domingo, dezembro 21, 2008

P. A. B.

Prelúdio das Alciônicas brasilianas.
Así que bueno, embalado pelo canto alheio, pelo não dizer que tantas vezes me disse ao pé do ouvido que é preciso cantar mais que nunca eu decido-me por esta missiva indireta que se valhe de pseudo-metáforas e indiretas que vagueam pelo tortuoso caminho do sem sentido.
Começo dizendo que estive no seu bairro. Estive quem sabe em frente a sua casa e arrastar-me por aquelas ruas me enchia de uma dor que na hora só fazia doer. Não fazia nada, nem musiquinha cantarolada, nem joguinho de mãos.
Sabe, o que eu idelizei daquele geografia, o que eu discorri em mesas estrangeiras de tudo aquilo e assim tão cru aquilo tudo vomitado de primeira na minha frente feito poesia concreta e cínica na noite carioca de chuva que parecia não me querer. Era um intruso. Um verdadeiro intruso me sentia desbravando tudo aquilo, aquela mesma praça, aquelas mesmas ruas que um dia acompanharam um eu perdido, desorientado por aí, fugindo de tanto amor, talvez tanto excesso, talvez o cheiro que ainda persiste, talvez a canção que ainda cantava. Fiz caminhar. Para desorientar tamanha emoção saí sem direção por aquele lugar desconhecido quando me deparei com uma singela igreja que de singela virou carrancuda e me cobrou decência, algo assim.
Aí, meu irmão, eu já não tinha nada mais que fazer, nada mais pra dizer que ir embora daquele lugar, anunciando isso, dando certificado de estrangeiro pra deus e o mundo, dizendo que as canções boemias são coisas de retardados que presos ficam em tempos e intensidades nunca dantes adentradas.
Así que bueno, os tempos portenhos anunciam pequena inflexão, para o verão, para as árvores egoístas e o sol parado feito gema de ovo sem vento, apodrecendo a velharia, a renovação do sol não tropical que chega chegando no buracão da camada de ozônio queimando minha pele rejeitada pelo sol carioca. Assim, tomando sol na laje pretensiosamente buscarei inspirações para cevar mates perfeitos. Com livros, cafés, cheiros, cigarros e ervas adivinharei, montarei um joguinho qualquer e lembrarei de quando o sol me pegava de jeito e me fazia sair suando por aí, já ansiando um outono de início do ano.
Maio é ponto chave. Te juro.
Así que bueno, também preciso dizer-te sobre o acontecimento maior de matar a vontade de samba na ladeira, assim sambando meio torto provocando o declive, purgando a mesma ladeira que de muitas branquinhas turvou a vista e nos jogou num ônibus qualquer quando eu te confessaria tudo e começaria pintando a irrealidade do ano.
Irrealidade que de tão real machuva e coça a mão nessa madrugada. Meu tempo é meu, nesse início do século eu te dedilhei timidamente no meu violãozinho desafinado e depois aproveitei para te escrever assim. Levianamente.
Lembrei de uma frase que dizia intenso porém fugaz, fugaz porém intenso. Não sei qual porém é mais forte e nem a ordem em que tenho que falar-las.
Não sei também da passagem do livro de um tal J. Rulfo, um mexicano que tinha algo incrível que eu tive que ler 5 vezes pra entender, pior que texto difícil da faculdade eu ficava estacado naquela parte e naquelas palavrinhas que me despiam e falavam por mim.

sábado, dezembro 13, 2008

Ao som de Sylvia Telles, "Carícia", 1957
Che, te escuto e te conto que estou só na base da Sylvia Telles desde que cheguei. Te confesso que fiquei muito tempo somente adivinhando de longe a musicalidade daquela que posteriormente veio a me conquistar.
É que, é que na minha ignorância confundi superficialidade com fugacidade. O quão santa e o quão pura foi a minha ignorância no eterno namoro entre esses dois conceitos que pouco sabia e pouco conhecia.
E acho que com isso eu ficava arredio, ficava de longe observando contando o horário dos tempos, cumprindo meu papel obediente de longe brincando de rotina. Sabia que essa fórmula teria o seu fim e que qualquer desvio seria o suficiente para rasgar a minha roupa e entrar no eixo sem eixo. Isso sim era ser o fugas.
Mas tinha o Carlos Lyra cantando aquela música que a Bethânia gravou no cd “que falta você me faz” e que eu ouvi em terras distantes cantada por uma brasileira num festival de música de seu país. E como ela cantava. Das interpretações escutadas a do Carlos Lyra e da tal moça que eu esqueci o nome me conquistaram. Entrei no universo da letra, escapei-me e comecei a pressentir a tal fugacidade. Tenho um certo desconforto ao escrever este adjetivo. Na realidade eu nem sei se ele é escrito assim. Antônio Cícero fez a letra da música que a Marina canta. E eu que achei que seria superficialidade, descobri as distintas matizes entre esta e a fugacidade, entre o fugidio. Fiquei com vontade de ler o que a Cecília Meireles falava sobre momento fugidio.

Pensei em pagar o preço do existir. Em criação. Até porque tinha e tenho a certeza absoluta que a vida se resume a uma só.
A minha cidade está ficando meio sinistra. Parece magoada. Parece diferente. O intruso não sou eu. Eu que nada fiz cheguei somente de longe e vislumbrei tudo isso. Mas como dizer que eu a amo? Que eu posso responder o tempo nublado com um sorriso daqueles?

Foi assim: saindo da Lapa, daquele sobrado que fica pertinho, pertinho mesmo daquela igreja, da sala Cecília Meireles. Nunca achei que lá poderia entrar. Mas entrei e conversei com um grupo de amigos que lá estavam. Eles me falaram da Eliseth Cardoso. E me emprestaram alguns discos e disseram mais ou menos assim algo de sim, tem que escutar do início ao fim para ver o sentido orgânico daquilo tudo. Ali, ali mesmo pertinho tinha o museu da imagem e do som e Antônia muitas vezes me confessou que já experimentou transar no máximo volume as suas canções preferidas e dizer que a ela lhe interessava a queda do municipal e num orgasmo crescente gostava de se fazer presente aos visitantes que naquele museu iam. Foi interessante, interessante demais que eu mesmo tive vontade. Acho a exposição dessa maneira algo tão lindo que fiquei tentando adivinhar quando ela faria isso de novo.
Achei tão lindo, até porque deixava a mostra um LP, um dos meus preferidos daquela cantora que na minha opinião ela estava na sua melhor forma. Era uma homenagem a um grande compositor. Me fogem os nomes. Tinha algo a ver com uma receita de Vatapá.
O teu apartamento está me saindo pelos ares. Está se descompondo e não adianta o meu esforço em tentar mantê-lo.
Amanhã entra o ano.
A yoga não está adiantando. Eu tenho vontade de comer o mundo.
Volto já.

