sábado, dezembro 13, 2008

Ao som de Sylvia Telles, "Carícia", 1957
Che, te escuto e te conto que estou só na base da Sylvia Telles desde que cheguei. Te confesso que fiquei muito tempo somente adivinhando de longe a musicalidade daquela que posteriormente veio a me conquistar.
É que, é que na minha ignorância confundi superficialidade com fugacidade. O quão santa e o quão pura foi a minha ignorância no eterno namoro entre esses dois conceitos que pouco sabia e pouco conhecia.
E acho que com isso eu ficava arredio, ficava de longe observando contando o horário dos tempos, cumprindo meu papel obediente de longe brincando de rotina. Sabia que essa fórmula teria o seu fim e que qualquer desvio seria o suficiente para rasgar a minha roupa e entrar no eixo sem eixo. Isso sim era ser o fugas.
Mas tinha o Carlos Lyra cantando aquela música que a Bethânia gravou no cd “que falta você me faz” e que eu ouvi em terras distantes cantada por uma brasileira num festival de música de seu país. E como ela cantava. Das interpretações escutadas a do Carlos Lyra e da tal moça que eu esqueci o nome me conquistaram. Entrei no universo da letra, escapei-me e comecei a pressentir a tal fugacidade. Tenho um certo desconforto ao escrever este adjetivo. Na realidade eu nem sei se ele é escrito assim. Antônio Cícero fez a letra da música que a Marina canta. E eu que achei que seria superficialidade, descobri as distintas matizes entre esta e a fugacidade, entre o fugidio. Fiquei com vontade de ler o que a Cecília Meireles falava sobre momento fugidio.

Pensei em pagar o preço do existir. Em criação. Até porque tinha e tenho a certeza absoluta que a vida se resume a uma só.
A minha cidade está ficando meio sinistra. Parece magoada. Parece diferente. O intruso não sou eu. Eu que nada fiz cheguei somente de longe e vislumbrei tudo isso. Mas como dizer que eu a amo? Que eu posso responder o tempo nublado com um sorriso daqueles?

Foi assim: saindo da Lapa, daquele sobrado que fica pertinho, pertinho mesmo daquela igreja, da sala Cecília Meireles. Nunca achei que lá poderia entrar. Mas entrei e conversei com um grupo de amigos que lá estavam. Eles me falaram da Eliseth Cardoso. E me emprestaram alguns discos e disseram mais ou menos assim algo de sim, tem que escutar do início ao fim para ver o sentido orgânico daquilo tudo. Ali, ali mesmo pertinho tinha o museu da imagem e do som e Antônia muitas vezes me confessou que já experimentou transar no máximo volume as suas canções preferidas e dizer que a ela lhe interessava a queda do municipal e num orgasmo crescente gostava de se fazer presente aos visitantes que naquele museu iam. Foi interessante, interessante demais que eu mesmo tive vontade. Acho a exposição dessa maneira algo tão lindo que fiquei tentando adivinhar quando ela faria isso de novo.
Achei tão lindo, até porque deixava a mostra um LP, um dos meus preferidos daquela cantora que na minha opinião ela estava na sua melhor forma. Era uma homenagem a um grande compositor. Me fogem os nomes. Tinha algo a ver com uma receita de Vatapá.
O teu apartamento está me saindo pelos ares. Está se descompondo e não adianta o meu esforço em tentar mantê-lo.
Amanhã entra o ano.
A yoga não está adiantando. Eu tenho vontade de comer o mundo.
Volto já.

Um comentário:

Evelyne Furtado. disse...

Legal encontrar a mesma letra do poeta Antônio Cícero. No meu blog também encontará a tranquilidade de Cecília Meireles quanto á fugacidade que me inquieta. Eu prefiro o "fullgás" e sinto falta quando alguém com que eu faria um país se vai.
Valeu, Henrique.