quarta-feira, dezembro 03, 2008



Vem, depressa, vem depressa, pois o Deus está vindo antes, eu quero tudo antes do Deus, eu quero tudo antes dele, eu quero ele, ele mesmo, ele mesmo purinho na sua verdade, para um dia perguntar tudo, se botaste no mundo tanta gente.
Tanta gente. Semana que vem é a minha vez de não ser mais. Eu estou indo embora e não te garanto que volto.

A vida após a morte é uma mentira.

Eu vou ficar aqui fazendo poesia de mentira, cevando mates imperfeitos, carioca da clara niteroiense ressentida, tocando de leve a pele desta cidade, sonhando com Salvador.

Euzinho mesmo fiz o que tava escritinho. Alizinho tava escritinho que um rapazinho ia chegar devagarzinho pelos livrinhos e ia dizer alguma coisinha sobre estar sozinhozinho. Era Guimarães! Era ele, chegando, devastando as bibliotecas ideais, dos planos das idéias, e haja Cecília Meireles pregada na parede, renovação católica.

Eu nunca entendi aquela galera que se converteu ao catolicismo. Coisa esquisita.

O catolicismo que eu conheço não rima com poesia nem com modernismo. Fiquei com a cuca fervendo tentando entender aquela gente. Prefiro alucinógenos e prefiro leituras racio e irracionais.

Semana passada sonhei que estava no Rio. Estava fazendo o que todo mundo faz. Andando na rua. E chovia muito, chovia horrores e depois fazia um sol lindo demais que a tudo secava. Tive tempo de olhar o caju, o cemitério, e passar pela praça quinze, tão alheio ao centro da minha metrópole. Terra estrangeira. Eu não sou em ti. Antes de tudo, me cresci na Gamboa.

Quanto a sua nova casa eu adorei. Uma garrafa só de whisky renderia muitos sofás e com o volume na medida certa teríamos Miles Davis e você recitaria com aquele brilho nos olhos todos os poemas daquela poeta que você me mostrou com um assombro lindo. Relaxo, na medida do possível, fantasio tudo, e já preparo a chave perfeita que abrirá tua porta e te afogará num abraço.

Dou espaço para a sua angústia argentina que já se impacienta em pleno dezembro, sonhando nada mais nada menos que antes de março quando o verão chegar ao fim.
A argentinizaçao do mundo está se completando de uma maneira linda. Assim louvaremos mais a vida e é preciso dar banho de crise em todo mundo.
Ogum é de lei e ta aprendendo espanhol, tirando qualquer nasalização pós-pré-africana.

Vem pra cá que a gente vai ser feliz na medida improvável da minha loucura.

Vai minha tristeza e diz a ele que o ser nao equivale ao estar como te explicar
Diz-lhe numa prece que o regresso é o sofrimento dividido pela realidade.
Sem ele a saudade é melancolia, é nostalgia, é algo do blues, sem açucar preto e branco.

Pois a baía de Guanabara ainda tem peixinhos nadando. E dentro dos meus braços os abraços brotarao assim no teu corpo.


To aflito demais. Já gastei tudo pelo telefone e cortei no meio meu choro. Madonna disse que é muito fácil dizer aquelas três palavrinhas quando se está longe. E é verdade, nunca a usei tanto. Calarei a sua boca em ótimo estilo.

A Maysa cantou a música do The Doors. Você acredita? Fiquei pasmo e não pude ainda escutar o disco que comprei.

Te deixo um beijinho saudável, risinho descontrolado, vontade de comida profunda.

A arte ou El Arte?

Hoje um abraço se partiu de verdade. E eu não pude fazer nada. Sou um homem inautêntico ao extremo. Depois que a gente morre a gente morre.

Era tão fácil quando Deus existia.

Mas assim é melhor.
Desesperadamente, alguém que te queria muito.

Henrique.

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