sábado, maio 01, 2010

Terras distantes e estrangeiras

Sábado, primeiro de maio de dois mil e dez

terras distantes e estrangeiras




Talvez os melhores tempos atravessados sobre a terra... Ah, a contemporaneidade, ah palavra vã, ah aquele que discorre a sua filosofia em qualquer cantinho de qualquer lugar.
Eu escrevo sentado aqui dessa terra calma e tranqüila onde o outono já se anuncia pouco a pouco mostrando a sua cara e esfriando qualquer animação minha que tenha a ver com banho nas águas essas de Oxum gringa
Oxum gringa aqui que se veste diferente mas fala talvez pela mesma vogal a mesma língua que São Jorge, São Jorge este que tinha entrado em conluio com São Sebastião e tinha me prometido meses de felicidades eternas e duradouras em cantinho informal da cidade
Mas não estou no Rio de Janeiro e minhas lembranças de lá doem mais quando já faz novembro e o calor é de matar e aqui a solidão dessas duas margens me deixa assim entorpecido me lembrando de tantas outras duas margens
Quando da vez em que apontei horizonte lá no fundo de perder a vista e disse que lá há o outro lado e cantei para mim baixinho que também havia o redentor que lindo
Ao ler então o Rosa e a sua terceira margem fundi a minha cuca e tive vontade de perguntar sobre tudo aquilo que me tirava a calma
Aí fiz análise por um tempo e descobri que sim, isso quer dizer algo mais distante e mais profundo quando um dia
Eu ainda em terras estrangeiras fiquei a gaguejar de frente do meu professor que me ouvia interessado a minha apresentação e minhas idéias sobre os Fragmentos do Barthes
Disse a ele que a melhor forma de falar sobre o livro não é cair em análises ou considerações a respeito e sim juntamente com ele afirmar o discurso do enamorado, suspirando na frente do professor suspirão sincero e bonito e ouvindo dele aprovação da minha idéia que se queria original
Mas não o lance era entregar-se de corpo e alma enquanto havia tempo. Pensar que há muito para se escrever, há muito para se publicar, olhai o exemplo daquele que tinha como sobrenome Soares dizia a voz interior
E então me vestia de armadura para enfrentar o cotidiano e a sua rotina apaixonante ser máquina viver como máquina seguir a vida dessa forma permitindo algumas vezes por mês apaixonar-me com canção, peça de teatro e copinhos de cerveja onde então vislumbrava o futuro brilhante a minha frente pretenso Adonis en train de despir-se completamente no leito de minha amargura
Me convenci que o Brasil sim caminhava para uma maior e mais cínica religiosidade inventei passaportes para carimbar pois em terras de senhor sou exilado convicto
Aí vim a ter aqui nessas terras distantes nem Aruanda nem Uruguai e sim areia de praia que não é branca e com muita gente que não sabe de nada
Assim é muito mais fácil país da Cocanha atrevida sonhando com pintangas e com as noites de Salvador onde fui adolescente e poeta chorando de amor após receber a carta que dizia a verdade final antes pudera eu ter queimado como dizia na canção
Não queimei e li até o fim o amor que se dizia findo e com que misto de vontade e ansiedade recebi aquelas lágrimas que batizei com promessa de cachacinha fortuita passando assim pela Graça por Campo Grande descendo a ladeira da Barra para desembocar-me naquele praia do Porto da Barra mesmo onde não tive pudor em sonhar em ser hippie
Lá chorei e enterrei meu coração com promessa futura de visitas intensas
Nem São Jorge é baiano e fala com sotaque de gringo
Nem São Sebastião me mostrou o amor como era pra ser

Leio Ovídio. Como quem espera uma solução. Safo também. Sofro por Abelardo e Heloísa e brinco de Julieta em frente ao espelho.
Momento vai momento vem eu aqui nesse meu exílio penso em escrever carta assim sincera e longa
Então como mulher de Atenas começo a bordar cartinha sincera que depois desbordo em poesias que guardo em muitas caixinhas
Ainda seguirei o exemplo de Ariadne.

Ou então sim, pararei de sofrer, exorcizando e chutando as macumbas de Eros

Nos meus sonhos mais lindos

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