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Saudosismo 2008

Mas volver assim tão temprano, assim tão de repente tem as suas surpresas. Reinvadi meu quarto e ativei uma espécie de mundo, de engrenagens que pareciam silenciosas numa ferrugem nada mais que aparente. O tempo passou e deu tempo deu ir pra janela. E agora dessa janela observo, toco e cheiro os cadernos, livros e presenças que abandonei quando daqui parti.
Mas já não condiz. O tempo do verão já não condiz com o inverno que deixei. Com o outono que esperei.
Como o estômago cheio de brasilidade reabri o Me Segura do Waly e me deparei com a seguinte frase que me estava e me cala consentindo as certezas mais vãs:


“esta carta por exemplo é um texto de amor. Furo meus olhos para alcançar alguma medida de eternidade. medida de eternidade. (...).”


Corro atrás de elementos ficcionais! Ficcionais! Talvez sim, uma menina quase mulher redescobrindo seu violão e se refazendo com as notas há muito tempo não tocadas.
Tudo transcorreu sem pressa. Na madrugada um homem bonito e educado me ajudou a subir. Fiquei embarassado com tanta impessoalidade que mordi a língua e disse ai.
Deixei Ana Cristina lá. Há tempos que venho repetindo mas a bichinha é danada, grudou na minha poética como carrapato do mato.

Não sei o que me dá. Antibiótico mata a flora intestinal. Interessante e triste. Matar pra renascer. Aquela escrita era estilhaçada e eu ensaboei com um castelhano á la Rayuela.

Ângela Maria está no piloto automático.

A ver o tempo passar, navios que vão e voltam. Nunca cantei tanto Vapor Barato como nas últimas semanas. Buenos Aires é o cenário perfeito para a gravação a ferro e fogo dos movimentos dos barcos.

Assim, quando o verão já ta quase batendo a porta bebo muita água que saio a fazer xixi noite a dentro.

Estranho ler tais versos. Acho que não consigo atingir mais essa intensidade. Nunca vou esquecer essa frase. Acho que não consigo atingir mais essa intensidade. Acho que nunca mais conseguirei atingir essa intensidade. Acho que não consigo mais atingir essa intensidade. Que eu sei, uma miríade de eufemismos, lindos e todos belos para dizer processo de pouso, terra chamando. Nunca vou esquecer essa frase dita por outrem que me doeu intensamente. Essa ou aquela intensidade. Meio que a maré baixou. E deixou no destapado todo aquele mundo que quando criança eu descobria. Acompanhar o caminhar dos caranguejos e correr a outra margem. Meio que a maré baixou. E no livro de memórias ela é fundo de mar, intensa e profunda. O coração é frágil, a vida é frágil. Tudo acaba num segundo que a gente fica com medo de viver. Tudo passa sobre a terra.
Mas muito fácil.

O negócio é escrever, meu amor. Eu, por exemplo, quando tenho lucidez, assim faço depois que voltei de Salvador escutando loucamente Leny Andrade, quem disse que a bossa era daquela forma e tinha nascido na zona sul? Assim que a frase em inglês era algo de there’s a price to pay, qualquer coisa assim, que dizia do preço que a gente tinha que pagar. A Bahia é um estado gigante e no Espírito Santo eu fiquei em suspensão.

Niterói. Beijo na rapaziada. Abraço nos irmão.

Quero te ver.

Não se perca de mim, não se esqueça de mim, não desapareça,

Hein?

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Antologia "Depois da tempestade" I

Quero o tempo para te escrever o "ainda te quero"

Quero o adivinhar dos teus beijos na ausência forçada

Quero maturar meu sentimento por ti em sala escura e fechada

Quero te cantar e te escrever até gastar minha caneta

Quero fazer do sal de minhas lágrimas o jantar que te cozinharei

Quero zombar dos verões apressados que se esquivarão do nosso encontro

Quero todos os papéis rasgados das poesias mal escritas

Quero todos os amantes resignados a tua silenciosa presença

Quero mais que tudo o que nunca pude desejar

Quero fazer de cera o teu chorar e derreter tuas mãos que pousam na mesa.

Quero fazer dos nossos corpos orgia intensa e profana

E quem sabe queimar o pavio que me prende a ti sempre deixando no teu corpo a marca do que um dia senti pois se um dia eu te amo eu te amo sempre e até o fim dos dias teu olhar e teu corpo me serão uma presença domesticada ou selvagem, difusa ou clara, mas sempre intensa, sempre intensa, cronicamente preso no corpo e no coração como tatuagem que as vezes dói e enquanto escrevo essas linhas dói dói muito dói pra caralho dói tanto que eu queria não sentir mais nada dói tanto que eu faria tudo pra voltar pro início quando te abri o zíper da tua boca e de lá tirei a tua língua vermelha que fiz minha companheira.
Só eu, só eu desvendei os meandros do teu eu interior
Só eu, assim como todo mundo
Te vi de fora.

quarta-feira, dezembro 03, 2008



Vem, depressa, vem depressa, pois o Deus está vindo antes, eu quero tudo antes do Deus, eu quero tudo antes dele, eu quero ele, ele mesmo, ele mesmo purinho na sua verdade, para um dia perguntar tudo, se botaste no mundo tanta gente.
Tanta gente. Semana que vem é a minha vez de não ser mais. Eu estou indo embora e não te garanto que volto.

A vida após a morte é uma mentira.

Eu vou ficar aqui fazendo poesia de mentira, cevando mates imperfeitos, carioca da clara niteroiense ressentida, tocando de leve a pele desta cidade, sonhando com Salvador.

