sexta-feira, outubro 08, 2010

Fading

Gostava mesmo era das tardes em que você se fantasiava de rainha sem reino, chorando as mágoas pelo apartamento, cinismo inconsolável distribuía gargalhadas depois que me assustavam. E eu ao teu lado, na pequenez do meu chá que sorvia cabisbaixo sentia que uma distância estranha, sem nome ainda, crescia entre nós. Era pressentimento desses de pesar na barriga, pesar assim fundo chegando a me fazer sentir de alguma maneira mais apaixonado como qualquer enamorado se enamora por um ser que se esvai. O fading imbatível ressaltava as suas cores, os seus traços e os seus gestos mais secretos que da distância melhor se percebia.


Eu acho que eu tomava chá demais na minha indiferença, nos sábados insípidos em que oferecia ao meu amor o meu ser tão apático e incompreendido. Recuperava assim espécies de chamas antigas, temores de apaixonamentos esquecidos no fundo do baú de músicas esquecidas que afloravam de maneira violenta já logo de manhã. Como se ao tornarmos estranhos um para o outro nos permitiamos o leve e doce apaixonamento.


Ingenuidade minha pensar que tudo aquilo era um mero paradoxo, uma contradição ou algo parecido. Comemorava então os avanços de nossas separações, os primeiros beijos no rosto, os cômodos separados, amigos, planos e gostos. Nos admirávamos assim de longe e melhor nos entendíamos. O dia então que de casa saí foi considerado grande avanço, fase séria de uma relação, suposta estabilidade sonhada. Por quase duas décadas nossa relação esteve assim indo de vento e popa no desconhecido, até que a crise começou num fim de semana no mar, o vento nos seus cabelos encontro casual em baixo de uma amendoeira, sorriso envergonhado num copo de cerveja cumplicidade resgatadas em canções comuns de um antigamente muito antigo como quem olha pela primeira vez o sol a se pôr e diz assim baixinho um segundo eu te amo mais jovem e mais bobo eu me resignei e dei por finda nossa relação, oh a dor que me consumia o peito, oh a dor, não sei como me recuperarei disso, desde então os meus dias tem sido assim de suspiros chorados e cada dia mais envergonhados, de sonhar com o segundo amor, de pegar na sua mão como adolescente de primeira hora, pobre menino preso em tuas armadilhas.

Um comentário:

Isadora P. disse...

Que lindo, Henriquezinho!

Adorei!

Saudades!