quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Alcione


Aqui no Centro de Estudos Brasileiros há um acervo fonográfico imenso e de muito boa qualidade. Escolhi para esta segunda-feira de carnaval escutar Alcione cantando a linda canção “sufoco”. Difícil descrever o impacto de tão linda interpretação. Os instrumentos acompanham cada verso, cada súplica, cada queixa da letra da canção.
Paro para pensar na figura de Alcione e como ela atingiu outras proporçoes para mim em terras portenhas. Acompanhando a sua carreira desde o maravilhoso disco de 1977 até os dias atuais, vemos a imposição de uma grande voz da música popular.
Mais interessante ainda é notar as nuances da voz da Alcione. De uma doçura cândida dos 70 até um tom mais grave e ar poderoso característico da Marrom nos dias atuais.

Pensamos no envelhecer, na grandiozidade dos anos que se impõe a cada um. E mais fascinante ainda é procurar a ternura e a beleza de menina em tão grave voz.
A canção “telegrama” de Alcione é paradigmática para mim devido ao seu sucesso e a sua recepção positiva pelas mais variadas camadas da sociedade.

É por essas e por outras que eu considero Alcione como uma das grandes figuras da Música Popular Brasileira.

Também reservo para ela o lugar de Diva-mor da nossa música. Pelo conjunto da obra, sua voz, suas unhas, suas roupas e sua brasilidade incessante.




quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Chronicargenta - Saudades do Bairro de Fátima.

Assim, consumindo-me aos poucos nessa tua tal voracidade eu vou.

Assim, mais ou menos assim, subsidiado por alguns cds gravados da famosa Sylvinha eu fui fazendo promessa e pouco a pouco escalando a gravidade e o tom formal desse verao. Fui fazendo, fui adiantando tudo, varrendo chao, conversando de conversa em conversa de bar em bar desenhando na minha mente o que eu queria mesmo. E o que eu queria mesmo era ter todos os barzinhos ao meu lado, numa mandiga gostosa.

Vivo de regar idealizaçoes no parapeito do meu apartamento. Todo dia acordo lá pelas oito da manha e de baixo do sol já compreensivo de final de fevereiro me espreguiço dizendo bom dia dia. Bom dia linda cidade prometes que vais me tratar bem? E vou saindo assim meio mulher pela rua com um sorriso ostentado, um sorriso sustentado por melodias, um sorriso meio explodindo.

As árvores, como explicá-las, sem sê-las? Como explicá-las?

(Mas chega de saudade, chega de saudade, chegada da saudade)


Maria saiu de casa mais cedo aquele dia. As ruas de Santa Teresa no mês de novembro já amanhecem pegando fogo. Maria completou 45 anos de vida.


Estou terminando meu estágio de certa forma. A partir de agora o mergulho é real. Mas para ser franco e sincero eu temo um pouco o estágio e todo o aprendizado e a organicidade da parada. É que quando eu parti eu tinha escrito a letra de uma música inteirinha na folha, fui escrevendo assim com uma fúria tao compreensiva e no final desenhava cantando cada verso daquela cançao do Belchior.

Mas amor, se eu tivesse agora a faculdade máxima de estar ao teu lado compartilharia contigo a seguinte sentença:

Maria sente falta de uma pessoa.
ADJETIVO ETERNO “PESSOA”.

É que pintou uma pessoa assim de repente assim como quem nao quer nada.

Maria escorregou nos azulejos do Selarom. E falou praquele argentino já carioca que ele tem que tomar cuidado com aquelas tintas.

(Ah, o ser carioca, acordas cedo e na manha de fim de primavera já respiras a urina acumulada das ruas e vais, vais caminhando pela tua Lapa idealizada. No Largo de Sao Francisco a gente sente no fundo o que eu quero dizer. Lá pertinho do Real Gabinete Portugues de leitura o Camoes caolho franze o cenho para tanto mijo tanto mijo tanto mijo. Mijo sagrado.)

CARNAVAL: CHUVA, SUOR, CERVEJA E URINA.