Euzinho mesmo fiz o que tava escritinho. Alizinho tava escritinho que um rapazinho ia chegar devagarzinho pelos livrinhos e ia dizer alguma coisinha sobre estar sozinhozinho. Era Guimarães! Era ele, chegando, devastando as bibliotecas ideais, dos planos das idéias, e haja Cecília Meireles pregada na parede, renovação católica.

Eu nunca entendi aquela galera que se converteu ao catolicismo. Coisa esquisita.

O catolicismo que eu conheço não rima com poesia nem com modernismo. Fiquei com a cuca fervendo tentando entender aquela gente. Prefiro alucinógenos e prefiro leituras racio e irracionais.

Semana passada sonhei que estava no Rio. Estava fazendo o que todo mundo faz. Andando na rua. E chovia muito, chovia horrores e depois fazia um sol lindo demais que a tudo secava. Tive tempo de olhar o caju, o cemitério, e passar pela praça quinze, tão alheio ao centro da minha metrópole. Terra estrangeira. Eu não sou em ti. Antes de tudo, me cresci na Gamboa.

Quanto a sua nova casa eu adorei. Uma garrafa só de whisky renderia muitos sofás e com o volume na medida certa teríamos Miles Davis e você recitaria com aquele brilho nos olhos todos os poemas daquela poeta que você me mostrou com um assombro lindo. Relaxo, na medida do possível, fantasio tudo, e já preparo a chave perfeita que abrirá tua porta e te afogará num abraço.

Dou espaço para a sua angústia argentina que já se impacienta em pleno dezembro, sonhando nada mais nada menos que antes de março quando o verão chegar ao fim.
A argentinizaçao do mundo está se completando de uma maneira linda. Assim louvaremos mais a vida e é preciso dar banho de crise em todo mundo.
Ogum é de lei e ta aprendendo espanhol, tirando qualquer nasalização pós-pré-africana.

Vem pra cá que a gente vai ser feliz na medida improvável da minha loucura.

Vai minha tristeza e diz a ele que o ser nao equivale ao estar como te explicar
Diz-lhe numa prece que o regresso é o sofrimento dividido pela realidade.
Sem ele a saudade é melancolia, é nostalgia, é algo do blues, sem açucar preto e branco.

Pois a baía de Guanabara ainda tem peixinhos nadando. E dentro dos meus braços os abraços brotarao assim no teu corpo.


To aflito demais. Já gastei tudo pelo telefone e cortei no meio meu choro. Madonna disse que é muito fácil dizer aquelas três palavrinhas quando se está longe. E é verdade, nunca a usei tanto. Calarei a sua boca em ótimo estilo.

A Maysa cantou a música do The Doors. Você acredita? Fiquei pasmo e não pude ainda escutar o disco que comprei.

Te deixo um beijinho saudável, risinho descontrolado, vontade de comida profunda.

A arte ou El Arte?

Hoje um abraço se partiu de verdade. E eu não pude fazer nada. Sou um homem inautêntico ao extremo. Depois que a gente morre a gente morre.

Era tão fácil quando Deus existia.

Mas assim é melhor.
Desesperadamente, alguém que te queria muito.

Henrique.

quarta-feira, novembro 19, 2008

Amigo

Amigo

Descobri o que voce um dia procurou significar quando escreveu aquilo sobre os raspadores de assoalho. Aquele quadro antigo que voce cismava em dizer que te trazia a atmosfera perfeita de um tempo que voce nao viveu mas compreendia muito bem. Te asseguro que a Rua da Carioca tem uma importancia muito grande nisso tudo. Seus sobrados estao morrendo. Isto é fato. Mas ainda estamos em 2008. Nao podes dizer que já ou ainda faz muito tempo. Podes dizer que o tempo é o tempo de seguir caminhando distribuindo sorrisos pelas ruas.

Memórias poucas e memórias muitas do Capibaribe.

Sim, foi preciso o estranhamento da minha parte de tal linguagem e tal leitura para que eu realmente compreendesse tudo o que aquele verbo contém.

Eu quero passar na tua rua
Cruzar a tua ponte
Che, una pregunta
Como hago para te invitar a salir?
Sem dar pinta de Maricón
E disfarçar o meu acento
Ao grau zero de qualquer decencia estrangeira?

Decíme
Decíme pois quero fazer jogo de seduçao contigo
E eu sei que voce quer também

Soy una persona insegura, indecisa, sin rumbo en la vida. No sé que hacer conmigo misma

Temo la soledad conmigo misma
Acaptas mim pobre compañía?

Yo escribo como si fuera para salvar la vida de alguien. Probablemente mi propia vida. Vivir es una especie de locura que la muerte hace.

Mi alma tiene el peso de la luz
Tiene el peso de la musica

Aguante la máscara negra que un día salió por las calles
Tengo en mí muchas cosas
Hoy soy.

O peso do mundo é o grau zero de qualquer coisa já que eu nao entendo.

Pois entao, tal epifania precisou estar dentro de mim. Nao me adiantava ser cospido, praticamente vomitado no Largo da Carioca, assim de forma tao crua, assim tao de repente, sem qualquer alívio, sem qualquer precauçao. Seu apartamento estava longe, perdido e encontrado na cidade amada. E eu subi e desci as escadas adivinhando cada nota, cada verso dos seus livros que voce ainda nao leu. Adivinhei e cheguei com pretensao anti-católica, anti-intelectual, anti-iluminista para com todo o seu corpo. Te fui ensinando a rítimica deixando os despojos materiais mesquinhos pelo corredor até o seu quarto onde sim eu conheci a sua poesia.

Na sessao de empréstimo pego poesias de Rimbaud - indireta flexível - tomas uma cerveja? Voce gosta também? Posso te mostrar mais, por enquanto nao me encaixo naquele verso. Sou um homem vivo e porém aflito.
Hay que leer en francés no en castellano. Por supuesto, mas as minhas indiretas sao por demais diretas. Quero sua boca e ponto final.

Que carajo hacés?
Una preguntinha básica que te hago.
Nunca la vida fue tan actual como hoy. Tiempo para mí significa la disgregación de la materia.

