quarta-feira, agosto 19, 2009

Confissões de Adolescente

Carinho

Diante do anúncio da sua partida fiquei um pouco triste. Por vários motivos te poderia dizer. Mas é que agora eu me sinto assim tão particular para te dizer realmente. É que naquela época eu não passava de um mero rapaz aposentado pelos meus sonhos. Me lembro perfeitamente o quanto me parecia belo escrever textos que pareciam fim de romances, que pareciam desabafos. E como os escrevia com uma certeza bela! Como o bater dos dedos no teclado me saía lindo, me saía verdadeiro! Aquilo sim era de verdade o auge da minha juventude como homem ou também como cinicamente uns chamam poeta. Foi a partir dos vinte e tanto – ou trinta e pouco? – que comecei a ter vergonha dessa palavra. Senti uma certa suspeita, um certo retorno à adolescência, mas desde aquele momento escrever poeta me parecia muito pesado, me deixava assim com a certeza mais cínica de fraude. Até então ainda não tinha lido um pessoal que viria a dar corpo à essas minhas suspeitas. Foi então que eu resolvi buscar o silêncio maior, uma espécie de religião ao contrário, uma vontade de inventariar os absurdos diários em minha ilha que não passava de um kitnet na Avenida Rio Branco em Niterói.

Mas tua partida no dia de hoje me deixa assim, me deixa assim tão a vontade para pegar no teclado e seguir batendo o meu texto.

Agora fico eu bancando o sério, sem música alguma, tentando adivinhar o horizonte, tentando adivinhar distintos outros lados para o meu corpo que se inquieta.

As chaves continuam lá.

Um comentário:

Ci disse...

As minhas chaves também estão lá. E as vezes eu acho que vão ficar lá pra sempre.