- A gente tem uma boa parte desse século para a gente viver. E enquanto houver sol eu te provarei da verdade daquilo tudo. Acho que meus braços estao abertos para voce, acho que o jeito é ir tocando, ir tocando bem lá pela frente eu vou te fazer uma cançao e peço ao menos que venha ao meu lado para escutá-la pois vai ser muto bonita.

As vezes bate uma onda, um treco estranho, um clique qualquer que eu tenho vontade de sair fazendo a hermenêutica do frio do meu estômago e do meu nervosismo depois de tanto banho de água fria.

Mas aquilo é lindo demais. Lindo, lindo, como voce pode achar que nao é lindo.

Ouça Smokey Robinson and the Miracles cantando a cançao Ooo Baby Baby e voce me entenderá. E voce me entenderá.

Por favor. Assim eu quero que voce faça. As manhas daqui tem me lembrado de uma maneira incrível as manhas do outono do Rio. E isso nao é bom. Já avisei ao Carlos que o outono aqui começa na hora certa, nao tem aquele atraso que até pode tornar as coisas mais gostosas que o Rio tem.

Mas eu estou tao saudosista. Um dia desses topei com o segundo cd da Gal de 1969. Joao me disse que ele é uma pérola bem trabalhada. E a badalaçao em cima dele ainda está por vir. Mas é que... é que tudo aquilo me bateu de uma maneira tao violenta que já na quinta faixa eu tentava uma desculpa para um stop.

(A felicidade, a felicidade, a felicidade)

Minha amiga queria conhecer a capital do meu país e eu disse que sim, claro, por suposto, por que nao, ela ia gostar daquilo tudo e eu contei para ela da vez em que estive por lá faz já bastante tempo mas chovia muito chovia tanto no caminho que a Capital se mostrou novinha em folha para mim e toda a irrealidade dos meus catorze anos se desvelou naquela poesia daquele lugar que eu nao entendi nada nadinha. Em meu deslumbramento ficaram aqueles condomínios de classe média e aquelas áreas de recreaçao gigantesca.

Assim, mais ou menos dessa forma.

terça-feira, fevereiro 17, 2009

Deixa Sangrar

Um dia desses por que não saímos?


As canções de amor continuam tocando e eu vou arrumando o nosso jardim
Vou regando todas as plantinhas que você gosta

É mentira.


Venho confessar a minha alma nestas torpes linhas
Altiva e nova, aspirando a juventude
O pêndulo da razão não me beija mais

Eu sou originário de um Rio de Janeiro idílico
Onde o lirismo é uma farsa gostosa
E as pedras do Arpoador uma linda quimera

As estrelas não me tocam num vago temor
A noite é Rainha e a música também
No traçado de tal boemia invertida observo

Amores que conjugo num pretério inacabado
Paixões violentas como um fio desencapado



Gosto de você de noite, tão sozinha, dançando para mim o reflexo do seu corpo
Gosto de você inventando o luar e cobrindo com ele o seu lindo corpo.
Gosto de seu corpo livre. Das marcas de sol que abraçam a sombra e a extensão de seus seios.

Gosto de você de dia, decidida, inventando cantos por onde passa
Gosto de seu jeito quase lésbico a me conduzir como uma pobre dama ao teu encontro

Tua feminilidade me tranqüiliza. Teu ser mulher me regozija.



Veste a noite, veste
Que a tal fumaça do cigarro já te despiu
Veste o som, veste
Dançando pra mim a sua nudez

Gosto de você assim
Tão muda
E tão nua

Gosto de você de noite
Tão tímida
Tão atrevida


El enamoramiento es demasiado breve como para hacerle perder tiempo com prohibiciones.

Porque son imposibles, porque nos alejan de la rutina.

Huidizo. Huidizo.

En el discurso platónico el amor es uno de los estados de la locura, una especie de enfermedad que, cuando nos acaece, nos hace sentir que tenemos alas y que juntos podemos volar.