COMIENZO POR DECIRTE QUE NO TENGO NADA EN CONTRA DE MANIPULAR, ASÍ COMO NO TENGO NADA EN CONTRA DE SER MANIPULADO. SER INSTRUMENTO DE LA VOLUNTAD DE TERCEROS ES CONDICIÓN DE LA EXISTENCIA, NADIE ESCAPA A ESO, Y CREO QUE LAS COSAS, CUANDO SE DAN DE ESE MODO, SE DAN COMO NO PODRÍAN DEJAR DE DARSE ( LA FALTA DE RECATO NO ES MÍA, ES DE LA VIDA)

En menos de 6 meses los mosquitos completan su eternidad.

Nao me veia apregoar consideraçoes acerca do plágio, da colagem, da alegoria, da fragmentaçao ou do caralho a quatro. Me quedo com, de e para de quatro al carajo con que me invitas.

Já antes vos asseguro que há uns vinte e tanto por cento de Lispector retraduzida por um hispanohablante qualquer. Também uns 3, ou 4, ou 5 por cento de um certo Raduan Nassar atravessado por estruturas distantes e longínquas que lhe roçaram o ventre com a língua de Cervantes e por último uns micro miseros um de quase nada por cento daquele poeta que nao digo mas que sinto e admiro e me morro nos matos grossos.

Ainda vou completar meu doutorado em formigas e reescrever o solo da minha estancia querida chamada província de Maria Paula na cidade de Sao Gonçalo as beiras de Niterói, abandonada a própria sorte de uma baía triste e suja e de uma classe política mesquinha, oportunista e religiosa. Sem paradoxos.

Eu, me sou cada vez mais na ausencia de tudo.
Venho a mim o nosso reino.

Nao vai ter juízo final.

O Messias já veio e já voltou um milhao de vezes.


Dos Brasis, esfarelados nos Buenos Aires da minha pseudo-candura

Eu mesmo.

segunda-feira, novembro 17, 2008



Enfim o mar
Com fado e muito e vento e maresia e cheiro de sal


Nao direi nem escreverei misterioso mar direi sim mar mim mesmo cheiro linguagem imensidao música

terça-feira, novembro 04, 2008

Até que você me mostrou cadernos em branco e me deu uma caneta. Mais valeu o seu bocejo seguido do meu e uma meditação a respeito duma macarronada. Ao som da sua música preferida.

(Amor, meu grande amor, não chegue na hora marcada
Assim como as canções
Como as paixões
E as palavras)


Mais valeu o seu bocejo seguido do meu
(Você tem dois anos para decorar o traçado daquelas veias)

Me passava na cabeça todo o mundo

Não adiantou varrer a primavera para debaixo do tapete.
Seu sorriso chegou chegando e não me deu tempo de fazer nada

Eu, eu não vou me trancar, não vou ficar decupando tudo aquilo que você me vomita.

Os críticos não tinham bons olhos para você.

Condicionei tudo e todos a sentenças breves
Espaços de silêncios me constrangem

(Meu grande amor, me reconheça)

E eu falava qualquer coisa, dava conta, dou conta, rasgo roupa, esfolo a pele mas chego lá.

sexta-feira, outubro 24, 2008

Amor, baixou a Ângela Ro Ro no meu quarto de uma forma tão louca que foi difícil romper a aurora do dia. Tranquei-me com medo de tudo e de todos e me quedei com a sua voz ouvindo e escutando canções e pensando – ela está viva! Ela está viva! Não há alegria maior em pensar que a Ângela está viva e eu também.
Nessa noite angelaroroniana recontei muitas coisas e desescrevi muitas verdades enquanto o sono não me assaltava e ritmo nenhum me trazia a cadência do eterno silencio, da petit mort, ou de algo parecido. A mesma velha garrafa vazia dos treze pesos trazia-me a estima de uma vida sonhada ao extremo.
A Rua do Riachuelo é sempre um milagre, havia escrito uma vez Gonzáles em seu glorioso tempo boêmio quando a Lapa realmente vivia seu momento mais decadente. Fátima, Fátima, me dê teu asilo por uma noite, escrevera ele em outra novela que nunca ousara publicar.
Me lembrei do Gonzáles e da Ângela pois tinha lido o Sofrimentos do Jovem Werther e tinha pensado num lapso de segundo uma espécie de suicídio ao contrário que consistiria em pequenas petites mortes, algo meio francês pra lá de chique, psicológico, literário, coisa fina. Nada mais velho ou mais novo que masturbação fora de moda, massagem de ego, descentralização do sujeito ou coisa parecida.
A hora mais doce e mais cálida da noite é aquela em que se perde qualquer noção imbecil de temporalidade ou da pequenez do dia seguinte. O existir não passava de uma primeira violência já dizia o pequeno rapazinho na catequese do bairro, onde titia do papai do céu se incomodava com aquelas perguntas. Não só não fiz a crisma como pedi formulário para o cancelamento do batismo que me calcinou a pele, me sujou da vergonha de um cristianismo triste e pesado que desabou na América trazendo coisa ruim, gente morta e muito sangue.
Memórias e fragmentos como estes se faziam alegres. E tinha que ver você como o sol nascia e se desnacia, como verões se faziam, noites de primaveras apressadas, manhãs orvalhadas e úmidas de junhos anteriores ao aquecimento global vinham para minha mente estalando azulidade, estalando verdade, coisa estranha, força esquisita.
E como não pensar na sesta? Como não pensá-la escrevendo o desenho de sua imagem e de seu calor das duas da tarde onde a pior hora se impunha para o solitário da casa, aquele que não tinha o sono e que via o tempo congelado no mato de fora e a melodia de vida meio natureza morta enquanto todos dormiam e o tempo quase parava, se arrastava lento e cínico. Só lhe restava compartilhar suas experiências com as formigas, com as plantas e com a descoberta do mundo do jardim ou do corpo ou das primeiras leituras fortuitas e pornográficas. Harold Hobbins lhe caía bem, literatura fácil, com capítulos pornográficos e indecentes. Minha parca cultura clássica se encontrou com Satíricon e com muitos outros que chegaram para a fazer a festa enquanto o calor derretia as horas.
Repeat All, o rádio dizia, obrigando a pobre Ângela a repetir o seu disco, cansada, desminliguida, quase tímida e sem voz.
Buenos Aires na primavera é um arraso. Lera Antônio numa tarde de maio um fragmento perdido desses de gaveta em uma tarde de fim de século. Havia muita coisa de interessante acontecendo em muito pouco tempo enquanto lá fora o frio já não convencia ninguém de nada. Tremera o pobre rapazinho ao sentir as verdades daqueles versos dúbios, ignorantes e deslumbrados. Era tanta falsa intensidade que um verdadeiro terremoto lhe assaltava enquanto prosseguia com os olhos a devastação do texto apressado escrito a mão num tempo já antigo.
Saiba que o dinheiro que eu ganho é pra desmentir qualquer lógica e que nada disso vale nada enquanto ninguém veio. Sacrifico o meu cordeiro, ejaculo pra fora, mas por favor, me venha com a dor em gotas leves e suaves que enquanto há tempo há salvação. As folhas das árvores estão verdes, mas tão verdes que eu não me agüento em si e tenho vontade de beija-las. Por hora não faço nada. Aguardo a tua resposta e teu abrigo no leito do teu silêncio. Buenos Aires, dois mil e alguma coisa que eu não sei e não me atreveria a dizer, assim estava assinado.
Não me atreveria a dizer pois veja bem você a mentira que me caiu bem! A mentira me caiu tão perfeitamente bem que saí por aí desfilando verborragia implícita, descascando a casca do castelhano, cozinhando em boa maria um francês cheio de efemérides. A vida era tão mas tão passageira que lhe chegava a ser estranha, indiferente.
Sim, te juro, a minha vontade é renunciar a cada palavra e beijar o mundo. Desnudar-me por inteiro, tirar o casaco primordial e te contar besteiras ao pé do ouvido. Para isso começarei com doses anti-homeopáticas de tédios emocionantes misturados ao contrário do meu bom senso.
Te juro, a história começava mais ou menos assim:

