sexta-feira, junho 18, 2010

São Domingos Blues

bafo, gente, ela toda entregue assim no boitatá como quem não toma nada só um pouquinho de amor só um pouquinho de alegria para enfeitar o seu dia ou a sua manhã que ela queria para sempre bela já que ela era aquela mesma que ficava do lado de fora do restaurante entre um cigarro e outro confabulando histórias imagináveis e realizáveis de amores perdidos e achados entre lençóis sempre novos e sempre velhos sendo que dizia ela noite mais quente que teve foi quando esteve ao lado de seu querido e por nenhum momento o tocou a não ser com seus olhos de verdade que por longas horas esquadrinharam assim a alma de seu amigo amante homem para sempre.

Amante homem para sempre diz assim com lábios de saudade amassando o último cigarro e perdendo o seu olhar no horizonte da baía de Guanabara. Com muita classe tira o sapato alto e pisa na areia assim como íntima pescadora distante do ofício por razões mesquinhas.

Apontava então desesperada todas as luzes da baía, paisagens distantes, cantos escuros e declamava então pedaços de poemas e sem sentidos e sambas que pensava antigos.

Um lindo retratinho de felicidade, de derrapada assim em curva dos trinta quando a minha felicidade se marcava pelo compasso dos sábados pela manhã quando a casa já se enchia de flor e você dizia querer cozinhar para mim, para mim mulher tão boa, cara de amante, dançava para ti no que a gente chamava de minha casa e a noite era um prato cheio que a gente deixava para mais tarde e agora por quê? Por quê? Sou a louca das areias dessa praia distante dividindo mágoas de uma baía chorada por lágrimas mesquinhas e verdadeiras, a verdade é tão mesquinha, pensando bem o adjetivo mesquinho tem muitas coisas a nos ensinar, a nós, todos humanos, todos cientes da beleza e da rareza do encontro, do olhar, do sorriso e da vida.

Ah, eu tomo voz mesmo, desbanco narrador, quebro barraco, mato cobra, mostro pau, sou falocêntrica, falocêntrica até o meu último fio de cabelo pois a orgia não tem sentido sem o seu nome ao meu lado sem a sua mão a distância sem as promessas de madrugada

me botaram para ser escriba e fiquei puta, revoltada, saí copiando direitinho a verdade mal humorada por verdade me custar muito caro. Essa noite, eu sou só solidão, que baía que nada, vou de ônibus pra Copa e dou uma de perdida, desolada, desorientada e peço mesa pra uma, canto musica de amor, escrevo poeminha e vou dormir assim como quem cochila na missa.

segunda-feira, junho 14, 2010

Dos Macumbões Sinceros dessa Vida - Parte I

Cheguei em casa já tacando um macumbão daqueles no rádio pra animar assim tirar de dentro a minha vontade de vida tão guardada com cheiro de mofo no desconsolo das tardes de quinta-feira. Há uma altura do ano em que sou tragada completamente por ele e começo fazer as coisas assim automaticamente com pequenos e raros espaços de consciência, lucidez e desespero. Este por exemplo é um desses lapsos, talvez lindo, talvez ajudado por um copinho de whisky barato e uma noite solitária em que fico assim só em casa ouvindo musiquinhas interessantes.

Pois foi mais ou menos assim: eu tinha chegado em casa suadérrima pois você sabe né, final de novembro é aquele desespero horrível, chego toda quente, elevador, espera, repetições vou jogando a roupa pra lá e inventando telefonemas ventilador ligado. Aliás, o ventilador nessa época do ano me dá uma nostalgia doida, uma coisa estranha, uma vontade de usar a palavra circulador ao invés de ventilador e acompanhar aquela melancolia da capinha que fica mexendo mais devagar hipnotizando o meu sono. Pior que isso é papel pardo na janela com tarde abafada... Aí é foda, não dá nem pra tentar bancar a poeta obscura, a poeta sem grana, aquela que vive de seu trabalho intelectual, fico toda suada que termino indo pro chuveiro ou saindo pra rua mesmo, vontade mesmo de estar com alguém tempo nem me sobra pra auto-satisfação ou lamentação ao telefone com as amigas.

