sexta-feira, dezembro 16, 2011

caderno antigo

Abri caderno antigo.

Li o que não devia.
Estava ali, tudo escrito e esquecido e ainda vivo
As palavras, os momentos e as imagens


Que fazer para exorcizar essa poesia?

Que fazer?

sábado, novembro 05, 2011

a mulher escrita





É claro que a chamada literatura confessional é um erro, uma espécie de aberração perversa e sádica. É evidente que o eu não tá com nada, o eu já não é mais como era antigamente. Antigamente eu gostava de ser mulher de 40 anos com vestido vermelho varrendo a casa nas manhãs de sábado. Mas não. Não há o que a linguagem possa dizer quando o texto começa naquela primeira pessoa.



Cria-se fôlego com as ficções e eu escrevo esse texto no bloco de notas, na secura e aridez que é o bloco de notas, o aplicativo mais sincero do computador.


Não há como escrever a primavera não há como escrever a manhã de novembro nem a incidência do sol na minha janela nem os sons da rua.

panela de pressão chic chic chic chic chic se espalhando pela casa.

escrever com a xereca nos exige calma e profundidade. não existe coisa mais fálica do que escrever com o eu. a mulher tava lá toda escrevinhada, escrota na mesa e isso não era legal esse papo da escrita gineceu da escrita óvulo

na nossa era de pós-pornô, pós-queer é preciso afirmar e louvar a escrita trans, aquela escrita camaleônica e masturbativa

Só a escrita trans poderá salvar a literatura confessional e de quebra toda a escrita realista de seu beco sem saída.


Só a escrita trans arrombará os portões da república e assassinará de vez Platão.


sábado, outubro 22, 2011

A mentira de um prenúncio

Que haverá então na mão do poeta quando ele se dedica a escrever?


Há muito tempo já não habita mais em mim o fantasma da poesia

não era assim? justamente assim que a gente tinha decorado antes de partir?


eu na minha singela opinião prefiro pensar em maturação, algo entre a fermentação e a germinação


então ficou combinado assim:

eu tinha que ficar na casa esperando o pessoal de fora chegar.

arrumando as caixas.

***********************************************

o pássaro de fogo que passou tão rápido disse da linguagem coisas sérias e que tem coisas que a gente não conta.

domingo, junho 19, 2011

esboço do projeto de pesquisa

Fragmentos dos fragmentos. Esboço.

É preciso ir até o fundo.

Um projeto de vida não um projeto de mestrado, doutorado ou coisa que o valha.

Orientador caçador de mim a qualificação não escolhe hora nem data para começar.

A Marrom como objeto de estudo. A Marrom como veículo para a mensagem.

Releitura do "senhor fazei de mim um instrumento de vossa voz". Ela falando por ela mesma os seus fragmentos.

Alcione fragmentada em três tipos ideais que se complementam, contradizem e se explicam.

Ela é una. Uma totalidade só. O que separa as três Alciones é uma lacuna paraláctica. Para melhor vê-las e entendê-las é preciso um exercício constante de crítica.

A crítica.

domingo, fevereiro 13, 2011

Arvorezinha

Era tão legal aquela hora da tarde né? Que os grilinhos ficavam falando no nosso ouvido coisinha boa e a gente ficava tão afetada né? Parecia era duas bichas balançando assim na rede, vendo a tarde cair, ficar cantando que nem bobo olhando o pôr do sol como se não houvesse trabalho nos esperando para depois mais tarde e uma vontade louca de pegar um ônibus e ir com você pra cidade mais próxima, já lá perto daquele lugar que a gente pensava que ia viver, tinha uma sala com chão rachado mas era lindo, uma rachadura mínima naquele piso meio colorido, pedra fria, porta de madeira velha, cheiro de velho em todo lugar de madeira boa, de madeira antiga. E o banheiro então?! Ah, vontade que aquela casa tivesse uma sombra de uma mangueira ou um flamboyant. Já imaginava a casa nas sombras de verão se a árvore fosse de manga ia ter é manga pra todos os lados, suas folhas secas, suco de manga, sacolé de manga, sorvete de manga entupindo o congelador e aquele aroma por toda a casa nos janeiros que dão manga. E um flamboyant? Ah, um flamboyant deixaria cair suas micro folhinhas todas pequenininhas, galinhos finos tronco grosso com limo já. O flamboyant encarnado vermelho vivo, explodindo assim num dezembro só de céu azulado e você debaixo daquele vermelho doido dele olhando pra mim sorrindo sorriso cheio de sacanagem mancomunado com o Flamboyant cúmplice de nossas perversões e tinha que ter miquinhos, sim miquinhos berrando nas manhãs assoviando abrindo boquinhas com filhotinhos nas costas comendo banana que a gente ia botar pra eles banana pretinha banana velhinha que a gente sempre esquecia de comer banana bananinha amassadinha