Sob o céu de estrelas mornas desabotôo tua camisa na Real Grandeza de uma constelação de garrafas vazias
Teu corpo de verão é um acontecimento e embriagado te visto com meus versos inacabados
Te desnudo em cada palavra e te devoro pelo olhar cheio de muitíssimas intenções.
(sentes as tensões?)
A chave do meu apartamento é o portal que levo no bolso
Subir as escadas contigo é arrombar mil vezes a porta do paraíso

Sob o céu das estrelas me basto

Sob o céu das estrelas curo minha dor de cotovelo.

Sem desvelo

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Requiem

Nem que eu caminhasse até o Leblon

Eu me convenceria de que os inocentes de lá são aqueles que morrem as pampas. Morrem as pampas, as ruas do Rio são a minha testemunha, o fim do mundo a gente deixa pra mais tarde, mas deixa mesmo. Uma vez, eu caminhei sozinho do Leblon até a Barra e peregrinei ao extremo, não quero entendimento, quero violação total do teu pudor para comigo em noite sorrateira carioca.

Honey, 1996 vezes te disse que o tempo cheirava a podre, mas de uma podridão tão grande e tão nítida que eu queria era ficar no seu corpo, não me deixe aqui que o outro lado é escuro e frio e nem um pouco iluminado. Até o ano 2000 a gente se casa e faz a festa e se muda definitivamente pra além daquela serra, Arraial do Cabo, Guarapari, Cabo Frio, ou então subimos, subimos, subimos muito, haja barras e outras coisas a mais e pernambucamos pra cima o nosso trajeto para nos refugiarmos, por que não?, na Ilha do Marajó? Onde você ia posar para mim todo dia, com a nudez literária da tua caneta, e a gente viveria mesmo de amor, faríamos o amor da Ilha e viveria de peixe e de outras coisas a mais.

Eu sou mesmo assim, tarado, velho, superficial, otário, todo melado. E te adianto que não adianta mexer ali, tocar naquele ninho de vespa. O que a gente tem que fazer mesmo é borrar da lousa qualquer coisa escrita e começar lavando os pratos do nosso carinho.

Pois então vá, vá com a oração que te merece. Mas se é pra fazer forte a oração vá chamando, vá chamando, vá chamando que assim que se dá.
Estou cheio de abraços não concretizados. Abraços partidos.

Abraço-te no fundo da minha alma.

Mas o melhor era a comprovação da existência. Existindo-me me sinto mais a vontade para te dizer isso.
Para realizar considerações acerca dos dezembros que tantas vezes repeti.


Martes e eu não estou bem. Com muitas ganas de tudo. De ser o mundo, de refazer o mundo. Na tempestade lá fora o aqui é muito tempo no desvario da tempestade. Estarei louca? Não posso curtir o meu estado meu próprio si. É uma pena o esquecimento e que tudo eu posso chamar de plágio.
É por isso que eu vou despregar os bens quereres que você plantou uma vez.
Hace poco tiempo eu cevei o mate perfeito.

Cevar o mate perfeito.

O tempo não encaixa na minha vida. Namoro os livros a distancia. Vejo plasmado neles o meu querer. Sou irremediavelmente mulher. Não me supero. Humano em dobro. Todo ser humano originalmente é mulher. E eu que nunca provarei do sabor de ser homem já o adivinho dentro de tudo.
E eu ainda refazendo o tempo, voltando ao encontro, dançando as danças nunca dançadas. Eu queria ser o meu espelho refletindo a mim mesma. Passo a encarar os objetos. A verdadeira poesia eu fiz neste almoço e comi com muito tempero.

Mexi com gosto a voz da Nara no meu quarto. Aumentei o volume da cozinha e preparei o chimarrão perfeito. Preparei cevando, algo assim, com muito escrúpulo. Quando o sol se põe já é quase dez da noite e eu olho pra mesa cheio de folha e livro e vejo que meus braços existem.
Voltarei a tocar violão. Já o pressinto, já o vejo, já vou dedilhar os acordes que aprendi. São acordes pequenos e humildes mas quem disse que um dia não poderei serestar por aí.
Ser e estar henrique, ser e estar eu, ser e estar eles.

