quarta-feira, abril 30, 2008

A Paixão de Abril

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Esclarecimento:

Assim como a idéia de outono é de ronavação, proponho aqui um anti-outono. Não algo como o declínio ou o contrário deste. Não é a idéia das folhas depois de nascidas e gastas que caem. Não, não é nada disso. A idéia do meu Abril tem a ver com um outono arrependido. Com algo que não teve um apogeu para se chegar numa queda. Como algo que nunca aconteceu. Acho que a melhor imagem poética que tenho para essa categoria tão subjetiva são os livros que um dia vi numa biblioteca: eles nunca tinham tido a chance de serem lidos. Foram livros comprados pelo estado há muito tempo e estavam esperando a catalogação numa caixa. Livros novos, nunca folheados, porém com cheiro de velho, amarelados e já com manchas. É essa, é essa a metáfora de um amor nunca acontecido de uma paixão de Abril. Um tipo de tristeza concentrada.

É um outono mesquinho, um anti-outono. Ou uma primavera inchada que morreu sem nunca ter passado por um verão.

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Abril desfalece no meu peito nublado
Recosta sua fraqueza em tão ínfima roda

Abril já não julga mais ninguém
Abril vermelho ainda de raiva
De vida

Abril desfalece no outono aguado

Abril já não sabe de quem é dono

Abril é a incerteza da senilidade que já pede para ir embora

No canto esquerdo havia outra coisa não muito nítida e clara.

Era Sara. (Era verdade que Sara era doente)

Sara foi uma mulher nascida no século passado. E eu tenho uma descrição de sua vida que me foge sempre quando quero escrevê-la. Sara saiu pela primeira vez a conquistar o mundo. Ela tinha uma vontade de mundo do tamanho dela. Não, não sei da sua morte.

Sara me faz lembrar da paixão de Abril. Um Abril platônico. Platonismo maior nunca existiu quando era eu o ser apaixonado a fazer uso do amor. A denúncia constante do eu gosto tanto de você.

Abril já abraça com carinho o meu sentimento mesquinho.


O amor perdido, o amor que não foi, o amor que abortou
Um sentimento cobarde, um sentimento covarde, um sentimento
A vagar o olhar a procura da presença, do abraço, do leve toque, do som


Eu gostava de me agazalhar na tua voz quando sentia frio de vida
E só de ouvi-la eu me sentia confortado, cada som, cada frase era uma carícia plena
Cada silêncio era um lençol que eu despia que eu cobria meu próprio corpo

Que tinha fome do teu olho que eu tanto olhava enquanto falava
A poesia concreta descrita pelo teu olhar fugidio arredio
O pretenso movimento de teus lábios recortados e apressados

As tuas nunca quase falas. As tuas confissões hesitantes.

E sentir frio de vida naquela altura do ano era a mesma coisa que dizer não vá embora fique aqui.
Era se atrever a pensar no seu toque e na sua pele
Era o teu calor que adivinhava no meu sofrimento no meu peso de estômago

Eu, eu levava o mundo
Uma vontade do mundo
Uma paixão inconfessada
No meu estômago

Um par de mãos que tremiam ao pensar no teu toque na tua nuca nas tuas pernas

Eu, eu era um excesso de par de mãos
Que cantavam a melodia do toque de teu olhar :

- Fall in Love -

A proposta estética de uma canção dum Outono apaixonado.

Imersos no amor chegamos a superfície
Trazendo a sua cobertura
Grudada a nós

O Fel
Fel in Love

Que nunca provamos

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