sábado, dezembro 19, 2009

Escrever com olho olhando

Texto escrito sobre as cinzas. Sobre crônica que se apagou. Para onde foi não sei. Prometo aqui abusar das conjunções e deixar a primeira pessoa em seu devido lugar. Aqui só entra com crachá, roupa social e dramas que valham a pena.
Até segunda ordem
Sou-me.
***

A gente quando escreve com olho olhando escreve assim, escreve bonito e formoso, roupa de chita, maquiagem de moça direita e água de colônia para sair assim caprichada na rua. A gente escreve assim, atento às linhas, atento aos sorrisos esses que podem sair pipocando em cada letrinha, em cada frase em cada páginazinha dessas que vamos encontrando no caminho.
A gente então fica assim, resumido a uma linha somente e nego fica pensando que não, nego fica pensando que o cara cresce na linha, nego tá errado, tá viajando, pois o lance aqui é sumir, é descentrar, é misturar mais e mais num caldo desses aí que não sabemos o nome.
Nego fica pensando que tudo é figura de estilo, fica pensando assim bastante coisa e sai escrevendo por aí. É que nego escreve sem olho olhando. Quando a gente escreve com olho olhando a mentira da literatura como vida cai por terra e fica ainda mais mentirosa. Aí vem gente dos mais variados lugares, dos mais variados cafundós, das mais variadas escolas fica repetindo aquele papo de literatura como vida, de literatura como respiração, de transgressão e blá blá blá. Nego viaja direitinho nessa parte porque não se dá conta de um detalhe crucial de toda a história. A primeira linha. A primeira palavra, a primeira letra que chega no papel já chega com cara de cinismo, com cara de tinhoso, com maquiagem de mulher da vida, com vestido curto, indecência e imoralidade. Já pertence ao demo. Nego não percebe que, como já foi dito, a literatura é o verdadeiro playground do Satã. Nego é burro.

Nenhum comentário: