quinta-feira, março 11, 2010

Samambaia

As coisas funcionam da seguinte maneira quando a tarde de qualquer domingo se decide pela pretensa introspecção. Não, não há espaço para mediocridade. Não há mediocridade no ócio.

A bela dama que cantava canções de amor. Tão bela. Morreu ela. Coitada.

Deixa eu começar pela samambaia. Deixa eu explicar direitinho o que ela representava. Abundância. Era assim, tão abundante, vistosa e alegre, verdadeira anfitriã da casa denunciando sua presença escandalosa e silenciosa, um exagero de verdes, verde forte, verde claro, verde branco e verde negro. E eu tão tímido... Eu tão tímido esperando as portas se abrirem, segurando firme o presente embrulhado com carinho, ofertando todo o meu ser no beijo do encontro, na sua sala, na sua vida pensei finalmente em catarses e declarações. A samambaia, milenar, sábia, me fitava de longe e ria com esmero de gente velha e sabida que deixa escapar assim aquele fiozinho de juventude bem vivida. Dos primeiros cigarros aos beijos demorados esperei confessar uma vida. Não queria eternidades, estava farto de pequenas eternidades em tardes tão sonhadas. Queria a sua pressa ofertada nua e crua, o seu olhar perdido nas chaves da casa, o som da noite lá fora insinuando para nós a sua música.

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