quinta-feira, março 05, 2009

Querido Diário.

Já consigo ouvir a Dalva de Oliveira com um sorriso nostálgico no rosto nas meias noites pseudo-portenhas. Já consigo fazer da luz do abajour lilás promessa futura de vida na reencarnação do agora, já consigo trazer marionetes para a luz do dia e convencer todo mundo da importância do verão.

Vamos ver Maria Bethânia no meu dvd no meu apartamento. Tem uma parte que você vai gostar e vai se lamentar não ter ido aquele show antológico. A gente sai por aí esfregando a nossa boêmia na nossa cara e lavando o nosso rosto todos os dias, portenhamente pós-moderno, convencendo-nos do humano demasiado humano das nossas vidas, convencendo-nos de que estamos rodeados da barbárie de toda a forma e de que somos a gotinha vanguarda da razão principal do Ocidente.

E depois a gente finge que não vê e lamenta a nossa sorte, lamenta a nossa vida, as nossas letras, a nossa arte, num humor meio Facundo a gente sai por aí divagando num castelhano cosmopolita ao extremo a importância das outras nações advogando para o mundo um papel aterrador e opressor.

Eu não queria dizer isso mas serei forçado a confessar que a Argentina é o país mais apto para o pós-modernismo. Sem juízos e considerações contra ao Isso do pós-modernismo lhes adianto que Borges já tinha deixado de ser moderno lá pelos cantos de 25. Mas como a moda era ser moderno, mas como a moda era ser aquilo, seguimos aquela cartilha.
Eu, particularmente, acho que o pós do modernismo é um detalhezinho ínfimo, mas um detalhezinho nem por menos importante. Por isso considero tudo isso na minha prosa alfabética.

Fui completamente bombardeado, impressionado, invadido por um transe literário, comparável as revelações do Saulo que virou Paulo, quando terminei de ler a Rayuela do Julio Cortázar. Livro que quis ler porque era bonito e todo mundo falava dele mas que no final me leu de uma maneira jamais vista que eu já fechei a última página advogando para meio mundo como ele era importante como ele era lindo como ele era um anti-livro. Adoro falar anti-livro sem saber realmente o que vem a ser um anti-livro.

Mudando de conversa, estou reformando o meu português, estudando-o em laboratório, quero moldar a minha forma de falar, com procelas, arrolos, e tudo isso, jogando muito agrotóxico na minha última flor do Lácio, mudando a sua cor, cortando seus espinhos, polindo tudo muito bonitinho. Volveré y seré millones, é isso mesmo o que está gravado no túmulo da Evita naquele cemitério da Recoleta. Impressionante como que no verão aquele lugar se assemelha ao São João Batista. Isso disse um amigo meu e eu a contragosto tive que acatar. Todo aquele romantismo estrangeiro do meu hábito flâneur por aquele cemitério foi por água a baixo com a chegada de dezembro e o seu calor retinto tanto que eu abandonei aquele lugar e deixei para o outono.

Eu não tenho ideia do que se está passando neste momento nos subúrbios de Helsinque.

Pela primeira vez ouvi com atenção a canção Menino do Rio do Caetano. E é linda mesmo. Nem pontinha de saudade do Rio. E sim uma pré-saudade de uma certeza que a minha cidade está uma panela de pressão. E esses tempos, tão inestáveis, tão caretas, tão obscuros, não sei qual tempero, qual sabor vão dar as cabeças da Maré à Cinelândia.

Preciso saber mais sobre a geração Payssandu.
Preciso saber qual é o funk da moda.

"O João, a Maria, construção usada mais frequentemente na região sul e também na cidade do Rio de Janeiro, em oposição a João, Maria, típico da região Norte e Nordeste e, por estranho que possa parecer, de Niterói, apenas do outro lado da ponte, dentro do próprio falar fluminense."
Ao ler isso fiquei surpreendido. Era a primeira vez que vi esse mistério escrito, tratado por outrem em um livro. Fiquei extasiado e fiquei com vontade de saber o porquê. Niterói é um grande enigma para mim também. Niterói é um tema vasto. Confesso que odeio o nacionalismo niteroiense. Pois ele existe. Não o orgulho bairrista adolescente que chega a ser bonitinho quando em forma de piada. Mas sim um bairrismo que chega a ser um nacionalismo. Uma espécie de MV-Niterói, cheio de baluartes da cultura niteroiense. Eu tenho os nomes. Tenho todos aqui comigo e posso dar também um foco de irradiação que há tempos está em decadência. A ponte mudou muita coisa. Tinha que fazer um estudo de história oral sobre isso. Mas isso não tem importância alguma. Cito nomes, livrarias, pontos de encontros, revistas literárias e a afamada academia niteroiense de letras. A qual fui negado e rebaixado e expulso. Na pólis Niteroiense, naquela sujeira positivista adornada por fezes e urinas do nosso povo, vemos a câmara dos vereadores, a biblioteca tantas vezes abandonada e enrabada pelos mais distintos setores. É só ir lá ver os retratos e surpreender-se com tudo aquilo. Fiquei sabendo que ela está fechada para reformas.

O que será do nacinoalismo niteroiense em tempos de século XXI e em tempos de crise?

Perguntas, meu filho, perguntas....

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