sexta-feira, dezembro 12, 2008

Saudosismo 2008

Mas volver assim tão temprano, assim tão de repente tem as suas surpresas. Reinvadi meu quarto e ativei uma espécie de mundo, de engrenagens que pareciam silenciosas numa ferrugem nada mais que aparente. O tempo passou e deu tempo deu ir pra janela. E agora dessa janela observo, toco e cheiro os cadernos, livros e presenças que abandonei quando daqui parti.
Mas já não condiz. O tempo do verão já não condiz com o inverno que deixei. Com o outono que esperei.
Como o estômago cheio de brasilidade reabri o Me Segura do Waly e me deparei com a seguinte frase que me estava e me cala consentindo as certezas mais vãs:


“esta carta por exemplo é um texto de amor. Furo meus olhos para alcançar alguma medida de eternidade. medida de eternidade. (...).”


Corro atrás de elementos ficcionais! Ficcionais! Talvez sim, uma menina quase mulher redescobrindo seu violão e se refazendo com as notas há muito tempo não tocadas.
Tudo transcorreu sem pressa. Na madrugada um homem bonito e educado me ajudou a subir. Fiquei embarassado com tanta impessoalidade que mordi a língua e disse ai.
Deixei Ana Cristina lá. Há tempos que venho repetindo mas a bichinha é danada, grudou na minha poética como carrapato do mato.

Não sei o que me dá. Antibiótico mata a flora intestinal. Interessante e triste. Matar pra renascer. Aquela escrita era estilhaçada e eu ensaboei com um castelhano á la Rayuela.

Ângela Maria está no piloto automático.

A ver o tempo passar, navios que vão e voltam. Nunca cantei tanto Vapor Barato como nas últimas semanas. Buenos Aires é o cenário perfeito para a gravação a ferro e fogo dos movimentos dos barcos.

Assim, quando o verão já ta quase batendo a porta bebo muita água que saio a fazer xixi noite a dentro.

Estranho ler tais versos. Acho que não consigo atingir mais essa intensidade. Nunca vou esquecer essa frase. Acho que não consigo atingir mais essa intensidade. Acho que nunca mais conseguirei atingir essa intensidade. Acho que não consigo mais atingir essa intensidade. Que eu sei, uma miríade de eufemismos, lindos e todos belos para dizer processo de pouso, terra chamando. Nunca vou esquecer essa frase dita por outrem que me doeu intensamente. Essa ou aquela intensidade. Meio que a maré baixou. E deixou no destapado todo aquele mundo que quando criança eu descobria. Acompanhar o caminhar dos caranguejos e correr a outra margem. Meio que a maré baixou. E no livro de memórias ela é fundo de mar, intensa e profunda. O coração é frágil, a vida é frágil. Tudo acaba num segundo que a gente fica com medo de viver. Tudo passa sobre a terra.
Mas muito fácil.

O negócio é escrever, meu amor. Eu, por exemplo, quando tenho lucidez, assim faço depois que voltei de Salvador escutando loucamente Leny Andrade, quem disse que a bossa era daquela forma e tinha nascido na zona sul? Assim que a frase em inglês era algo de there’s a price to pay, qualquer coisa assim, que dizia do preço que a gente tinha que pagar. A Bahia é um estado gigante e no Espírito Santo eu fiquei em suspensão.

Niterói. Beijo na rapaziada. Abraço nos irmão.

Quero te ver.

Não se perca de mim, não se esqueça de mim, não desapareça,

Hein?

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