segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Requiem

Nem que eu caminhasse até o Leblon

Eu me convenceria de que os inocentes de lá são aqueles que morrem as pampas. Morrem as pampas, as ruas do Rio são a minha testemunha, o fim do mundo a gente deixa pra mais tarde, mas deixa mesmo. Uma vez, eu caminhei sozinho do Leblon até a Barra e peregrinei ao extremo, não quero entendimento, quero violação total do teu pudor para comigo em noite sorrateira carioca.

Honey, 1996 vezes te disse que o tempo cheirava a podre, mas de uma podridão tão grande e tão nítida que eu queria era ficar no seu corpo, não me deixe aqui que o outro lado é escuro e frio e nem um pouco iluminado. Até o ano 2000 a gente se casa e faz a festa e se muda definitivamente pra além daquela serra, Arraial do Cabo, Guarapari, Cabo Frio, ou então subimos, subimos, subimos muito, haja barras e outras coisas a mais e pernambucamos pra cima o nosso trajeto para nos refugiarmos, por que não?, na Ilha do Marajó? Onde você ia posar para mim todo dia, com a nudez literária da tua caneta, e a gente viveria mesmo de amor, faríamos o amor da Ilha e viveria de peixe e de outras coisas a mais.

Eu sou mesmo assim, tarado, velho, superficial, otário, todo melado. E te adianto que não adianta mexer ali, tocar naquele ninho de vespa. O que a gente tem que fazer mesmo é borrar da lousa qualquer coisa escrita e começar lavando os pratos do nosso carinho.

Pois então vá, vá com a oração que te merece. Mas se é pra fazer forte a oração vá chamando, vá chamando, vá chamando que assim que se dá.
Estou cheio de abraços não concretizados. Abraços partidos.

Abraço-te no fundo da minha alma.

Mas o melhor era a comprovação da existência. Existindo-me me sinto mais a vontade para te dizer isso.
Para realizar considerações acerca dos dezembros que tantas vezes repeti.


Martes e eu não estou bem. Com muitas ganas de tudo. De ser o mundo, de refazer o mundo. Na tempestade lá fora o aqui é muito tempo no desvario da tempestade. Estarei louca? Não posso curtir o meu estado meu próprio si. É uma pena o esquecimento e que tudo eu posso chamar de plágio.
É por isso que eu vou despregar os bens quereres que você plantou uma vez.
Hace poco tiempo eu cevei o mate perfeito.

Cevar o mate perfeito.

O tempo não encaixa na minha vida. Namoro os livros a distancia. Vejo plasmado neles o meu querer. Sou irremediavelmente mulher. Não me supero. Humano em dobro. Todo ser humano originalmente é mulher. E eu que nunca provarei do sabor de ser homem já o adivinho dentro de tudo.
E eu ainda refazendo o tempo, voltando ao encontro, dançando as danças nunca dançadas. Eu queria ser o meu espelho refletindo a mim mesma. Passo a encarar os objetos. A verdadeira poesia eu fiz neste almoço e comi com muito tempero.

Mexi com gosto a voz da Nara no meu quarto. Aumentei o volume da cozinha e preparei o chimarrão perfeito. Preparei cevando, algo assim, com muito escrúpulo. Quando o sol se põe já é quase dez da noite e eu olho pra mesa cheio de folha e livro e vejo que meus braços existem.
Voltarei a tocar violão. Já o pressinto, já o vejo, já vou dedilhar os acordes que aprendi. São acordes pequenos e humildes mas quem disse que um dia não poderei serestar por aí.
Ser e estar henrique, ser e estar eu, ser e estar eles.

A tragédia silenciosa se abate na minha cidade. No meu mundo.
O resto é coragem. O resto a gente tira. A gente tira e divide por nove. A alegria me contou meu amigo é que vem de brinde.

Depressa! Depressa! Até quando a palavra democracia vai ser levantada por eles?

É só olhar o Rio de Janeiro. E teremos a prova viva, carnavalizada da teoria marxista. Marxista nao. Marxiana. Fica mais chic.



