sábado, novembro 05, 2016

Balada das Casas Pedro




Entre linhaças, chias e macadâmias
Farinhas de maçã, amêndoa e soja
Eu encontrei o meu olhar no teu

De dois olhos negros de rapaz que, perdido, se sabe muito bem
Na confiança de quem mastiga os cereais enquanto trabalha
E os tira dos dentes com a língua enquanto vai pegar mais um pedido,

Encher mais um saco com arroz integral e eu sem palavras para te oferecer
Pedindo mais grão de bico, mais semente de girassol
Criando uma coragem para perguntar

- E esse curry, ele é bom?
você gosta de rapazes?


Quando na verdade o que queria era convidar para uma boa conversa com chá, cerveja ou água com gás, coisas do Brasil, coisas de Niterói, as luzes da rua da Conceição se acendendo como se fosse meia noite e carnaval e as escolas desfilassem e todo o centro fosse uma zona cerealista com o kilo dos cereais nem chegando a dois reais e ninguém passando fome e ninguém comendo carne e no seu ouvido chegasse uma canção de afago e carinho só 

sexta-feira, outubro 14, 2016

PICINGUABA CONFESSIONS


INTRO

a mais bela poesia jamais escrita tem como ponto inicial o começo da Costa Verde
às vírgulas, ao não dito, à pausa e aos suspiros ficam reservados os raios de sol filtrados pela 
minha vontade imensa de mundo
que é o traçar da linha
a voz cheia, a caneta, as pregas vocais
a Jussara
os Ipês
e a Embaúba

que cantam:

sexta-feira, setembro 09, 2016

o começo da cura


convencer-se de que certidões precisam ser escritas para que certos sentimentos sejam entendidos já que não se passa pelo racional, e sim pelo lado mais abstrato e subjetivo e
eu
não
sou
obrigada a fazer textão no facebook, nos anos 2000 não tinha isso não naquela década eu postava meus textinhos no blogue e fazia um comentário no fotolog dazamiga e tava tudo certo, tava tudo lindo, ainda havia um resquício, um canto para o sentimento de escrever

quero ver é escrever poesia hoje

como faz rita isadora pessoa

nos loucos anos 10

meu amor, meu canto de pássaro, a minha animalidade presente se fez invisível diante de teus olhos
cansados
que não havia motivo maior para que sustentássemos

o que já flácido

repousava

sexta-feira, setembro 02, 2016

soundsystem

Baby eu avisei olha o golpe da direita, olha o golpe da direita  e o golpe foi dado e você nem se tocou ficou dourando seus pelos na laje ouvindo aquelas coletâneas no seu soundsystem bandeja para doze cd's e você tão segura, tão segura que a memória trataria de dar conta de que o melhor era sair comendo pelas beiradas mesmo, uma reformazinha aqui, outra reforma ali, uma conciliaçãozinha aqui, outra ali, uma parceria público privada bem discreta, afinal vivemos em novos tempos, a articulação se saíra melhor e esses radicais falam tantas coisas.


domingo, julho 17, 2016

Certidão de transformação


Ia escrever uma espécie de Réquiem para o nosso relacionamento, mas posto que os relacionamentos não morrem eles se transformam

E CONSIDERANDO:

*O CANCIONEIRO DA MPB que está repleto de manipulações de sentimentos, coisas como eu não consigo viver sem você, longe do meu domínio você vai de mal e pior, etc... Há uma carência de canções que versam sobre o fim de um relacionamento de uma maneira suave e tranquila, com aceitação e serenidade.
(Em 1958 Dolores Duran cantou fim de caso. A base do “só vou se você for” é ainda um resquício de manipulação forte. Mas ainda assim a música destoa das outras e deve ser aqui lembrada.)

* A aceitação da intermitência e da impermanência.

CONCLUO QUE:

O trabalho é árduo. E as doses homeopáticas de poesia e realidade devem ser prescritas com tempo para a assimilação.

