terça-feira, outubro 06, 2009

E eu que achava...

E eu achava que nessa cidade não tinha cafés, e eu que achava que nessa língua não tinha o nome daquele lugar pra onde a gente vai quando acha que o mundo é grande demais.
Hoje eu queria fazer o papel daquele que espera. Tinha até o café como cenário. Mas ao invés de maldizer atraso que não existia eu fiquei pensativo com vontade de me calar e escrever bobagens. Recriminei a minha vontade tímida de chorar e a chamei de burguesa. O meu coração, partidão racional deu pra fazer auto-crítica e querer botar altos pingos nos is.
Na dureza do dia a dia pressinto que o Éden vislumbrado talvez seja a imagem que perseguirá a minha existência. Sua busca talvez será um dos grandes sentidos para aquilo que chamam existir. É que as vezes a gente toma consciência das coisas e fica escrevendo essas receitas lúcidas. Serão estes os momentos anti-poéticos por excelência? Talvez sim. Talvez a tímida certeza de pensar estar repetindo-se nas dores, nas lamúrias, nos gemidos e nas palavras. Até nas pequeninas tentativas de absurdo. Esse estágio talvez seja o mais cético, o mais duro de dar a volta. Num repente nos vemos frente a esse desejo tão sincero de esquecer, levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima.
Será a volta por cima a superação de tal estágio? Ou será a volta por cima justamente o manter-se nele? Um correr assustado da porta que temos a nossa frente?
Isso soa por demais chato e pesado. E aquele que escreve um texto chato tenta sempre encontrar desculpas para sua chatice. Tentar encontrar desculpas? Talvez. Talvez as tenha espalhadas por aí, na certeza de que escrever é a auto-ajuda primordial esperada. Talvez não.
O quão perversa é a palavra talvez, o quão cara ela é para mim nesse momento. Me acompanhando, sorrindo a minha frente de tomara que caia, lábios provocantes e mãos adoráveis. Mãos adoráveis que pego, beijo e faço carinho. Faço promessa, reclamo do tempo e da vida. Ela, ela sempre tão fugaz, sempre tão etérea, fantasiada as vezes de certeza me vem grave e solene a pedir desculpas por ter feito algo que desconheço. E me diz verdades, segredos e mistérios ao pé do ouvido, me tira a caneta da mão e me pisca o olho.
Hoje eu queria lamentar-me da minha dureza, da minha sorte. Mas ao meu redor eu vejo a grandeza, espalhadinha e escondidinha. E o sorriso da garçonete é uma muleta, uma bóia que me é oferecida nesse meu naufrágio em minhas falsas lágrimas. Ó cinismo, ó verdade, ó escrita! Quando provar-me-ão vocês que aquele que muito se cobre, aquele que muito enfeita e escreve, muito se desnuda, muito se cala frente a tantas palavras?


Rio.


Alto.

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