Sou realmente uma viada mesmo, pois vou deixando assim promessa na mesa de todo mundo, noite de chopp, tudo isso, mas quando vejo já passou bem depois do tempo e sou só eu comigo mesma e aí meu irmão, é um desespero que eu saio que nem uma zumbi rondando o bairro fingindo casualidades encontrando colegas de longe, acenando e distribuindo coincidências. E se numa dessas minhas saídas encontro quem me dê carinho ou que minta por mais de 20 minutinhos de verdade no ouvido já vou falando da beleza da vida, de disquinho maneiro, de você precisa escutar isso e já vou pegando na mão e olhando pro olho e jurando eterno amor, que fazer, que fazer

Pra depois no dia seguinte chamar o espelho de filho da puta, de cúmplice da minha sorte, da minha sina, pois o nome daquele que roubou meu coração ta guardado nas mais lindas bocas dos sapos e eu fico assim, sendo cada vez mais pudica bancando a indecente, sonhando com as caretices mais lindas, ajeitando o papel pardo corrigindo provas e inventando trabalhos para se fazer ou planos, dietas, simpatias e encontros, guardando em gavetinhas secretas fotinhos e cartas de amor e cheiro de guardado e a tristeza do amarelado e eu cada vez mais trancada no papel pardo cada vez mais escuro cada vez mais abafado quando abro a janela é pra respirar o ar da Mariz e Barros em dia de semana e sonhar com finais de semana com vida além da Conde de Bonfim, praias e praias, ponte, Ponta Negra, Cabo Frio, prainha sincera, cervejinha na praia o mesmo peixinho, celulite sincera e fofocas a mil de fulana que tá com fulano que pegou cicrano e por aí vai e vai e vai.

E eu me desesperando, contendo arrependimento, medo de tomar o caminho de volta, cruzar a ponte e voltar para minha casa, para meu reino, para meu castelo quando chego domingo de noite já sou uma exilada voltando a minha pátria, com ansiedades a mil, telefonemas de domingo de noite, visitas esporádicas, livros intermináveis e choros abafados na madrugada indecente que já tira sua máscara e me mostra a segunda feira nua e crua se insinuando para mim, pobre tijucana, eterna tijucana para sempre com dívidas eternas para sempre passeando meus boleros e meus temas prediletos naquela rua que vai dar no Aterro, naquela rua lá bem longe, lá pertinho da Igreja, da Nossa Senhora da minha Glória prometida desde o início de tudo

Desde o início de tudo

sexta-feira, junho 11, 2010

Lembra?

Lembra que a lua ficava tipo olhando e a gente calava a boca dela com os faróis dos carros mais acesos e você se atrevia e se acendia assim que no escuro eu via teu desejo tão você?

Seu desejo na minha mão se ardendo e eu quase num transe religioso agradecendo a qualquer deus a existência de gente assim existindo assim comendo de bandeja a noite de verão olhando a nossa cidade tão linda e tão pura.

Você piscava o olho e eu olhava o seu olho tão lindo tão negro tão fundo como eu me orgulhava de tuas olheiras da gente ficar assim acordado até bem mais tarde

E nas sextas feiras você já ficava em casa inventando nudez até a gente decidir um barzinho qualquer para desfilar nossa cara de pau cada dia mais linda

Até os seus olhares para a menina misteriosa me eram belos e não tinha espaço pra dúvida ou ciúme, pois me catapultava no seu olho e ia assim na mesa daquela que de tomara que já caiu há tempos a alça daquela decência ménage a trois bangalou três vezes sem sair de dentro do engenho onde a gente promovia festinhas maneiras

Você se lembra amor?

Se lembra?


quarta-feira, junho 02, 2010

sem antes nem depois

é que no final ele sempre ficava bem mesmo depois de todo o desastre torre desabada em segundos...

imagens reais, situações verídicas aconselham meu ser afoito a seguir assim escrevendo redação pela linguística não pela gramática. tudo é uma questão, tens que ver para quem tu vais ler isso.

Dizia o ser afoito enquanto cozinhava o sábado a tarde, dizia ele preparar comida nova, dizia ele arriscar toda sua vida no azeite, dando beijinhos assim entre sais e pimentas, arriscando assim juras de amor em pápricas e alcaparras.

Não. Não havia ser afoito. Ao longe se ouvia os acordes inconfundíveis de cama e mesa canção imortalizada na voz do já finado Agepê dizia a minha vó ser este um cantor lá do século passado, dizia minha vó ser ele uma beleza rara, voz e sorriso só cantando o amor.

O sábado a tarde, sabia ele, o meu amante, operar com destreza e carinho todo o perigo, toda a leveza das seis e vinte e poucos de uma tarde de sábado, oh que desconsolo, oh que desconsolo, o meu sonho burguês derradeiro para mim, sorriso colgate ostentado nas oito horas de manhã de domingo enquanto lá fora o mundo era outra coisa e a gente sim estava pronto para mais esse desafio.

O meu ser afoito perto da torre desabada em segundos.