A panela de pressão segue calada, se não der vazão nesses casos levanta-se um pouco aquela cabecinha preta e confere que a trava de segurança vermelha esteja funcionando.

FICA ENTÃO ACORDADO QUE:

Que a despedida siga calma e serena como nas últimas semanas. E que esse contrato seja lavrado no cartório das manhãs de domingo

Lavro e dou fé,


Cidade das águas verdes, dezassete de Julho de 2016

segunda-feira, janeiro 18, 2016

Os anos 00’s mostram a sua cara



Memória Fast-food

“E tinha começado assim... Eu fui escrever a data e estranhei muito aquele 6. Aquele seis que já da idéia de mais que a metade. O primeiro pensamento foi “o tempo passa realmente rápido”. E depois aquela epifania construída só se fez aumentar quando percebi novas maneiras, e tudo ficou tão rápido e tão artificial demais que me senti velho por uns segundos. Isso me envergonhou e me intrigou.... Também não é para tanto! E não é mesmo. Eu nem vinte anos tenho ainda. Isso é loucura. Mas isso me deu a oportunidade de abrir um debate legal. Realmente muita coisa ta mudando. E quando vi, aquela década já tinha um rosto... Os anos 00 nasceram para mim...”


Quero escrever sobre a contemporaneidade. Sobre o que chamo de problema que tenho em relação a isso. Queria até conversar com alguém que possa entender. Seria loucura?
Converso muito com amigos sobre tudo isso. Sobre esse novo que está nascendo. Esse sentimento que pouco a pouco cresce e que nos faz crer que estamos numa forma de futuro presenteado. De novas coisas surgindo. Não sei o que isso tem de superficial, frívolo, mas nunca de inútil. Filósofos importantes já falaram muito da questão de construção da memória. Existem trabalhos de historiadores, críticos de arte em geral, etc...
Mas tudo o que estamos sentindo pode se resumir numa canção que pouco a pouco vai subindo, subindo até os confins das diferentes harmonias. Isso pode ser ouvido numa canção diferente, num pós-retrô desses da vida, numa nova maneira de falar, numa paisagem modificada.
Dizem que é preciso vinte anos para uma década começar a ser valorizada. E bem é verdade. O que eram os anos oitenta nos anos noventa? Ninguém falava deles, falava-se mesmo era dos anos setenta. E agora nos anos dois mil, ouvimos muito falar dos anos oitenta, desse processo de construção da memória de uma década, da maneira de se vestir, das músicas, da infância em geral. E é curioso pensar que nesse ressurgimento já nostálgico dos anos oitenta há uma grande ênfase na questão da infância. Por que será? Não sei se talvez com o tempo os anos oitenta amadurecerão, ou se é que já estão amadurecendo.
Outra coisa curiosa é a questão trash dos anos oitenta que tem muita força.
Esse ressurgimento dessa década é uma coisa nova. É uma coisa própria da nossa década de 00.
É certo que de uns tempos para cá, tenho tido meio que uma fixação por tudo que é dos 00’s e até dos anos 90. Seria isso uma forma de fabricação pop de memória? Não sei, é tudo tão novo que o que fazemos é conjecturar. Gosto muito das crônicas por causa disso. Elas têm esse leve gosto de contemporaneidade, de fonte, de ponte.
É certo que algumas vezes lemos algumas coisas que escrevemos e sentimos uma forma de vergonha, por que o que escrevemos não muda com a gente. E isso é a condição de existência do que podemos chamar de história. Em parte, pois a história não é somente a análise de documentos escritos.
Quando que reparamos que já estamos na segunda metade de uma década? Que já estamos no meio de rio, que já nos despedimos de alguma coisa? É estranho. Basta ver como os anos noventa passam a ser retratados no cinema como algo já de época.