domingo, outubro 05, 2008

Nossa Senhora do Buen Ayre

Se voce vier com lágrimas
Eu venho com o dobro
Mas te adianto saudade
E choro contido
E beijo partido
E bossinha

Mas se voce vier com lágrimas
Che que onda
Eu venho com baldes e faço valer a cançao

Sem abraço na intençao

Que se yo
Tangozinho insípido desce cortando a garganta
Desce sangrando seu sambinha

Nossa Senhora do Buen Ayre
O que passa é que o tempo passa
Dá-me sorrisos pela rua
O quanto antes

Amém

domingo, setembro 28, 2008

Angelitos Negros

"Pintor de santos de alcoba
si tienes alma en el cuerpo
por que al pintar en tus cuadros
te olvidaste de los negros?"

sexta-feira, setembro 12, 2008

Teorema - Pasolini

"Todo deberá presentarse como si fuera perfecto
Basado en reglas desconocidas que por lo tanto
No podrán ser juzgadas
Como um tonto, sí, como un tonto.
Cristal sobre cristal, porque no soy capaz de corregir nada, pero nadie deberá darse cuenta
Pero nadie deberá saber que es el resultado de ser incapaz, impotente
Deberá parecer una decisión firme, segura, de altura y casi dominante
Un pobre idiota
tembloroso
A la ridicula melancolia de quien vive degradado por la impresión de que algo ha perdido para siempre."

terça-feira, agosto 12, 2008

Esta cidade faz frio

Nesta cidade faz frio
Tudo nesta cidade faz frio
E as pessoas zombam do frio
O sol faz frio
A rua faz frio
O vento faz frio

Inclusive o amor faz frio

A praça faz frio
A música faz frio

Até mesmo a geladeira

Faz mais frio que o frio

E de manhã as notas musicais fazem gelinho na minha janela

Onde eu escrevo seu nome
Que faz frio

A promessa do verão faz frio
O papel faz frio
O toque faz frio
A luz faz frio

A primavera faz frio
A palavra faz frio

E inclusive o calor
Faz frio quente

Frio triste.

segunda-feira, junho 02, 2008

José Carlo - O Retorno

José Carlo esteve surpreso com a resposta que recebeu. Não era a toa que lera Lorca com uma mistura de arrepio e indiferença. Ele pressentia ali algo muito forte que não conseguia exprimir. Algo tão forte que dizia respeito ao que ele cantaria naquele início de milênio quando se atreveu a descer de bicicleta a serra da Mantiqueira. Fora lá, lá num canto qualquer daquela serra, descansando na sombra de uma árvore que os primeiros versos daquele poeta o feriram de maneira jamais vista.

As realidades que se configuraram ao seu redor, a sua desorientação, a sua obstinada busca de sentido na metrópole junto ao mar fizeram com que José Carlo passasse para uma escrita mais hermética, questionadora e rara. Rara porque são poucos os poemas que encontramos ou que ele mesmo nos oferta.

Experimentei um lapso de genialidade ao avaliar a relação que a leitura da obra completa de Lorca teve com a vida de José Carlo. E pouco tempo tive para comprovar tal hipótese ao ver sorrindo pra mim um email do próprio José Carlo


Poema novo em folha e em tela de computador, recebido na minha caixa de emails no dia 02 de Junho de 2008 exatamente as 15:54 de uma tarde fria:

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O RETORNO


LORCA
CALOR
CARLO
CARLO
CALO
LOCA
CAROLA

POEMA PROCESSO POEMA PRÁXIS POEMA CONCRETO LEGÍTIMO POEMA ABSTRATO LEGÍTIMO TEMPO DE GUERRA LEGÍTIMO TEMPO SEM SOL LEGÍTIMA GUERRA COM SOL LEGÍTIMO AMOR DESVALIDO

NA TUA CASA QUEIMAM TOMILHO NA TUA CASA QUEIMAM TOMATES NA TUA CASA QUEIMAM DESGRAÇA LEGÍTIMO POEMA QUE INSISTO EM COMER NUMA ÉPOCA DOMESTICADA.

Época Domesticada : Citação Erudita : "Em terra de anos 2000 quem tem anos 60 é maluco"


2002’s agito da rapaziada no cais do porto todos sabem que a nossa realidade é outra todos sabem todos sabem mas todos não dizem

plano de assalto: tomar de vontade o avião para Nova Iorque e declamar toda a obra de Lorca para a traidora que Elektrificou a minha bossa Nova Gilbertiana, a Bebel, que me negou ajuda e me bebeu o lirismo que pensava ofertar.