Vem, depressa, vem depressa, pois o Deus está vindo antes, eu quero tudo antes do Deus, eu quero tudo antes dele, eu quero ele, ele mesmo, ele mesmo purinho na sua verdade, para um dia perguntar tudo, se botaste no mundo tanta gente.
Tanta gente. Semana que vem é a minha vez de não ser mais. Eu estou indo embora e não te garanto que volto.

A vida após a morte é uma mentira.

Eu vou ficar aqui fazendo poesia de mentira, cevando mates imperfeitos, carioca da clara niteroiense ressentida, tocando de leve a pele desta cidade, sonhando com Salvador.

Euzinho mesmo fiz o que tava escritinho. Alizinho tava escritinho que um rapazinho ia chegar devagarzinho pelos livrinhos e ia dizer alguma coisinha sobre estar sozinhozinho. Era Guimarães! Era ele, chegando, devastando as bibliotecas ideais, dos planos das idéias, e haja Cecília Meireles pregada na parede, renovação católica.

Eu nunca entendi aquela galera que se converteu ao catolicismo. Coisa esquisita.

O catolicismo que eu conheço não rima com poesia nem com modernismo. Fiquei com a cuca fervendo tentando entender aquela gente. Prefiro alucinógenos e prefiro leituras racio e irracionais.

Semana passada sonhei que estava no Rio. Estava fazendo o que todo mundo faz. Andando na rua. E chovia muito, chovia horrores e depois fazia um sol lindo demais que a tudo secava. Tive tempo de olhar o caju, o cemitério, e passar pela praça quinze, tão alheio ao centro da minha metrópole. Terra estrangeira. Eu não sou em ti. Antes de tudo, me cresci na Gamboa.

Quanto a sua nova casa eu adorei. Uma garrafa só de whisky renderia muitos sofás e com o volume na medida certa teríamos Miles Davis e você recitaria com aquele brilho nos olhos todos os poemas daquela poeta que você me mostrou com um assombro lindo. Relaxo, na medida do possível, fantasio tudo, e já preparo a chave perfeita que abrirá tua porta e te afogará num abraço.

Dou espaço para a sua angústia argentina que já se impacienta em pleno dezembro, sonhando nada mais nada menos que antes de março quando o verão chegar ao fim.
A argentinizaçao do mundo está se completando de uma maneira linda. Assim louvaremos mais a vida e é preciso dar banho de crise em todo mundo.
Ogum é de lei e ta aprendendo espanhol, tirando qualquer nasalização pós-pré-africana.

Vem pra cá que a gente vai ser feliz na medida improvável da minha loucura.

Vai minha tristeza e diz a ele que o ser nao equivale ao estar como te explicar
Diz-lhe numa prece que o regresso é o sofrimento dividido pela realidade.
Sem ele a saudade é melancolia, é nostalgia, é algo do blues, sem açucar preto e branco.

Pois a baía de Guanabara ainda tem peixinhos nadando. E dentro dos meus braços os abraços brotarao assim no teu corpo.


To aflito demais. Já gastei tudo pelo telefone e cortei no meio meu choro. Madonna disse que é muito fácil dizer aquelas três palavrinhas quando se está longe. E é verdade, nunca a usei tanto. Calarei a sua boca em ótimo estilo.

A Maysa cantou a música do The Doors. Você acredita? Fiquei pasmo e não pude ainda escutar o disco que comprei.

Te deixo um beijinho saudável, risinho descontrolado, vontade de comida profunda.

A arte ou El Arte?

Hoje um abraço se partiu de verdade. E eu não pude fazer nada. Sou um homem inautêntico ao extremo. Depois que a gente morre a gente morre.

Era tão fácil quando Deus existia.

Mas assim é melhor.
Desesperadamente, alguém que te queria muito.

Henrique.

Sou verdade. Isso eu te garanto.
Descanse em paz, já já nos alcançamos.

Tudo passa sobre a terra.

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