A tragédia silenciosa se abate na minha cidade. No meu mundo.
O resto é coragem. O resto a gente tira. A gente tira e divide por nove. A alegria me contou meu amigo é que vem de brinde.

Depressa! Depressa! Até quando a palavra democracia vai ser levantada por eles?

É só olhar o Rio de Janeiro. E teremos a prova viva, carnavalizada da teoria marxista. Marxista nao. Marxiana. Fica mais chic.



Vem, depressa, vem depressa, pois o Deus está vindo antes, eu quero tudo antes do Deus, eu quero tudo antes dele, eu quero ele, ele mesmo, ele mesmo purinho na sua verdade, para um dia perguntar tudo, se botaste no mundo tanta gente.
Tanta gente. Semana que vem é a minha vez de não ser mais. Eu estou indo embora e não te garanto que volto.

A vida após a morte é uma mentira.

Eu vou ficar aqui fazendo poesia de mentira, cevando mates imperfeitos, carioca da clara niteroiense ressentida, tocando de leve a pele desta cidade, sonhando com Salvador.

Euzinho mesmo fiz o que tava escritinho. Alizinho tava escritinho que um rapazinho ia chegar devagarzinho pelos livrinhos e ia dizer alguma coisinha sobre estar sozinhozinho. Era Guimarães! Era ele, chegando, devastando as bibliotecas ideais, dos planos das idéias, e haja Cecília Meireles pregada na parede, renovação católica.

Eu nunca entendi aquela galera que se converteu ao catolicismo. Coisa esquisita.

O catolicismo que eu conheço não rima com poesia nem com modernismo. Fiquei com a cuca fervendo tentando entender aquela gente. Prefiro alucinógenos e prefiro leituras racio e irracionais.

Semana passada sonhei que estava no Rio. Estava fazendo o que todo mundo faz. Andando na rua. E chovia muito, chovia horrores e depois fazia um sol lindo demais que a tudo secava. Tive tempo de olhar o caju, o cemitério, e passar pela praça quinze, tão alheio ao centro da minha metrópole. Terra estrangeira. Eu não sou em ti. Antes de tudo, me cresci na Gamboa.

Quanto a sua nova casa eu adorei. Uma garrafa só de whisky renderia muitos sofás e com o volume na medida certa teríamos Miles Davis e você recitaria com aquele brilho nos olhos todos os poemas daquela poeta que você me mostrou com um assombro lindo. Relaxo, na medida do possível, fantasio tudo, e já preparo a chave perfeita que abrirá tua porta e te afogará num abraço.

Dou espaço para a sua angústia argentina que já se impacienta em pleno dezembro, sonhando nada mais nada menos que antes de março quando o verão chegar ao fim.
A argentinizaçao do mundo está se completando de uma maneira linda. Assim louvaremos mais a vida e é preciso dar banho de crise em todo mundo.
Ogum é de lei e ta aprendendo espanhol, tirando qualquer nasalização pós-pré-africana.

Vem pra cá que a gente vai ser feliz na medida improvável da minha loucura.

Vai minha tristeza e diz a ele que o ser nao equivale ao estar como te explicar
Diz-lhe numa prece que o regresso é o sofrimento dividido pela realidade.
Sem ele a saudade é melancolia, é nostalgia, é algo do blues, sem açucar preto e branco.

Pois a baía de Guanabara ainda tem peixinhos nadando. E dentro dos meus braços os abraços brotarao assim no teu corpo.


To aflito demais. Já gastei tudo pelo telefone e cortei no meio meu choro. Madonna disse que é muito fácil dizer aquelas três palavrinhas quando se está longe. E é verdade, nunca a usei tanto. Calarei a sua boca em ótimo estilo.

A Maysa cantou a música do The Doors. Você acredita? Fiquei pasmo e não pude ainda escutar o disco que comprei.