Descolarei a Glória do Asfalto e na sua Igreja farei um auto-de-fé onde renderei glórias a vontade de vida que levava ao Calor de Carlos que pra longe fora

Legítimo poema de merda termina com acento no cú

LORCA
CALOR
CARLO
CALO
LOCA
CAROLA
CARLOS
SSSSSSSS
SSSSSSSS
$$$$$$$$$
$$$$$$$$$
TE COMO POR R$1.773,00

Granada, Sevilha, Madrid, Córdoba, Barcelona vocês cinco quietas fiquem e esperem o retorno de Jedi.

Il est mort, il est mort, il est mort, il est mort, il est mort

Mas Doce Pão de Açucar cozinhe com água de coco minha paixão Bossa Suja.

Água de esgoto, água de esgoto, água de esgoto a minha poesia mangalou três milagres na marginalidade consentida no desfalecimento da linguagem

Percepção Poética, early 2000’s: açaí, açaí, açaí, sou um açaí e sou bebido pela boca dos rapazes aflitos que nasceram das chocadeiras da Av. Nossa Senhora de Copacabana e da Barata Ribeiro.

Carlos, estimado señor, tema o tempo que me come pelo rabo antes de me ligar com um atraso de uma semana.

Nova Jersey, Nova Jersey, é verdade que você tem contactos fortes e pode me trazer o meu coração numa embalagem de coca?

LORCA
LOCA
CARLO
CARLOS
CALO
CALOR
CARLITO
CALORITO
CALHARO
CARALHO
RALHO
RALHO

POEMA CONCRETO NÃO DÁ CERTO COMIGO POEMA CONCRETO É FALÁCIA QUE SE QUEBRA QUE SE ABRE TODO AO MEU ROMANTISMO DOLORESDURANIANO

DOLORES DURAN DOLORES DURARÃO ATÉ O AMANHECER DE OUTRA VIDA

Mas tuas doces dores doirarão o céu com e com literatura e com muita literatura que escorre da tua boca onde seu corpo jovem descansa e me escorre poemas velhos e novos onde em teus lábios adivinho sonetos raríssimos e esplendores Bilakianos

Eu, poeta, desdigo
Eu, pueta, confesso
Eu poeta, no fosso
Eu pueta admito:

Amo. E morto amo. E vivo amo. Deus. Deus!?!? dEUS é raridade melancólica

ATO EM REBELDIA EXPLÍCITA. AS POESIAS TÊM O DIA CONTADO. NÃO SE FAZ MAIS NADA COMO ANTIGAMENTE. O MUNDO DEU TILTE E A PÓS-MODERNIDADE QUE LEVO ENTALADA NA GARGANTA NADA MAIS É DO QUE A ANGÚSTIA VELHA QUE SEMPRE EXISTIU.

Uncut cock.

Nos tempos de Abraão - Flashes e Tomadas do Patriarca andando pelo deserto.

Povo eleito.

Eleição de bairro:

"Eu, quando eleito, acabarei com a Pederastia reinante. E subirei com o Povo de Deus os degraus do paraíso"

O Candidato que mais respeita a religião o candidato que mais preza a religião o candidato que mais valoriza a religião o candidato que mais ama a religião o candidato mais devoto o candidato que é enviado por Deus, o candidato que substituirá o mandato de 2000 anos de Jesus, o candidato antenado ao processo de Aquarização, de acumulação capitalista diversas vezes anunciou que sua mudança será lenta e gradual e que a continuidade é a sua palavra de ordem.

(Jornal de Icaraí, 23 a 30 de Fevereiro de 2033)

A. C. - Carolina ; Ana - conozco tu poema pero...

Angústia tropical. Sarro aproveitado
Paixão heterossexual
Bicos de seios arrebitados
Duros qual pedregulhos
Pitombas em minha boca
Bunda avantajada


Nova Friburgo Jam Session - "Vinho, vinho e mais vinho"


Cabana em Piraquara
Vinho, vinho e mais vinho
Gordura de galinha congelada pelo Frio
Vinho, vinho e mais vinho
Curitiba em vinte minutos
Vinho, vinho e mais vinho
Bagos enrijecidos
Vinho, vinho e mais vinho
Difícil divisar corpo e mente
Vinho, vinho e mais vinho

VINHO POR MEIO DESTA PROCLAMAR O RETORNO DAQUELE QUE DISSE QUE NÃO MAIS VOLTARIA

VINHO POR MEIO DESTA SOLTAR FOGOS DE ALEGRIA

AO TE SABER PERTO

AO TE SABER PASSANDO PELA AMÉRICA CENTRAL

AO TE SABER NA CHAPADA

AO TE SABER que estou morrendo de saudade este samba é só de nota falsa que imprimi pra pagar a passagem até o Galeão.

Ãoãoãoãoãoão – Tom Jobim – Tom Jebãoãoãoãoãoãoãoãoão

inhoinhoinhoinhoinho, sai do meu Cayminho

Say do Meu Caminho que eu Tô Passando com meu moreno
Say da minha estrada que eu to levando tominho
say da minha frente abre a alas que eu quero passar despejando pétalas de rosa na linha vermelha onde desenhas meu coração de cristo

Sai da minha frente e chamem os Juízes de Fora e de Dentro e de Dentro e de Fora para oficializarem nossa união civil em Montévideu - La Barca - rumbo aos bons ares que me faltaram durante esse tempo em que ele esteve ausente

Sai da minha linha que a minha lua de mel derreterá no céu da Mantiqueira o meu pacto primordial travado com aquela senhora escura que me prometera o meu amor em três dias

Sai, sai, sai, sai
sai, sai, que o terminal um é mais longe
e eu apressarei as pernas para ver aquele que me traz a primavera novinha em folha
importada com megapixels das cores que não conheço


DODECAFONISMO:

EU TE AMO E ISSO É UMA MERDA



(José Carlo, 25 de Maio de 2008)

sexta-feira, maio 30, 2008

CNBB e Bancada Religiosa

CONFESSA COM TUA BOCA QUE NOSSO ESTADO É LAICO

CONFESSA COM TUA BOCA QUE NOSSO ESTADO É LAICO

CONFESSA COM TUA BOCA QUE NOSSO ESTADO É LAICO

Neo-obscurantismo
Neo-conservadorismo

A mesma ladainha velha.

