terça-feira, outubro 02, 2012

Para que servem os pobres? Carta aberta a Amir Haddad sobre assinatura em manifesto pró-Paes.

 
 
 
 
 
     Em 2007 trabalhei como assistente de produção do projeto Memória do Tá Na Rua. O projeto tinha dentre os seus objetivos levantar o acervo de tão importante e longevo grupo de teatro de rua do Rio de Janeiro. Tive a oportunidade de conhecer você e as pessoas que trabalhavam no coletivo. Acompanhei muitas coisas interessantes sobre o grupo, a cidade e o país em que vivemos. Dentre outras coisas, digitava manuscritos antigos, do final dos anos 1960 até os dias atuais. A ditadura militar e todo o seu horror estavam presentes nas proibições e nas perseguições ao teatro de rua. No final dos anos 80 com a crise econômica pude entender como o Tá Na Rua problematizou questões que são naturalizadas na realidade capitalista em que vivemos. Nos 5 meses que trabalhei com o projeto de memória pude antes de tudo ter uma dimensão histórica do que o grupo que você fundou representa. A memória estava lá, presente, nos avisando que nunca podemos só olhar para o futuro e que temos um passado a que devemos prestar contas. 5 anos depois, em 2012, fiquei bastante horrorizado ao ver o seu nome no manifesto de apoio a reeleição de Eduardo Paes. É claro que você tem todo o direito de fazer isso, pois afinal vivemos numa democracia. Não quero que muitos digam que estou fazendo patrulha ideológica. O que quero aqui é desabafar, dizer que é necessário que cobremos de você e de todos aqueles que assinaram esse infame manifesto uma explicação. Será que os artistas do Tá Na Rua, que são o espírito, alma e corpo do grupo concordam com o fato de seu diretor assinar o manifesto de reeleição de um candidato que possui uma política de privatização do espaço público e que já tem 52 % de intenção de voto, impossibilitando a oportunidade de um segundo turno para a discussão de muitas questões? Que respeito temos com a memória do tá na rua quando vemos a política do atual prefeito em relação aos moradores de rua, os usuários de drogas e as remoções injustas que pululam por toda a cidade? O que diremos dos acordos com as empresas de transporte, a corrupção, a milícia? Vila Autodromo, Providência, Pico do Santa Marta, aldeia indígena do Maracanã, Morro dos Prazeres todos eles têm o direito de ouvir uma explicação sua Amir. Os ratos e urubus que não largaram a sua fantasia também. Quem mudou aqui? Tem cultura, Cultura e Kultura. Cultura não é só feito de edital, meu chapa. Com muita indignação e com muita revolta pela memória do Tá Na Rua, eu, Henrique Monnerat e muitos outros, vivos ou mortos, cobramos uma explicação do senhor, Amir Haddad. Venha pra rua, antes que a rua se privatize e o seu teatro seja o único, afinando direitinho com o coro dos contentes. E aí, vai dar um trabalhão pra reescrever a história do seu grupo.
 
 

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