quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Chronicargenta - Saudades do Bairro de Fátima.

Assim, consumindo-me aos poucos nessa tua tal voracidade eu vou.

Assim, mais ou menos assim, subsidiado por alguns cds gravados da famosa Sylvinha eu fui fazendo promessa e pouco a pouco escalando a gravidade e o tom formal desse verao. Fui fazendo, fui adiantando tudo, varrendo chao, conversando de conversa em conversa de bar em bar desenhando na minha mente o que eu queria mesmo. E o que eu queria mesmo era ter todos os barzinhos ao meu lado, numa mandiga gostosa.

Vivo de regar idealizaçoes no parapeito do meu apartamento. Todo dia acordo lá pelas oito da manha e de baixo do sol já compreensivo de final de fevereiro me espreguiço dizendo bom dia dia. Bom dia linda cidade prometes que vais me tratar bem? E vou saindo assim meio mulher pela rua com um sorriso ostentado, um sorriso sustentado por melodias, um sorriso meio explodindo.

As árvores, como explicá-las, sem sê-las? Como explicá-las?

(Mas chega de saudade, chega de saudade, chegada da saudade)


Maria saiu de casa mais cedo aquele dia. As ruas de Santa Teresa no mês de novembro já amanhecem pegando fogo. Maria completou 45 anos de vida.


Estou terminando meu estágio de certa forma. A partir de agora o mergulho é real. Mas para ser franco e sincero eu temo um pouco o estágio e todo o aprendizado e a organicidade da parada. É que quando eu parti eu tinha escrito a letra de uma música inteirinha na folha, fui escrevendo assim com uma fúria tao compreensiva e no final desenhava cantando cada verso daquela cançao do Belchior.

Mas amor, se eu tivesse agora a faculdade máxima de estar ao teu lado compartilharia contigo a seguinte sentença:

Maria sente falta de uma pessoa.
ADJETIVO ETERNO “PESSOA”.

É que pintou uma pessoa assim de repente assim como quem nao quer nada.

Maria escorregou nos azulejos do Selarom. E falou praquele argentino já carioca que ele tem que tomar cuidado com aquelas tintas.

(Ah, o ser carioca, acordas cedo e na manha de fim de primavera já respiras a urina acumulada das ruas e vais, vais caminhando pela tua Lapa idealizada. No Largo de Sao Francisco a gente sente no fundo o que eu quero dizer. Lá pertinho do Real Gabinete Portugues de leitura o Camoes caolho franze o cenho para tanto mijo tanto mijo tanto mijo. Mijo sagrado.)

CARNAVAL: CHUVA, SUOR, CERVEJA E URINA.

- A gente tem uma boa parte desse século para a gente viver. E enquanto houver sol eu te provarei da verdade daquilo tudo. Acho que meus braços estao abertos para voce, acho que o jeito é ir tocando, ir tocando bem lá pela frente eu vou te fazer uma cançao e peço ao menos que venha ao meu lado para escutá-la pois vai ser muto bonita.

As vezes bate uma onda, um treco estranho, um clique qualquer que eu tenho vontade de sair fazendo a hermenêutica do frio do meu estômago e do meu nervosismo depois de tanto banho de água fria.

Mas aquilo é lindo demais. Lindo, lindo, como voce pode achar que nao é lindo.

Ouça Smokey Robinson and the Miracles cantando a cançao Ooo Baby Baby e voce me entenderá. E voce me entenderá.

Por favor. Assim eu quero que voce faça. As manhas daqui tem me lembrado de uma maneira incrível as manhas do outono do Rio. E isso nao é bom. Já avisei ao Carlos que o outono aqui começa na hora certa, nao tem aquele atraso que até pode tornar as coisas mais gostosas que o Rio tem.

Mas eu estou tao saudosista. Um dia desses topei com o segundo cd da Gal de 1969. Joao me disse que ele é uma pérola bem trabalhada. E a badalaçao em cima dele ainda está por vir. Mas é que... é que tudo aquilo me bateu de uma maneira tao violenta que já na quinta faixa eu tentava uma desculpa para um stop.

(A felicidade, a felicidade, a felicidade)

Minha amiga queria conhecer a capital do meu país e eu disse que sim, claro, por suposto, por que nao, ela ia gostar daquilo tudo e eu contei para ela da vez em que estive por lá faz já bastante tempo mas chovia muito chovia tanto no caminho que a Capital se mostrou novinha em folha para mim e toda a irrealidade dos meus catorze anos se desvelou naquela poesia daquele lugar que eu nao entendi nada nadinha. Em meu deslumbramento ficaram aqueles condomínios de classe média e aquelas áreas de recreaçao gigantesca.

Assim, mais ou menos dessa forma.

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