Te deixo um beijinho saudável, risinho descontrolado, vontade de comida profunda.

A arte ou El Arte?

Hoje um abraço se partiu de verdade. E eu não pude fazer nada. Sou um homem inautêntico ao extremo. Depois que a gente morre a gente morre.

Era tão fácil quando Deus existia.

Mas assim é melhor.
Desesperadamente, alguém que te queria muito.

Henrique.

Sou verdade. Isso eu te garanto.
Descanse em paz, já já nos alcançamos.

Tudo passa sobre a terra.

sábado, fevereiro 14, 2009

Missiva

Cláudia

Aquela vez em Copacabana que você bateu com seu carro e me disse que a zona sul era o seu quintal eu fiquei pensando no seu apartamento e em seus livros. Eu sabia que um solinho de piano que fosse e uma bebidinha qualquer nos deixariam prontos para narrarmos a vida e eu no teu colo! E eu no teu colo Cláudia iria ao banheiro e sentiria a chuva sarrando nossas costas enquanto você se aventurava picando uma cebola forasteira para um tira gosto que inauguraria mais um dos nossos domingos outubrinos e seus chavões de anunciação de verão você iria me confessar estar apaixonada por um cara que vendia biscoitos e já tinha lido um trecho da Eneida e gostava sempre de recitar uma parte. Lá, naquele mesmo bar, aquele sujeito tentaria aparecer com cheiro de barba feita e com um pacote daqueles biscoitinhos amanteigados pra você. Lembro que você comeu por dois dias seus biscoitinhos e deu pra ele uma edição bilíngüe da Eneida. Eu sabia que você não gostava daquele livro, mas vibrava por dentro com seu falso entusiasmo e com o seu decote cor azul da cor do mar que deixava escapulir seus peitos que ainda me lembravam peitos colegiais. Aquela vez em Copacabana você me disse que o lance com o cara dos biscoitos era uma experimentação, uma forma de verificação da promessa de vida que você dizia vir junto com seu nascimento. Você cheirou a poesia que a Florbela tinha escrito e num feriado prolongado ninguém atendia na casa do vendedor de biscoitos e você qual vândala ofendida saiu para pegar o ônibus até Olaria na casa dele de chinelos, shorts e pintas a mil que preenchiam seu corpo branco. Tamanha foi a sua dor ao ver o vendedor de biscoito amante da Eneida com outro par de olhos castanhos vestindo camisola roxa sorrindo um sorriso mesquinho de fêmea dominadora. Não sei o que seria de você se eu não estivesse lá pra pegar contigo o ônibus de volta e espremer o sentimento amoroso com suas lágrimas até a Princesa Isabel onde você prometeu reclusão e me deu um estoque de biscoitinhos amanteigados que durou por um bom tempo. Cláudia, o amor é a piada séria que você um dia me contou. E eu não consigo virar ao contrário a sua declaração, tornar a seriedade uma piada, eu não consigo provar a verdade que diz vestir o amor com roupa bonita. Eu precisava ir embora, ir embora , eu precisava sair Cláudia, eu precisava partir com o amor escrito debaixo do braço. Hoje Cláudia, hoje o hoje é uma mentira e eu sei que esse tempo todo eu estive ao teu lado. E não sou eu quem tem seus livros debaixo do braço sobrevoando a imensidão verde da terra. Eu sou seu companheiro e sou você nas horas vagas e aos domingos um terço das minhas lágrimas são tuas, e eu as choro religiosamente. Nesses domingos, naquelas horas desesperadoras de alguma hora da tarde eu sinto o berro surdo do teu silencio e nessas horas eu fico com uma baita vontade de te escrever, mas não consigo escrever nada, nada que comece com um olá Cláudia, tudo bem com você? Escrevo cartas que eu sei que não vou mandar e já a noite alguém me convida para uma conversa e eu esqueço de tudo. Minto o esquecimento. Não enjôo você não menina, acredite. Todos sentimos com pesar a sua decisão. Mas reservamos um espacinho com muitos foguetes e balões para um arraiá que se acenderá com o seu sorriso.

