terça-feira, março 16, 2010

vênus na casa 4

segundo a minha amiga, ser de peixes com ascendente em câncer é bafo. lua em câncer então nem se fala. daí ela veio com sinastria boladona, revirando gavetas, desejos e paixões. Fiquei triste e consternado ao notar lá no fundo da gaveta o único signo sozinho, sem lua, sem sol e sem hora. Pensei em vênus mangalando três vezes meu medo mais cínico matando mais um Deus dentro de mim.

quinta-feira, março 11, 2010

Samambaia

As coisas funcionam da seguinte maneira quando a tarde de qualquer domingo se decide pela pretensa introspecção. Não, não há espaço para mediocridade. Não há mediocridade no ócio.

A bela dama que cantava canções de amor. Tão bela. Morreu ela. Coitada.

Deixa eu começar pela samambaia. Deixa eu explicar direitinho o que ela representava. Abundância. Era assim, tão abundante, vistosa e alegre, verdadeira anfitriã da casa denunciando sua presença escandalosa e silenciosa, um exagero de verdes, verde forte, verde claro, verde branco e verde negro. E eu tão tímido... Eu tão tímido esperando as portas se abrirem, segurando firme o presente embrulhado com carinho, ofertando todo o meu ser no beijo do encontro, na sua sala, na sua vida pensei finalmente em catarses e declarações. A samambaia, milenar, sábia, me fitava de longe e ria com esmero de gente velha e sabida que deixa escapar assim aquele fiozinho de juventude bem vivida. Dos primeiros cigarros aos beijos demorados esperei confessar uma vida. Não queria eternidades, estava farto de pequenas eternidades em tardes tão sonhadas. Queria a sua pressa ofertada nua e crua, o seu olhar perdido nas chaves da casa, o som da noite lá fora insinuando para nós a sua música.

terça-feira, março 02, 2010

quinta feira de cinzas

Eu quis guardar para mim o último trago do último cigarro encontrado debaixo da cama. O outono já fazia as honras da casa quando a lembrança daquele carnaval se fazia distante. Ao longe via os restos de sua fantasia intocados desde que daqui partiste como quem vai para a casa ao lado. Eu busco então a mesma paz de antigamente na minha casa mas é inútil. A casa toda me persegue e se mostra indiferente a minha dor a minha saudade. E como monge resignado sigo a dura rotina me escondendo no egoísmo maior da tristeza.
Mas as vezes a felicidade bate assim. Mesquinha. Repentina. Pobre e suja. E eu, desorientado saio assim a escrever as mágoas em momentos de felicidade forte.
Não quis que você fosse embora. Odeio a palavra saudade.
Até o som da batucada é ruim sem você
sem beijo ardente
sem nada.