Eu agora sou dado à poesia
Imenso acaso que brotou no meu ego
Eu agora sou assim escravo à toa
Poeta sem olhos
Fiscal de lembranças
Decorando a entrada dos fragmentos
Eu agora sou dado ao jogo das contas de vil metal
Observo olhares bancando o intelectual
Xoxando intensidade
Sendo e não sendo na moral
Agora vou mandando tomar no cu o pão de açúcar
O Cristo
A baía
O outro lado
E as árvores solitárias do aterro com caras de solteirona
Arrependendo-me duas vezes
Limo verso nenhum
Tento gostar de João Cabral
Pra soar chic e legal
Mas verso branco aqui não é nem cinza
Nem preto
Nem de cor nenhum
E meu amor é como Deus
Uma vez inventado é difícil de desinventar
Fica lá mexendo, mexendo e mexendo
E enquanto não consigo pagar o analista
Volto à estética da ingenuidade
Escrevo as coisas mais bonitinhas novamente
Desenhozinho na folha branca entregue a Tia do Jardim
O tempo passa a mão e muito
Vai sarrando sarrando e eu vou me adiantando
Fazendo a egípcia
Cú doce
E falsa timidez
Vou comprando no cartão
Adiantando bolsas
Escolhendo papel de parede
Baixando os últimos lançamentos da mpb bicha velha samambaia gato e solos de jazz que calam fundo
Nas noites de sábado terra de ninguém
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