tudo tinha começado mais ou menos assim:

Você meio de longe tinha me prometido a vida na sua mais pura essência. Tinha muito peixe e muito coentro no nosso amor.
Coentro demais.


Um pedaço de lembrança se oferece a caneta

Coentro, coentro, coentro,
tinha muito coentro no nosso amor
no nosso tempo
na nossa vida

você vinha da praia tão desligada do absurdo da vida
tão sincera
tão sem saber nada

que eu me apaixonava por cada sorriso teu
e eu era homem tolo e achava que o tempo ficava atrás na coxia

eu mal pensava que um dia teria a minha mesa vazia
uma caneta indecente
e um papel obsceno

e o seu rosto doendo nos meus olhos
e as suas metàforas ardendo em meu làpis
e a tua poesia sincera batendo a minha porta

(eu então tinha decidido comprar aquele disco com as músicas do Agepê que você mais gostava. atè aquela em especial que você cantava fechando os olhos jogando os cabelos pra trás repousando assim seu corpo no meu dizendo que te faltava ar.)

ter vergonha ao teu lado era o que mais me fazia bem
eu poderia de novo me oferecer pra te levar a rua do Mercado e te comprar aquela saia que tanto querias
ou então rir pela vigèsima vez da sua mesma linda piada

ah, por que você?
me diz por que você?

Me ajuda a pagar a conta de tanto repetir a mesma canção no rádio, a tua, a tua mesma
cada palavra daquela música tantas vezes cantada por ti
me são raras e íntimas filhas pródigas que alimento no inverno de hoje

fonte
ser
pureza
cabelos
orvalho
sutileza


ah, deixa eu te escrever um pouquinho mais antes que o próprio mundo resolva ir embora também sem dar as caras sem telegrama e sem email
deixa eu te escrever minha querida enquanto minhas palavras ainda ressoam no teu mesmo ser no teu mesmo perfume

posso dizer o teu nome todinho assim da silva? posso de uma vez por todas dar nome ao teu fogo?
posso de uma vez por todas escrever como você é, trazer para os meus versos teu olhar tão normal tão sincero?

e assim talvez ter a coragem de escrever a sua calcinha esquecida na perfeição da minha àrea dos serviços mais ignóbeis?

e terminar assim o ùltimo espasmo solitàrio deste verso sem tua presença

não. não quero e nem posso.

Um comentário:

Ci disse...

Pode.