Tem gente que realmente odeia os anos noventa. Dizem que é uma década morta. Mas não nos preocupemos. Os noventa também terão a seu ressurgimento se é que já não começou a aparecer indícios. E de repente, é desesperador, já começamos a nos ver destacados dos noventa. Estranho muito quando vou escrever a data de 2006. Acho muito avançado. Será que isso só acontece comigo? Não, isso não é a pós-modernidade.
O mais estranho e curioso é a pensarmos que isso o que falo não deve ser muito levado em conta para alguém que hoje tem mais de quarenta anos. Devem dizer: “coitado, ele quer construir a sua memória, o seu refúgio frente a contemporaneidade, mas como ele faz mal. E que década é a dele? Coitado, os anos noventa ( ou os dois mil) foram tão pobrinhos... A minha década que é a setenta foi realmente melhor, depois não teve graça...”
Perceberam? Isso tem uma ligação muito forte com a idade da pessoa, da intensidade de sua vida na época. Com a nostalgia, com o momento onde a pessoa viveu momentos felizes que muitas vezes é a infância. Não achamos engraçado alguém que nasceu na década de 90 já poder ter filhos?
Isso é construção de memória. Isso é um prato cheio para anacronismos e para grandes clichês....
O funk é um exemplo muito curioso também. Acho que dos dois mil para cá surgiu uma denominação de Funk de Raiz, imitando a de Samba de Raiz. Para designar, aqui no Rio, aquele Funk “de antigamente”, o Funk melody e os melôs que tem suas raízes no fim da década de oitenta e o auge nos noventa.
Acho que a construção de nostalgias e memórias de décadas como noventa e oitenta andam junto com esse sentimento já de contemporaneidade e de avanço de década
Será que os quarentões da década de 2030 vão reverenciar os anos 00’s? E dizer que eram anos especiais, onde havia uma magia diferente no ar, onde as pessoas se vestiam de uma forma e um novo estilo de rock estava nascendo? Da mesma forma que os noventa reivindicam para si rock grunge, elegeremos um estilo musical, uma forma de vestir, um clichê perfeito? E o que vai ser escolhido? Poderemos fazer as nossas apostas, já que nessa altura do campeonato já podemos deslumbrar certas coisas que são próprias de nossa década. O indie rock vem ganhando muita força. Uma nova mpb vem surgindo aqui no Brasil, incorporação de ritmos eletrônicos, etc... Novas gírias. Mas no limiar da contemporaneidade vai ficando cada vez mais difícil dar palpites. Como a neblina que só faz nós vermos melhor a coisa quando nos afastamos. Então a possibilidade de eu falar bobeiras é grande.
Quando o século vinte e um vai se diferenciar do século vinte? Quando as pessoas vão passar a pensar de forma difente?
Nós, jovens dos anos dois mil, seremos sujeitos híbridos frente a esses dois séculos?
Acho que isso o que eu quis dizer. Tive medo com duas coisas: quando fui escrever a data, (2006) e quando assisti um vídeo que se passava no recente ano de 1998 e estranhei a forma dessas pessoas, achei-as diferentes em vários aspectos.
Que isso? O tempo passando. Mas tenho sentido o tempo cada vez mais avançado e apressado...

Queria muito ouvir a opinião de quem leu esse texto.
Essa questão precisa ser muito debatida, abaixo alguns links que consegui relacionar... Encontrei um site que já fala de nostalgia dos anos 90... Assustador né? Pior que eu entrei e reconheci muita coisa e lembrei de muita coisa. Lembram de um programa que tinha num desses canais, chamado Hugo, onde se jogava através do telefone? Os anos noventa estão tão prematuros ainda...

http://paginas.terra.com.br/lazer/nostalgia90/index2.htm
http://www.velvetdiscos.com.br/conteudo/hiperacustica.htm
http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT546241-1664,00.html

Jéssica

Jéssica

Você lembrou de tirar o feijão do congelador e deixar na geladeira? Não deixa fora porque tem feito muito calor esse dias e se o feijão azedar eu tô fudida. Tô fudida porque o mês nem chegou ao fim e o dinheiro já foi todo.

Vou calças compridas pelas pedras portuguesas soltas do centro

Peida não