RESIGNA-TE!

quinta-feira, maio 08, 2008

Platonismo Complicado I

Meu olhar pega o teu olhar na mão
E faz aquele carinho
Meu olhar escapa do teu
Desinteressado
e sai de fininho

Te sei arredio e pretensamente tímido
Ousada por demais é a tua timidez que se insinua pra mim
E já adivinha os momentos de mais tarde
Onde a música nos pegará no colo
E nos ensinará o amor
Como só ela sabe assim

Enquanto isso não acontece
Te olho
De esguelho
Pelo espelho
Fosco do desejo

Enquanto isso não acontece
espero
desespero
e espero novamente
O amor que tece

costurando o tecido mais belo com o fio da tua luxúria
descosturando com a lascívia pretensa da minha lamúria
poesia ralé
que são fodas não dadas
e sim inventadas
escrevinhadas
enfeitadas
e metidas a bestas
que com o leve toque do teu olhar recuperam o fogo das cinzas
do amor mais devoto
e se tornam poesias sinceras
lindas quimeras
a rasgarem-me a roupa

quarta-feira, abril 30, 2008

A Paixão de Abril

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Esclarecimento:

Assim como a idéia de outono é de ronavação, proponho aqui um anti-outono. Não algo como o declínio ou o contrário deste. Não é a idéia das folhas depois de nascidas e gastas que caem. Não, não é nada disso. A idéia do meu Abril tem a ver com um outono arrependido. Com algo que não teve um apogeu para se chegar numa queda. Como algo que nunca aconteceu. Acho que a melhor imagem poética que tenho para essa categoria tão subjetiva são os livros que um dia vi numa biblioteca: eles nunca tinham tido a chance de serem lidos. Foram livros comprados pelo estado há muito tempo e estavam esperando a catalogação numa caixa. Livros novos, nunca folheados, porém com cheiro de velho, amarelados e já com manchas. É essa, é essa a metáfora de um amor nunca acontecido de uma paixão de Abril. Um tipo de tristeza concentrada.

É um outono mesquinho, um anti-outono. Ou uma primavera inchada que morreu sem nunca ter passado por um verão.

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Abril desfalece no meu peito nublado
Recosta sua fraqueza em tão ínfima roda

Abril já não julga mais ninguém
Abril vermelho ainda de raiva
De vida

Abril desfalece no outono aguado

Abril já não sabe de quem é dono

Abril é a incerteza da senilidade que já pede para ir embora

No canto esquerdo havia outra coisa não muito nítida e clara.

Era Sara. (Era verdade que Sara era doente)

Sara foi uma mulher nascida no século passado. E eu tenho uma descrição de sua vida que me foge sempre quando quero escrevê-la. Sara saiu pela primeira vez a conquistar o mundo. Ela tinha uma vontade de mundo do tamanho dela. Não, não sei da sua morte.

Sara me faz lembrar da paixão de Abril. Um Abril platônico. Platonismo maior nunca existiu quando era eu o ser apaixonado a fazer uso do amor. A denúncia constante do eu gosto tanto de você.

Abril já abraça com carinho o meu sentimento mesquinho.


O amor perdido, o amor que não foi, o amor que abortou
Um sentimento cobarde, um sentimento covarde, um sentimento
A vagar o olhar a procura da presença, do abraço, do leve toque, do som


Eu gostava de me agazalhar na tua voz quando sentia frio de vida
E só de ouvi-la eu me sentia confortado, cada som, cada frase era uma carícia plena
Cada silêncio era um lençol que eu despia que eu cobria meu próprio corpo

Que tinha fome do teu olho que eu tanto olhava enquanto falava
A poesia concreta descrita pelo teu olhar fugidio arredio
O pretenso movimento de teus lábios recortados e apressados

As tuas nunca quase falas. As tuas confissões hesitantes.

E sentir frio de vida naquela altura do ano era a mesma coisa que dizer não vá embora fique aqui.
Era se atrever a pensar no seu toque e na sua pele
Era o teu calor que adivinhava no meu sofrimento no meu peso de estômago

Eu, eu levava o mundo
Uma vontade do mundo
Uma paixão inconfessada
No meu estômago

Um par de mãos que tremiam ao pensar no teu toque na tua nuca nas tuas pernas

Eu, eu era um excesso de par de mãos
Que cantavam a melodia do toque de teu olhar :

- Fall in Love -

A proposta estética de uma canção dum Outono apaixonado.

Imersos no amor chegamos a superfície
Trazendo a sua cobertura
Grudada a nós

O Fel
Fel in Love

Que nunca provamos

quarta-feira, abril 16, 2008

Poeta Mineiro

Descobri um poeta! Chama-se José Carlo e é de Minas Gerais. Publico aqui uma poesia sua que achei interessante:



"INTENÇÕES POÉTICAS - PARTE I


Minhas intenções são boas assim como os são os cabritos que vagam em Jericó.
Tinhorão adora falar mal da música.
Eu quero ser um Tinhorão da poesia macarrônica.


A poesia macarrônica tem má-fé
Nem sincera é.


Baby, eu declamei o Vapor Barato enquanto te babava as costas
E minha mão passeava pelo teu corpo de peão valente


A sodomia durou até o pôr-do-sol na praia da Macumba
Você, atrevido, pulou na areia e deixou-se ficar nu
Na escuridão seríamos dois corpos consumindo a nudez


Aprendi o braile do teu corpo
E sabia ler parágrafos grandes e sentenças duras


Como aquele título arredio e tímido

Baby, pudesse eu falar inglês te cantaria uma canção
Para o meu namorado, amigo, amante
My litlle darling


Moi, je taime
Putinha do meu lar


As folhas aqui em BH estão verdes
Assim como o Castelo
E ficarão cada dia mais verdes


Minas.
Minas é o Rio sem mar.


E eu, eu sou nada sem você" -

(José Carlo, Janeiro 2007)

domingo, março 16, 2008

Os monarquistas de Niterói

"Eu vim aqui para fazer uma denúncia. Trata-se de um fato grave ocorrido na noite passada. Eu vi com meus próprios olhos que Deus há de enterrar um camelô atrevido vendendo mercadorias para uma senhora respeitosa.
Ele estava ilegal e eu logo pensei no meu índio viril obediente cristão reprimindo esse criminoso. Araribóia é o máximo. Confesso que caio de paixão pela sua dedicação e sua fé inabalável no poder de Deus. Faria como ele e renderia homenagens mil. Afinal, os tapuias eram por demais enfadonhos e não se rendiam a política dominante. Fato é que tive vontade de esganar aquele miserável. Araribóia substitui minhas invocações fascistas reprimidas que calam fundo. Todo aquele corpo nesse símbolo da operação, esse logotipo, toda aquela truculência tipicamente brasileira você sabe com quem está falando me deixa até excitado. Acho que Araribóia é bicha."

