terça-feira, janeiro 02, 2007

e o que restava era seguir em frente

Faça do melhor verão que existir todo o seu passado inventado!
O teu passado inventado!
O teu amigo inventado!
A tua certeza inventada!
A tua música inventada!
A tua amiga inventada!

Mande-a cantar aquela canção, aquela que fala sobre andar pelo mundo
Depois lembre-se que você está em um dia qualquer de dezembro
Esperando o ônibus que te levará para o trabalho
E a temperatura ficará acima dos trinta graus durante todo o dia
Quando sair do trabalho, lembre-se de ter a certeza de alguém que te ama
E invente também um amor para você
E talvez um guarda-chuva, pois já a chuva se avizinha e você sabe como é...
Quando chove muito assim o seu tênis fica encharcado...
Mas, tenha em mente que um imenso fim de verão se aproxima
E quando Abril chegar... Ah quando Abril chegar, terei os meus filmes e desejos realizados
Diretamente de uma tarde feita de sono e música
Como uma paixão feita de palavras e olhares

É uma grande decisão que tens que tomar nessa cidade chamada desespero
E desconfiança
E fingimento

E invente o melhor dos bons dias para os visinhos
Invente o melhor estou bem para a sua família

Mas não invente para si mesmo um não ligo
Pois aquilo doía tal e qual fogo ardente
E não invente um salvo-conduto para as tuas faltas
Pois ela não tem culpa de te ter assim
E você tem, tem muita, por ter um dia escolhido
Viver dessa forma... Ninguém te pediu essa rebeldia descabida

Agora chora, chora como na música do Cartola
E ouça o que eu vou cantar desafinadamente
Porque toda uma vida assim não seria desespero a toa

Silêncio... são duas horas da manhã e feche os livros!
Amanhã tens que provar para si mesmo que você está vivendo
E não és mais aquele palhaço que queriam que fosses

Vais descer as ladeiras embalado pela bateria
E depois descobrir que o tempo é algo que realmente destrói tudo
Quando vires, já estarás a brincar no meio do ano
Com diferentes canções e diferentes pensamentos

Mas por dentro, por dentro estará sempre a viver naqueles dias
Naqueles dias....

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não há prejuízo em lamentar os sonhos
em manhãs de domingo
não há presunção em querer relembrar
um reino antigo que de tão novo
nos convencia de sua ancestralidade
aquela seria a pior das constatações
verborragicamente ficaste preso ás convenções
da melhor forma de se escrever
e de se portar
de se importar
meu amor, estou agora no verão
mas quando outra estação chegar que não essa
voltarei para a nossa casa
e direi em teu ouvido:
foi este o tamanho da tua presunção?
ousaste a toa por nós dois?
que não merecemos nada nada mais
as árvores agora estão com as folhas verdes
e continuarão junho a fora
provando que a minha espera por ti
será eterna
não estou em Paris
nem você em qualquer outro lugar
pois você morreu
e este tempo não é mais teu
também o meu tempo é outro
e a música é outra
e a dança é outra
e tudo é outro
e o presente é passado
o passado não existe
o futuro é o presente
sempre passado
tecnicamente pelos especialistas do tempo
Por que não roubamos alguma coisa?
Por que não experimentamos fazer algo errado?
Por que não voltamos há oito anos atrás
E tentamos consertar o que aconteceu...

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Tire do momento a inspiração que você tiver. E a que você não tiver.
Naquela noite ele sonhara com o mar
E ouvia aqueles versos do
‘Sans Toi’
E dizia: TE AMO
Silenciosamente
Foi quando aprendi a te amar

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Se acreditas no inferno é para lá que vou. Lá onde as coisas acontecem
Não vou levantar no juízo final
Direi: voltemos a dormir e a fornicar
E Ele não vai insistir
Ele tem mais o que fazer

O Diabo atenta a todos

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O tempo passa e eu ligo, ligo muito
Envelhecerei e nunca sentirei a plenitude
Amar até o fim
E o resto, continue sendo o resto