Fique bem. Mesmo que isso não seja possível.

Um beijo.

José.

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Mas se alguém vier com cuíca aqui por esses ares portenhos eu te seguro, te garantizo, que nao responderei por minha persona já tao calejada pelos ares argentinos. Agora, ahorita mesmo eu quero assumir a dinamica de mi portunhol, tao organico, tao forte, irrompendo, na fossilingua das duas linguas tao próximas, tao distantes.
Mas como eu ia dizendo a Argentina é um pedaço do ocidente, é uma gotinha, algo que caiu demais e por aí foi. La Santa locura de los Argentos para mí é uma mentira, é uma fraude. A Argentina argentiníssimamente é um começo de um fim categórico. E eu nao quero aqueles malabares, aquela coisa louca de equilíbrios para enfiaram goela abaixo o tal do gaúcho o Martim Fierro, ou Martin Ferro, sei lá de ficarem enfiando aquele cara goela abaixo numa literatura que querem chamar de latinoamericana. Até porque a Paris sulamericana anda amanhecendo cada vez mais cagada de coco de cachorro e o sotaque vai crescendo pouco a pouco. O sangue dos Araucanos, dos Mapuches, dos Guaranis de todos os outros que aqui viviam assim reflete nesse malabarismo.
Já nao aguento mais, nao me venham falar em Deus na Argentina, pois se ele existir por essas bandas, da forma clássica, ocidental, e sei mais o que, ele para mim será mais um dos invasores, refugiados, e nao importa nada a minha escrita em portgues ou as minhas explicaçoes sobre esse destendimento ou sobre o conflito. Somos de uma identidade quebrada e tudo o mais. Eu acho realmente que se a gente tivesse falando Guarani a gente poderia estar experimentando mais coisas.
O metrô, por exemplo, o metrô é uma prova de que a humanidade avança. Tem progressos apesar de tudo. Nao aquele sujeira de estágios, progresso, ou o papo de religiao, povo escolhido. Digo o progresso da própria humanidade. O subti é uma explicaçao metafísica do caráter humano da gente.
Aí a gente gosta de ficar meio que apertando, tirando pra fora das nossas espinhas esses papos que refletem o bonitinho mas ordinário, o safado, o tudo que pode vir junto quando a gente se compra.
Aí eu programei duas vezes, duas ou mais, uma garrafa somente de uma bebidinha e um sonzinho assim, pode ser qualquer um e um discursozinho e um olharzinho e a gente fica sábado e domingo inteiro no apartamento maldizendo a nossa sorte, acompanhando o tempo o fingindo tudo o que a gente nao quer pensar.
O pior da lucidez é quando ela nos assalta de repente. Eu odeio a lucidez eu nao quero a lucidez eu quero que ela vá para o inferno, eu quero é pegar santo, pegar espírito santo, pegar pomba gira, cigana, seja qual o nome para o estado de extase, embriaguez que corre como uma seta de Santa Teresa ao Buda ao Bêbado na esquina.

Hoje é dia de celebrar. Me voy a tomar mi traguito, Maria Cristina me quiere gobiernar y yo, já puto da vida fiquei assim mandando aquilo tudo pros inferno e os cambaú, vai pros cambaú que eu vou atrás só vou terminar de tirar do fogo o nosso macarrao.

E voce vai continuar aí com seu cofrinho exibindo tamanho culo para os olhos alheios, para o desconcerto do meu corpo talvez vontade de vida que penso levar em mim...

Baixo Ventre. Sempre para o Baixo Ventre.

O meu chacra é o meu baixo ventre.

Dito e feito: já tenho planos. A próxima década vai ter sotaque bahiano, massa real, 2010. Las calles de Salvador me esperam e já se arrumam, se aprumam.
Ah, como é bom ser marinheiro. Da próxima vez te escreverei do Benim, assim, africanamente, chorarei o fim do nosso amor pensando que a África vem depois da América e que o meu fim é ir rodando.

A gente se fala.
Um beijo.