Frequências vibram, emanam, constelam. Isso porque nos inunda o tempo. Para além da frase "no meu tempo era melhor" ou do "não tenho tempo para isso ou aquilo" nos escorre e nos imerge o tempo.
E foram as águas transbordadas em Aquário que me despertaram para a
consciência de que estávamos molhados.
Imersos na economia
dos elementos, na terra primitiva com seus primeiros oceanos ou na enchente de
Noé. Na memória das águas as palavras
eram tão poucas que saber se confundia com sentir. Neblina, serração, maresia.
O eu e o outro.
O eu e o outro.
O que poderia ter sido e não foi.
Alguém certa vez para pensar o
contemporâneo usou o termo "navegar em águas profundas". Pois sendo o
agora um acúmulo de tantas águas, há em Aquário
muitas memórias, uma desconcertante atemporalidade. Como elas estão
dispostas e oferecidas nas cenas é instigante. Estão cifradas nos figurinos,
nos elementos cênicos, na sonoplastia e nos nomes dos personagens. Nas luzes
que são como ondas que ultrapassam o palco e desaguam num público que não sai
imune ao dilúvio.
Em tempos de espetacularização, sensacionalismos e ódios exacerbados as águas profundas de Aquário trazem consigo algo de antiespetacular em sua execução e concepção. Uma economia e precisão frutos do trabalho de mais de três anos do Comboio de Corda Companhia de Teatro.
No nome das personagens Peixe, a Mãe, o Pai, Seu Filho e Ela há um mínimo denominador comum que opera na chave do elemento e da redução. Não sei se enquanto arquétipos ou essências. Parece estar presente tanto na forma do embranquecimento do Seu Filho quanto na empregada japonesa que atende pelo nome de Ela.