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Vou chover em você. Deixo me ver em você.
Deixa-me fazer os meus versinhos
E as minhas rimas piegas
Deixa-me querer inovar dizendo que aquilo é novo
Quando na verdade não é
É mais velho que tudo
Como se tudo que tivesse para ser dito já foi dito.
Êta angústia velha

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meu amor, passaram-se as flores
passou-se o tempo
e tu já és um velho
e eu... talvez o velho dos velhos
ah, como isso há de acabar
tua mão de velhinho enrugada
arranca a margarida do chão
tem terra na tua unha
e tu já és um ancião

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você que ousou ter contato com pessoas normais
você que caminhou pelas noites mal dormidas de seu bairro familiar
você que das noites de sono tirou sustento para todo um dia
você que dos medos interiores fez músicas lindas
você que declamou o que não sentia e escondeu o que sentia
você que dançou calypso em tardes distantes
você que se atreveu a comer o que não era saudável
você que fingiu sentir prazer ao admirar as belezas divinas
você que mentiu para a louca que um dia a discórdia trouxe
você que escondeu todo os erros cometidos
você que não viu o amor se ofertando e acontecendo por toda uma estação
você que evitou o beijo com medo de sentir amor
você que sonhou ter encontrado o amor de sua vida enquanto caminhava embaixo de um sol violento de 18 de novembro
você que se encolheu em teu casaco pequeno com medo de confessar a alegria de um dia com chuva

venha ver o que não aconteceu no esplendor de uma poesia bonita
venha sentir o que poderia ter acontecido no limiar de uma explosão
num momento já
numa possibilidade que já se foi

talvez se naquele dia eu não tivesse consumido meu desejo
todo um ano não se teria concretizado

talvez sempre o talvez
ainda és o mesmo que um dia saiu mais cedo de casa para pegar o ônibus quando ainda era escuro
e escrevera momentos depois que era bonito ver amanhecer dentro do ônibus
e o pouco do raio de sol que te esquentava não bastava para o vento duro que vinha da janela
para as mãos geladas e nuas sem luvas que não encontram outro abrigo a não ser em outra mão gelada fria e sem luva
o amor fraternal era cru e sincero
qual o amor materno e do seio perdido na imensidão cósmica do tempo
mas ao meio dia o sol já era maduro e tu te deixavas envolver pelo sol
só não deixes entardecer
as cinco e meia o holocausto recomeça
e teu nariz gelado te traz pra casa quando já se faz noite
e a cama te espera
e a cama te expulsa para um reino de gelo
e não há cobertor para bochechas

um grito de glória
para o fluxo de consciência que não se interrompe em noites feitas de comidas não comidas
em tardes feitas de livros não lidos
e de declarações fraternas não ditas
e de declarações familiares não ditas
e de declarações de ofensas reprimidas

eu dedico todo um pouco da minha ignorância

você que ouviu aquela canção que só ouve em dias frios
e que no final de dezembro a ouviu e o calor era rei
tentou tapar os ouvidos
mas a música entrou dentro de ti e te trouxe para uma outra época
onde o cheiro da vida é mais sutil e tudo finge se acalmar

você que um dia ofertou um vaso cheio de flores
e que depois tirou uma a uma arrependido de tanto amor
envergonhado de tanta verdade
envergonhado de seu ato continuou numa atitude tão bonitamente infantil
tirou todas as florzinhas uma a uma
e vários copos de cerveja não adiantaram

você assassinou a sinceridade e teve vergonha de ser feliz

você deu descarga
você deu adeus àquela
aquela que foi pra longe
tentava congelar o momento, a manhã de junho de nevoeiro na ponte
e pensar que aquele momento não iria terminar
que a ponte teria a distância infinita e que no aeroporto nunca iria chegar
você se sentiu surpreso pelo frio
e quis voltar e não ver a separação
que o destino nos impõe

e então seu desejo se tornou realidade
e estavas na praia a comer caranguejo
e o sol era de um janeiro preguiçoso e a tarde nunca iria acabar
e os siris afogados na panela tinham suas carnes expostas
para o desespero dos verões
e os trabalhos adiados
e os trabalhos que nunca seriam feitos

e então era tarde demais para voltar atrás

você tinha chegado a vida
e o que restava era seguir em frente