(Emiliano Marcelino)


Venho por meia desta proferir sentenças suaves sobre um texto lido.

Os Monarquistas de Niterói ( que não são os Inocentes do Leblon ) existem e estão estruturados em torno de um conceito ainda não definido. Podemos dizer que são arquétipos de uma classe política repleta de baluartes da cultura niteroiense. Eles fazem parte da Oficial Hight Culture local.
A afamada Academia Fluminense de Letras localiza-se na Biblioteca Estadual de Niterói. Lá, numa sala que teima em prender o tempo pelo cangote, derretem retratos de velhinhos simpáticos e bigodes a mil. Livros nunca deflorados amarelam-se numa lascívia anti-sexual. É uma coisa meio estranha pensar na referência a negatividade do nosso positivismo brasileiro deveras infantil.
Quase que ouvimos os berros surdos e abafados de Parúsias, Procelas e Arrolos mofando.
Enquanto isso, a Biblioteca amanhece defecada pela população que tem sua entrada barrada, seu acesso aos livros restritos.
Fora o tempo em que a Condessa denunciara o mijo no teatro municipal. (faço referência aqui a uma crônica escrita por ela no início do século passado sobre o eurocentrismo decadente inicial do teatro municipal. Quem quiser achar a crônica procure pelo título: "a civilização européia nos deu muito mas me deixou com dor de barriga" - Condessa de Marília Paula)
Hoje quase cem anos depois temos a metáfora viva de uma concepção elitista e megalomaníaca de cultura e sua conseqüência nefasta.
As fezes que circundam a biblioteca desfalecida falam por si só. É necessário um registro sociologizante-poético sobre isso que acontece em tempos atuais.
Os monarquistas de Niterói são pouco para tantas fezes. E eles ainda nem enfezados estão para com o que acontece, para com as doutrinas deturpadoras. Remeto para o poema de Emiliano Marcelino: ("Descubra o católico progressista que há em você e venha conosco desenvolver o Brasil" Piracicaba, 1958) E não há D. Pedro II que os salvará da turba afoita e dos barulhos radiofônicos. Essa gente é perigosa e traz dentro de si os germes da revolução.

Interpreto as fezes humanas como protestos surdos gritados ao ouvido de uma direita pedante que flerta as vezes com a P.Edx e com uma pouca classe de detentores de um pedantismo e uma erudição decadente.

Araribóia está com eles e eles o aclamam herói. A História para eles ainda fede ao positivismo tacanho e imbecil da nossa república velha que nem sequer tocou nas carruagens da monarquia.

E eles ainda acham que os jovens de nada sabem.

Padre Perereca está comigo. Soube por reunião mediúnica que Niterói é um centro cósmico de baluartes falsamente inflados.

Entenderão eles o Manuel de Barros?

Soltará você o Barro primordial em forma de poesia concreta defecando no Vaso Chinês estranho mimo encarnado em biblioteca abandonada pelo poder público?

A turma dos garotinhos cumpriu sua importante tarefa ao desmerecer parte dessa tradição pseudo-positivista-católica-doce-de-abóbora ao trazer a cena a debilidade da religião anti-intelectual.

Sou pela república e nela ponho fé. Os poucos padres desse círculo monárquico não sabem de nada. Deus e Jesus abandonaram a monarquia há tempos.

Li algo do Instituto Histórico e Geográfico de Niterói.

E me inspirei a pensar a anti-dialética dos dias atuais.

O XIX ainda existia para mim e eu pude tocá-lo e sentir seu corpo e provar de sua pele. E eu que achava que o XX já ia pelo ralo vi que tudo é uma questão de temporalidade conflitante.

Hesito entre os XXI anos de minha vida. "Desde que não consegui dizer que tava com vontade de te dar um beijo na boca estalado." Esboço de uma poesia de José Carlo.

Estou trabalhando no ensaio de enquadramento de categorias sociológicas que permitir-me-ão cientificamente avaliar o nível exato de historicidade que aquelas fezes e aqueles escritos contém.

Espero retorno.

sábado, fevereiro 23, 2008

E faz e faz e faz

O amor um dia me fez rei
Quando cai de boca na decisão
Carnal
De que a vida não é muita coisa
E o mundo é gente pra caramba

Gente que sofre
Ri
E faz
E faz
E faz

O amor um dia me fez bicho
Degradado e humilhado
Que sai de fininho
No peso de uma paixão

Porque gente às vezes é vazio
Tão vazio que a gente nem fala
Nem sente
Nem toca
Mas chora
Chora muito

Gente às vezes nos dá ânsia de boca
De engolir o desejo
Há dias sublimado

E quando há paixão temperada
E quando há amor sem sal

A gente vomita o desejo
O corpo
A gente
Vazia ou não

Em nós mesmos

Animalizando a nossa pretensão humana
Na pretensa sobre-humana vontade
De a tudo controlar

Com amor

O ódio.

quinta-feira, janeiro 24, 2008

O Verão não é Cristão

Amor. Amorzinho. Amorzinhozinho. Amorzinhozinhozinho. Amorzinhozinhozinhozinho.

De tão piquititinho.
Meu amor por você é interminável.

É grudento. É um encosto.
A te lamber as costas.
Enquanto o rosto lavas.


No verão a gente mata a poesia.
É fato.
Mas a gente se escreve de outra forma.

Acho que a poética só volta mesmo lá pro outono.
No verão tudo derrete numa sacanagem pura.

No verão
O nosso amor se faz no claro.

Da noite ainda dia.

No verão a gente vê a nossa nudez.
A gente não vê sensatez.


No verão a música mais brega é a nossa.
Bagaceiramente vamos de bar em bar.
Atrás de comida sincera.

No verão a gente finge que não trabalha.
E quando chega em casa o amor atrapalha
Tanta sacanagem mal-intencionada